sábado, 4 de abril de 2020

Economia Saudável em Sociedade Doente = IMPOSSÍVEL

Financial Times- Editorial: 
Vírus revela a fragilidade do contrato social. 
São necessárias reformas radicais para forjar 
uma sociedade que funcione para todos 
- O conselho editorial 
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(...)
Ele faz uma distinção clara entre Empresas e Indústria e refere-se à primeira como funcionando como um veículo de "sabotagem" para a indústria. Ele viu uma completa contradição entre a intenção ética da comunidade em geral em produzir eficientemente e com bons serviços, e as leis de propriedade privada, que tinham o poder de dirigir a indústria para a causa apenas do lucro, reduzindo sua eficiência e intenção. O termo "sabotagem", nesse contexto, foi definido por Veblen como a "retirada consciente de eficiência". [266]
"A planta industrial está cada vez mais operando de forma ociosa ou parcialmente ociosa, operando com sua capacidade produtiva de maneira cada vez mais reduzida. Trabalhadores estão sendo demitidos... E enquanto essas pessoas estão em grande necessidade de todos os tipos de bens e serviços que essas plantas ociosas e operários ociosos estão aptos a produzir. Mas, por razões de conveniência empresarial é impossível deixar essas plantas ociosas e operários ociosos trabalharem - ou seja, por não haver lucro suficiente para os homens de negócios, ou em outras palavras, por não haver renda suficiente para os interesses escusos". [267]
[266] [267] The Engineers and the Price System, Thorstein Veblen, New York, Augustus M. Kelley, 1965 _{Os Engenheiros e o Sistema de Preços}_
Além disso, Veblen, ao contrário da grande maioria das pessoas nos dias atuais que condenam os atos de "corrupção" por razões éticas, não viu nenhum dos problemas de abuso e exploração como uma questão de "moralidade" ou "ética". Viu os problemas como inerentes - construídos sobre a natureza do próprio Capitalismo. Ele afirma: "Não é que esses capitães dos Grandes Negócios cujo dever é administrar esta sabotagem mínima salutar na produção sejam maus. Não é que eles pretendam encurtar a vida humana ou aumentar o desconforto humano, maquinando um aumento de privação entre seus semelhantes... A questão não é saber se esse tráfego com privações é humano, mas se é uma boa gestão empresarial". [268]

No que diz respeito à natureza do governo, a visão de Veblen foi muito clara: o governo, pela sua própria construção política, existia para proteger as estruturas de ordem social e de classes existentes, reforçando as leis de propriedade privada e, por extensão, reforçando a desproporcional classe dominante (no poder). "A legislação, vigilância policial, a administração da justiça, os militares e o serviço diplomático, todos estão principalmente preocupados com as relações de negócios, interesses pecuniários, e eles têm uma preocupação pouco mais que casual com outros interesses humanos", [269], afirmou.

