quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Globalização Financeira (Lucro Monetário como Medida de "Eficiência") é SUICÍDIO: Finanças NÃO se refere à PRODUÇÃO. Baseia-se em DIVÍDAS. E quando as Divídas forem IMPAGÁVEIS?

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9. EFICIÊNCIA DE MERCADO VS EFICIÊNCIA TÉCNICA

"O aspecto sinergético da indústria, realizando cada vez mais trabalho com cada vez menos investimento de tempo e de energia por cada unidade de desempenho... nunca foi formalmente contabilizado como um ganho de capital da sociedade sedentária. A eficácia sinérgica de um processo industrial mundialmente integrado é inerentemente muito maior do que o confinado efeito sinérgico de sistemas soberanos operando separadamente. Logo, só uma renúncia mundial das soberanias pode permitir a fundação de um alicerce de alto padrão para toda humanidade." [276]  - R. Buckminster Fuller -

(...)  Deixando a dificuldade das relações sociais de lado, os seres humanos, independentemente de seus costumes sociais tradicionais, estão estritamente vinculados pelas leis naturais que regem a terra, e desviar-se desse alinhamento é o que, invariavelmente, inibe a nossa sustentabilidade, prosperidade e saúde pública. Deveria ser lembrado que os pressupostos fundamentais de nosso sistema socioeconômico atual desenvolveram-se durante períodos de consciência científica substancialmente menores tanto sobre nosso habitat quanto nós mesmos. [281] Muitas das consequências negativas, hoje comuns nas sociedades modernas, simplesmente não existiam no passado, e é esse presente choque de sistemas que está desestabilizando ainda mais e de muitas maneiras o nosso mundo.

Será aqui argumentado que a integridade de qualquer modelo econômico é, na verdade, melhor mensurada pelo quão bem alinhado ele está com as conhecidas leis que regem a natureza. Este conceito de lei natural não é apresentado aqui como algo esotérico ou metafísico, mas como fundamentalmente observável. Embora seja verdade que as leis da natureza são, ao longo do tempo, constantemente refinadas e alteradas em nosso entendimento, certas realidades causais mantiveram-se, e mantêm-se, definitivamente verdadeiras.

Não há dúvida de que o organismo humano tem necessidades específicas de sobrevivência, como a de nutrição, água e ar. Não há dúvida em relação a quais processos ecológicos fundamentais asseguram a estabilidade ambiental do nosso habitat e que devem permanecer sem perturbação em suas relações simbióticas-sinérgicas. [282] 

Também não há discussão de que a psique humana, por mais complexa que seja, apresenta, em média, reações básicas previsíveis a estressores ambientais, e, logo, como reações de violência, depressão, abuso e outras questões comportamentais negativas possam daí resultar. [283]

Essa perspectiva científica, causal ou técnica das relações econômicas reduz todos os fatores relevantes a um quadro de referência e a uma linha de pensamento relacionados à nossa compreensão atual do mundo físico e suas dinâmicas tangíveis naturais. Essa lógica considera a ciência do estudo humano, logo, mais uma vez, a natureza em comum das necessidades humanas e da saúde pública, e combina estas com as regras comprovadas do nosso habitat, com o qual estamos, sinérgica e simbioticamente, conectados. Conjuntamente, um modelo racional de operação econômica partindo "do zero" pode ser generalizado com pouquíssima necessidade dos séculos de estabelecimento da teoria econômica tradicional. [284]

Isso não quer dizer que esses argumentos históricos não possuem valor no que diz respeito à compreensão da evolução cultural, mas sim que, se uma visão de mundo verdadeiramente científica é assumida em relação ao que "funciona" ou "não funciona" na estratégia de eficiência que é exigida pelo jogo de xadrez da sobrevivência humana, há pouca necessidade de uma abstração sobre a referência histórica. Essa visão se situa no cerne da lógica reformista do MZ e será revista, mais uma vez, na parte III deste texto.

O ponto em questão é que esses aspectos praticamente imutáveis da consciência científica quase não são reconhecidos pelo atual modelo econômico dominante. Na verdade, será argumentado que esses dois sistemas não estão apenas dissociados, mas são diametralmente opostos em muitos aspectos; fazendo alusão a realidade de que a economia competitiva de mercado não é realmente "consertável" em seu todo, e, portanto, um novo sistema baseado diretamente nestas realidades da "lei natural" precisa ser construído a partir do zero.

Este ensaio vai examinar e contrastar uma série de considerações "econômicas", tanto do ponto de vista do sistema de mercado (lógica de mercado), quanto da lógica mecanicista ou "técnica". Será expresso como a "eficiência" tem dois significados muito diferentes em cada ponto de vista, argumentando-se que "a eficiência de mercado" [285] é apenas eficiente no que diz respeito a si mesma, em que são usados conjuntos de regras criados pelo homem associados, principalmente, à dinâmica econômica clássica, que facilita o lucro e o crescimento, enquanto a "Eficiência Técnica", que referencia as conhecidas leis da natureza, busca a maneira mais otimizada possível de desenvolvimento industrial, de forma a preservar o habitat, reduzir o desperdício e, finalmente, garantir a saúde pública, baseando-se em entendimentos científicos emergentes. [286]

CONSUMO CÍCLICO E CRESCIMENTO ECONÔMICO
O capitalismo de mercado, em sua operação básica, pode ser generalizado como uma interação entre proprietários, trabalhadores e consumidores. A demanda dos consumidores gera a necessidade de produção pelos proprietários (capitalistas), que, em seguida, empregam trabalhadores para a realização desse ato. Esse ciclo tem origem essencialmente na "demanda" e, portanto, o verdadeiro motor do mercado é o interesse, a capacidade e o ato de todos comprarem no mercado. Todas as recessões e depressões [287] são resultado, em um nível ou outro, de uma diminuição nas vendas. Por isso, a necessidade mais crítica em manter as pessoas empregadas e, portanto, manter a economia em um estado de "estabilidade" ou "crescimento", é o consumo constante e cíclico.

