Documentário sobre a crise do capitalismo iguala Obama a Bush
Cannes 2010 apresentou nesta semana, fora de concurso, duas versões para a crise financeira mundial de 2008. Wall Street – Money Never Sleeps, de Oliver Stone, é o filme “for dummies”. Já Inside Job, de Charles Ferguson, é finalmente um documentário econômico para adultos.
Por Amir Labaki, no Valor Econômico
Em seu filme anterior (No End in Sight, 2006), indicado ao Oscar e exibido na abertura do É Tudo Verdade 2007, Ferguson radiografava os erros militares e políticos da primeira fase da ainda corrente guerra no Iraque. O tom sóbrio agora é o mesmo, como estabelece já nas cenas iniciais a narração de Matt Damon. Mais uma vez, não fica pedra sobre pedra.“Foi uma crise completamente evitável”, afirma Ferguson. “De fato, nos 40 anos posteriores às reformas motivadas pela Grande Depressão, os EUA não tiveram uma única crise financeira. Contudo, a progressiva desregulamentação do setor financeiro deste os anos 1980 abriu espaço para uma indústria crescentemente criminosa, cujas ‘inovações trouxeram uma sucessão de crises financeiras”.
Inside Job aponta quatro fatores como essenciais para o desastre: a cultura amoral de um sistema financeiro em busca de ganhos a qualquer custo; o excesso de risco envolvido em novas práticas financeiras desenvolvidos desde a era Reagan; a ênfase na desregulamentação; e a relação promíscua entre a Casa Branca e Wall Street, seja em governos republicanos como democratas, com CEOs de ontem tornando-se os Secretários do Tesouro de hoje e vice-versa.
Ferguson estrutura sua narrativa em cinco partes: Como Chegamos Aqui; A Bolha; Crise; Responsabilidades; e Onde Estamos Agora. Ajudam-lhe a contar a história os depoimentos de 37 protagonistas, testemunhas e analistas da crise, entre os quais Dominique Strauss-Kahn (FMI) e George Soros, Paul Volcker (Federal Reserve, 1979-87) e Christine Lagarde (ministra das Finanças da França), Charles Morris (um dos que previram tudo) e Martin Wolff (Financial Times).
Não menos impressionante, mas nada surpreendente, é a lista dos que se negaram a ser entrevistados: dos que serviram ou ainda servem no setor público, Alain Greenspan (Federal Reserve, 1987-2006), Larry Summers (secretário do Tesouro de Clinton e chefe do Conselho Econômico de Obama), Henry Paulson (secretário do Tesouro, 2006-2009) e seu sucessor Timothy Geithner; do setor privado, bem, são citadas explicitamente as negativas dos representantes do banco de investimentos Goldman & Sachs e de agências de monitoramento de risco como Moody’s, Standard & Poor’s e Fitch.
Inside Job é a crônica de uma crise anunciada. Ferguson deixa claro como foram menosprezados sucessivos alertas, notadamente os publicados pelo analista do FMI Raghuram Rajan, pelo economista Nouriel Roubini e pelo jornalista econômico Allan Sloan (Fortune). Nada de fundamental se fez para deter o que se tornou essencialmente uma gigantesca pirâmide da fortuna. No entretempo, numa das histórias mais surreais do filme, eis um dos membros do conselho do Federal Reserve, Frederic Mishkin, escrevendo por encomenda, às vésperas da quebra da Islândia, um estudo elogiando a solidez de seu sistema financeiro.
O documentário metralha igualmente governos democratas e republicanos. O “maestro” Alain Greenspan, por quase duas décadas quase inatacável, sai com sua imagem severamente queimada. E nem mesmo Barack Obama sai ileso. Ferguson mostra como a ciranda entre a Casa Branca e Wall Street se repetiu na formação do gabinete de Obama, principalmente com a indicação de Geithner para o Tesouro e a volta de Summers como poderoso assessor.
Nenhuma grande distinção é feita entre as atuações do governo Bush e Obama. Um gigantesco band-aid foi aplicado (com dinheiro público), algumas instituições ficaram pelo caminho, milhões perderam suas casas e economias, mas o clima já é de “business as usual”.
Inside Job conclui exigindo uma urgente e mais ativa regulação do sistema financeiro americano e cobrando processos criminais contra os responsáveis. É bom Obama e o Congresso se apressarem. Depois de Michael Moore, Errol Morris e Morgan Spurlock, o documentário americano ganhou com Charles Ferguson seu mais novo e consistente cruzado.
Do realizador Charles Fergunson, chega-nos INSIDE JOB – A VERDADE DA CRISE, o primeiro filme que expõe a verdade acerca da crise económica de 2008. Esta catástrofe, que custou mais de $20 triliões, fez com que milhões de pessoas tenham perdido as suas casas e empregos.
Através de uma pesquisa extensiva e entrevistas com economistas, políticos e jornalistas, INSIDE JOB – A VERDADE DA CRISE, mostra-nos as relações corruptas existentes entre as várias partes da sociedade.
Brilhantemente narrado pelo actor Matt Damon. (read less)
Através de uma pesquisa extensiva e entrevistas com economistas, políticos e jornalistas, INSIDE JOB – A VERDADE DA CRISE, mostra-nos as relações corruptas existentes entre as várias partes da sociedade.
Brilhantemente narrado pelo actor Matt Damon. (read less)
OFFICIAL SELECTION: 2010 Toronto Film Festival
OFFICIAL SELECTION: 2010 Telluride Film Festival
OFFICIAL SELECTION: 2010 New York Film Festival
GloboNews
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