A ideia de democracia também estava profundamente violada pelo poder Capitalista, em sua opinião, quando afirmou que "o governo constitucional é um governo de negócios". [270] Veblen, enquanto consciente do fenômeno do "lobbying" e da "compra" de políticos, comumente visto hoje como uma forma de "corrupção", não via isso como a verdadeira natureza do problema. Em vez disso, o controle do governo por negócios não era uma anomalia - era simplesmente o que o governo tinha manifestado ser desde seu design. [271] Por sua própria natureza, como um meio institucionalizado de controle social, o Governo sempre protegeria os "ricos" contra os "pobres". Uma vez que os "pobres" sempre ultrapassam enormemente em quantidade ​​os "ricos", uma estrutura legal rígida favorecendo os ricos (interesses dos proprietários) teve que existir para manter a separação de classes e intactos os benefício dos interesses capitalistas. [272]
(...)
Hoje em dia, não é o que dá corpo à ideologia capitalista em seus detalhes o mais problemático, mas sim, o que ela omite, por extensão. Assim como religiões primitivas viram o mundo como sendo plano e tiveram que ajustar sua retórica, uma vez que foi comprovado ser redondo, pela ciência, a tradição da economia de mercado é confrontada com desafios similares. Considerando a simplicidade das abordagens agrárias e, por fim, primitivas para a produção industrial, houve pouca conscientização ou uma necessária preocupação com as possíveis consequências negativas ao longo do tempo, não só em nível do habitat (ecológico), mas também em nível humano (saúde pública).
Da mesma forma, o sistema de mercado, com suas suposições muito antigas acerca das possibilidades, também ignora (ou até mesmo confronta) os avanços poderosos na ciência e tecnologia, que expressam capacidade para resolver problemas e criar uma elevada prosperidade. De fato, como será explorado no ensaio "Eficiência de Mercado vs. Eficiência Técnica", tais ações progressistas e de um reconhecimento da harmonia em relação ao habitat e ao bem-estar humano revelam que Capitalismo de "Livre Mercado", literalmente, não faculta essas soluções, já que em sua própria mecânica padrão dispensa ou funciona contra tais possibilidades.
*De um modo geral, a resolução de problemas e, consequentemente, o aumento da eficiência é, em muitos aspectos, um anátema para a operação do mercado. A solução dos problemas em geral significa o fim da capacidade de obter renda a partir da "manutenção" desses problemas. Melhor eficiência quase sempre significa uma redução na necessidade de trabalho e de energia e, ao mesmo tempo em que isso possa parecer positivo em relação à verdadeira eficiência do planeta, também, muitas vezes, significa uma perda em postos de trabalho e redução da circulação monetária devido a sua aplicação.* [274]

É aqui onde o modelo capitalista começa a tomar o papel de um agente social patogênico, e não apenas no que diz respeito ao que ignora, inviabiliza ou evita devido a sua própria estrutura, mas também em relação ao que reforça e perpetua. Se voltarmos à declaração de Locke sobre como a natureza do dinheiro, com o consentimento tácito da comunidade, era essencialmente a de servir a comunidade em si mesma, é fácil notar como esse simples "meio de troca" evoluiu até sua forma sociológica atual, em que toda a base do mercado funciona, na verdade, não com a intenção de criar e ajudar a sobrevivência, saúde e prosperidade humanas, mas, agora, apenas para facilitar o ato de lucrar e o lucro, somente. Adam Smith nunca teria previsto que, nos dias de hoje, os campos mais lucrativos e compensatórios não seriam a produção de bens para a melhoria ou suporte da vida, mas sim, o ato de movimentar o dinheiro - daí o "trabalho" das instituições financeiras como os bancos, "Wall Street" e as empresas de investimento - empresas que literalmente criam nada, no entanto, possuem imensa riqueza e influência.

Hoje, a única real Teoria de Valor vigente é a que poderia ser chamada de "Sequência Monetária de Valor". [275] O dinheiro tem assumido vida própria no que diz respeito à reforçada psicologia de sua circulação. Não possui nenhum propósito definido diretamente, apenas o de gerar mais dinheiro a partir de menos dinheiro (investimento). Esse fenômeno de "dinheiro gerando dinheiro" não só criou um distúrbio no sistema de valor, em que esse interesse em ganho monetário supera tudo o mais, tornando secundárias e "externas" ao foco da economia as questões ambientais e de saúde pública verdadeiramente relevantes, mas sua propensão constante em "multiplicar" e "expandir" possui, realmente, um aspecto canceroso - essa ideia de "crescimento" necessário, ao invés de um estado de equilíbrio estacionário - e continua o seu efeito patológico em diferentes níveis.
(...)
Muitos dos libertários, Laissez-faire, da Escola Austríaca, de Chicago e outras ramificações neoclássicas, constantemente tendem a falar sobre como "a Interferência do Estado" é o problema hoje, como ter políticas de importação / exportação protecionistas ou o favorecimento de certas indústrias pelo Estado. Supõe-se que de alguma forma o mercado pode ser "livre" para operar sem a manifestação de monopólio ou das "corrupções" inerentes ao que hoje consideramos "capitalismo de compadrio", apesar de toda a base da estratégia ser competitiva ou, em termos mais diretos, "em guerra". *Mais uma vez, assumir que o Estado não seria usado como uma ferramenta para a vantagem diferencial - uma ferramenta para o negócio - é um absurdo*.[277]

(...)