O crescimento econômico, que é geralmente definido como "um aumento da capacidade de uma economia em produzir bens e serviços, em comparação com outro período de tempo" [288], é um interesse constante de qualquer economia nacional de hoje e, consequentemente, da economia global. Muitas táticas macroeconômicas são utilizadas, frequentemente, em épocas de recessão para facilitar empréstimos, produção e consumo, a fim de manter uma economia funcionando em seu nível atual ou, preferencialmente, além dele. [289] O ciclo de negócios, um período de expansão e contração oscilante, tem sido reconhecido como uma característica da economia de mercado, devido à natureza de "disciplina do mercado", ou de correção, o que, segundo os teóricos, é em parte um aumento e diminuição naturais dos sucessos e fracassos nos negócios. [290]

Em suma, a taxa (aumento ou redução) de consumo é o que gera os períodos de crescimento ou contração do ciclo de negócios, tendo, geralmente, a regulação monetária macroeconômica como o que aumenta ou diminui a facilidade de liquidez (normalmente por meio de taxas de juros), com o fim de "gerenciar" as expansões e contrações. Embora a política macroeconômica monetária moderna não seja o tema deste ensaio, é importante ressaltar aqui, como um parêntese, que o respeito recíproco para com ambos os períodos, de expansão e de contração, do ciclo de negócios não existiram, historicamente. Os períodos de expansão monetária (frequentemente via crédito mais barato), que normalmente se correlacionam com períodos de expansão econômica (já que mais moeda é colocada em uso), são saudados pelos cidadãos como sucessos nacionais para a sociedade, enquanto que todas as contrações são vistas como fracassos políticos.

Portanto, sempre houve um interesse dos estabelecimentos políticos (que querem parecer bons) e das principais e influentes instituições do mercado (protegendo os lucros empresariais), em preservar os períodos de expansão pelo maior tempo possível e lutar contra todas as formas de contração. Essa perspectiva é natural do sistema de valores inerente ao capitalismo, pois o "sofrimento" deve ser evitado em todos os momentos, muitas vezes de maneira míope. Nenhuma empresa quer reduzir seu tamanho voluntariamente, nem qualquer partido político quer parecer "mau", mesmo que a teoria econômica tradicional nos diga que esses períodos de contração são "naturais" e deveriam ser permitidos.

O resultado tem sido, em suma, um aumento constante da oferta de dinheiro (ou seja, do poder de compra e do capital) em épocas de recessão, resultando em uma dívida global maciça, tanto pública quanto privada. [291] 

A verdade é que 
todo o dinheiro passa a existir a partir de empréstimos, e cada um desses empréstimos é feito com juros, pois o empréstimo e a taxa de juros acumulada (lucro do banco) devem ser pagos; significando que a própria natureza da criação monetária, por padrão, implica automaticamente um saldo negativo. Existe sempre mais dívida do que dinheiro em circulação. [292]

Então, voltando ao ponto principal que diz respeito à necessidade de demanda e consumo para manter o funcionamento da economia, esse processo de troca com foco geral no crescimento está no coração do contexto de "eficiência" do mercado. Não importa o que esteja sendo produzido ou o seu efeito sobre o estado das relações humanas ou terrenas. Essas são todas, novamente, "externalidades". Como um exemplo concentrado dessa lógica, o mercado de ações, que em si não é nada mais do que o comércio de dinheiro e de seus agora numerosos "derivativos", gera um enorme PIB e um "crescimento" através dos lucros e vendas resultantes. [293]

No entanto, sem dúvida, esse mercado não produz nada de valor tangível ou de suporte à vida. O mercado de ações e as instituições financeiras agora maciçamente poderosas são completamente auxiliares à economia produtiva real. Enquanto muitos argumentam que essas instituições de investimento facilitam os negócios e os empregos pela aplicação de capitais, esse ato, mais uma vez, só é sistemicamente relevante no sistema atual (eficiência de mercado) e totalmente irrelevante em termos de produção real (eficiência técnica).

Em suma, quando se trata de lógica de mercado, quanto mais volume de negócios ou de vendas melhor - e assim é - independentemente se o item vendido é o crédito, rochas, "esperança" ou panquecas. Qualquer poluição, desperdício ou outros malefícios do tipo, são, mais uma vez, "externos". Não há nenhuma consideração pelo papel técnico dos processos reais de produção, das estratégias de distribuição eficientes, da aplicação de projetos ou similares. Assume-se que tais fatores culminem, metafisicamente, no melhor para as pessoas e para o habitat simplesmente porque é isso o que a "mão invisível" [294] do mercado implica.

No entanto, *a crescente revolução "mais com menos"* [295] das ciências industriais criou uma nova realidade, onde o avanço da tecnologia industrial reverteu o padrão de "esforço material cumulativo" no que diz respeito à eficiência. A lógica de que "mais trabalho, mais energia e mais recursos" produzirão resultados proporcionalmente mais eficazes tem sido contestada. Em cada vez mais circunstâncias a redução de energia, mão de obra e materiais para realizar determinadas tarefas tem obtido êxito, dadas as nossas aplicações científicas e técnicas modernas. [296]  (...)

SAIBA MAIS:

9. EFICIÊNCIA DE MERCADO VS EFICIÊNCIA TÉCNICA
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