sexta-feira, 29 de dezembro de 2017


BITCOIN E BLOCKCHAIN PARA CRÍTICOS LEIGOS EM ECONOMIA, EM TECNOLOGIA OU EM LAMBADA
Caio Almendra  dez 4 * Recife 

[Claudio Próspero: Um texto instigante para refletirmos sobre criptomoedas. E também sobre Economia e Descentralização]

Nada como o Natal para a gente ter tempo de fazer textão. Então, lá vai o meu sobre "bitcoin'.

Bitcoin é uma das aplicações atuais de uma tecnologia chamada "blockchain'. Blockchain é uma forma de descentralizar o registro de determinadas operações. E, já sai da sala a primeira leva de entediados e perdidos.

Vamos simplificar ao nível "armazém de cidade pequena". Suponhamos que o dono do único armazém em uma cidadezinha, chamado 'Shylock", registre  todas as dívidas que as pessoas fazem com ele em um caderninho.  

Ele decide quando cobra cada uma dessas pessoas, se cobra juros, se vai perdoar mais as dívidas ou se será mais  rígido.

Essas decisões de Shylock interferem em toda a cidade. Se ele comegar a cobrar todas as dívidas, reduzirá a quantidade de dinheiro da cidade, dificultando as pessoas de comprarem coisas uma das outras. Se fizer o movimento inverso, a riqueza circulará mais. 

Como a dívida de um é cobrada pelo outro, como na música 'O Malandro" do Chico Buarque, o maior caderninho de dívidas de uma cidadezinha  influencia toda a sociedade local. Esse poder do caderninho de dívidas é um poder e tanto. E, em escala maior, é chamado de   'política monetária".

O controle sobre o valor da moeda, sobre as taxas de juros, é necessariamente um poder político. Vivemos em um mundo onde há toda uma pretensão de "apolitizar" as coisas. E nada mais falacioso que isso.

Não há "forma técnica" de condução da política monetária. A política monetária nasce de uma decisão política, posteriormente aplicada com técnicas diversas. As técnicas são metrificáveis, discutíveis a partir de objetivos. O direcionamento político originário, não.

Aqui é a seara dos valores, quais grupos sairão prejudicados, quem estamos penalizando e quem estamos beneficiando.

A "isenção" não é uma possibilidade: comprimir o crédito beneficia determinados setores, expandi-los beneficia outros.

Bem, o que é blockchain? Blockchain é uma tecnologia de armazenagem de dados horizontais. Em resumo, ela permite que, ao invés do Shylock registrar em seu caderno quais as operações, todos tenham os próprios cadernos. Os computadores de Fulano, Beltrano e Deltrano registram todas as dívidas que eles possuam. Se Albertano entra no sistema, seu computador  também registra todas as dívidas.

No nosso exemplo do armazém da cidadezinha, ao invés de Shylock registrar todas as dividas, todos mantem livros criptografados com os registros de todas as dividas. Em uma cidade de mil pessoas pedindo fiado a Shylock, todas essas mil pessoas registrariam em seus livros quem deve a quem.

(É, por isso, que surgem diversos estudos sobre os gastos energéticos do bitcoin. Se todas as pessoas tem que registrar todas as operações do bitcoin, significa que todas as pessoas tem um caderno contábil em casa. Se esses cadernos fossem de papel, faltaria celulose no planeta. Ainda bem que eles são digitais mas mesmo o mundo digital tem um custo energético e de materiais, que costuma ser irrisório. Porém... registrar todas as operações financeiras de uma moeda com milhões de usuários em todos os computadores de todos os usuários transforma esse custo de irrisório para insustentável ambientalmente.)

Essa é uma tecnologia fascinante. Ela permite a desconcentração de poder político (e o poder financeiro é uma forma de poder político) das mãos de diversas empresas que realizam registros de informações, como bancos, seguradoras, operadoras de cartão de crédito, mega-varejistas e etc, etc, etc. Vou citar um exemplo óbvio:

Imaginemos um banco, digamos o Shylockbank, que pega emprestado dinheiro de pessoas a 0,5% ao mês, quando a pessoa A deposita na poupança e empresta a 5% ao mês, quando a pessoa B deve no cartão de crédito. O que permite ao banco esse poder exorbitante? Porque a pessoa A não empresta dinheiro para a pessoa B por menos e ambas saem na vantagem? Bem, porque o banco tem o poder exorbitante de ser o local onde se registram as operações financeiras. Registro dessas informações, assim, é um poder e tanto. E blockchain é uma tecnologia que permitiria horizontalizar tal poder.