No modelo social existente, extraído de uma referência orientada inerentemente pela escassez, xenofobia e racismo, não há tal coisa como a paz ou equilíbrio. Simplesmente não é possível no modelo Capitalista. Da mesma forma, a ilusão de igualdade entre as pessoas, nas sociedades ditas "democráticas", também persiste, assumindo que de alguma forma a igualdade política pode se manifestar fora da explícita desigualdade econômica inerente a este modo de produção e de relações humanas.

*Capítulo 8 - HISTÓRIA DA ECONOMIA:*

_"Acredito que ganância e competição não são resultado de um temperamento humano imutável; cheguei à conclusão de que a ganância e o medo da escassez estão, de fato, sendo continuamente criados e amplificados como resultado direto do tipo de dinheiro que estamos usando...A consequência direta é que temos de lutar uns com os outros para sobreviver." [326]_
- Bernard Lietaer -

Dado o ritmo relativamente lento de mudança do ser humano com relação à evolução biológica, as vastas mudanças sociais que ocorreram ao longo dos últimos 4000 anos de história registrada aconteceram devido à evolução do conhecimento - daí a "evolução cultural". Se desejamos buscar um mecanismo para a evolução cultural, é útil considerar a noção de "meme". [327] Definidos como "uma ideia, comportamento, estilo, ou o uso que se espalha de pessoa para pessoa dentro de uma cultura", memes são considerados análogos sociológicos ou culturais a genes, [328] que são "unidades funcionais (biológicas) que controlam a transmissão e expressão de uma ou mais características".

GENES DO PENSAMENTO

Enquanto os genes basicamente transmitem dados biológicos de pessoa para pessoa através da hereditariedade, memes transmitem dados culturais - ideias - de pessoa para pessoa através da comunicação humana em todas as suas formas.[329] Quando reconhecemos, por exemplo, o poder do avanço tecnológico ao longo do tempo, e como isso mudou drasticamente nosso estilo de vida e valores e continuará a fazê-lo, pode-se visualizar este fenômeno emergente global como uma evolução das ideias, com informações replicantes e mutantes, alterando a cultura conforme o tempo avança.

*Diante disso, poderíamos gestualmente ver o estado mental humano e suas propensões para a ação como um tipo de programa.* Da mesma forma que os genes codificam um conjunto de instruções que, em conjunto com outros genes e o ambiente produzem resultados sequenciais, o processamento de memes pela capacidade intelectual dos seres humanos, em comum acordo, criam padrões de comportamento de uma forma semelhante. Enquanto o "livre arbítrio" é certamente um debate complexo para se ter com relação ao que realmente desencadeia e manifesta as decisões humanas, é fundamentalmente claro que as ideias das pessoas são limitadas pela sua absorção (educação). Se é dado pouco conhecimento sobre o mundo a uma pessoa, seu processo de decisão será igualmente limitado. [330]

Da mesma maneira que os genes podem sofrer mutações de formas que são prejudiciais ao seu hospedeiro, como o fenômeno do câncer [331], *os memes também podem gerar estruturas mentais que servem de malefícios para o hospedeiro (ou sociedade) no que diz respeito às transmissões ideológicas / sociológicas. É aqui que o termo "distúrbio" é introduzido. O distúrbio é definido como "um transtorno ou anormalidade da função"* [332]. Portanto, quando se trata de operação social, um distúrbio implicaria em enquadramentos ideológicos institucionalizados que estão desalinhados com o sistema governante maior. Em outras palavras, eles são imprecisos no que diz respeito ao contexto em que eles tentam existir, muitas vezes criando desequilíbrio e desestabilização prejudicial.

*Capítulo 10. DISTÚRBIO DO SISTEMA DE VALORES*


Um comentário:

  1. TZM - Uma Nova Forma de Pensar [Grupo, no Facebook, para discutirmos os capítulos do livro]

    Versão, em PDF, da tradução colaborativa do livro “The Zeitgeist Movement Defined: Realizing a new train of thought“, como se encontrava em 17/03/2015. BAIXE AQUI:

    https://www.facebook.com/groups/629135447734709/files

    Obs.: disponibilizo aqui por não estar conseguindo acessar a versão online do site:

    UMA NOVA FORMA DE PENSAR - O MOVIMENTO ZEITGEIST

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