Dito isso, o que é Bitcoin? Bem, bitcoin é uma moeda privada. E isso não é nada pioneiro: existem moedas privadas circulando aos montes no mundo. Seu vale-refeição é uma moeda privada, ações são moedas privadas, títulos de dívidas são moedas privadas. Qualquer título, a maioria fungíveis, é uma moeda privada. Se C deve a D e D tem o direito de vender a dívida de C para E ou qualquer outra pessoa, está formada uma moeda privada.

Como TODA moeda, as moedas privadas dependem de confiança dos seus usuários. Notem: mesmo as moedas estatais, as oficiais, com curso forçado e etc, dependem da confiança dos usuários. Em diversas situações, algumas presentes em nosso momento histórico, algumas moedas perderam de tal forma a confiança que deixaram de ser utilizáveis. Isso é especialmente comum em guerras: logo após a rendição alemã na Segunda Guerra Mundial, no interregno, não se sabia o que os aliados fariam dos reichsmarks (acabaram substituídos pelos deutchesmarks, ou "marcos alemães"). O resultado foi o fim do uso prático da moeda local, fotos incríveis de pessoas indo comprar pão com um carrinho de mão cheio de dinheiro. O mesmo acontece hoje com o dólar do Zimbabué.

Acontece que moedas privadas tem funcionamento diferente das divisas comuns, elas não tem um estado que busca garantir sua estabilidade. Elas oscilam de acordo com o mercado, logo, os maiores possuidores delas tem um poder político ainda maior que os maiores possuidores de moedas não-privadas. E elas entram em crise, como as crises do koku no japão do século XVII, ou a crise de um certo Antônio, cujos títulos lastreados no lucro de suas caravelas deixaram de ter qualquer valor quando suas caravelas afundaram. Ou a crise de 2008, quando um monte de moeda privada chamadas "CDO"s perderam por completo a confiança e valor e viraram pó, junto com boa parte da economia mundial.

Moedas, portanto, são entes que dependem da confiança da sua usabilidade para serem usáveis. Se olharmos bem, está longe de ser algo mágico. O FB só é usado porque seus usuários tem a expectativa de que seus amigos, familiares e conhecidos usarão o FB. Se, como em um livro do Saramago, todos simultaneamente desistissem de ir ao FB, um último usuário que não foi pego pela magia realista saramaguiana rapidamente notaria que a rede ficou inútil: ele seria o único a falar, completamente sozinho. O mesmo vale telefones, a internet como um todo. Praticamente, todos os produtos massificados hoje dependem, em certo nível, dessa relação social de confiança.

E, até aí, morreu o quico. O bitcoin, hoje, tem a mesma usabilidade das demais moedas, dado que há suficiente pessoas que confiam em seu valor. Até deixar de ter, como aconteceram com os tais CDOs em 2008.

E como saberemos? Bem, toda moeda tem um lastro de fundo. As moedas estatais tem o lastro garantidor do estado. As moedas privadas tem seus próprios lastros. Qual era o lastro dos CDOs? Dívidas imobiliárias norte-americanas. Quando o mercado imobiliário de lá aprofundou sua crise (com o crescimento dos juros daquele país), os CDOs deixaram de ter qualquer lastro e viraram pó.

O Bitcoin não é relacionado com um valor ou dívida concreta. Em parte, o que o lastreia é o próprio uso da tecnologia blockchain enquanto definidora de uma moeda. Isso estava até correndo bem até alguns anos atrás: mais pessoas acreditavam na necessidade de horizontalizar operações financeiras e mais operações eram realizadas. 

Recentemente, houve um descolamento entre o crescimento do valor do bitcoin e o número de operações. Em outras palavras, o valor perdeu-se do lastro. E estamos, portanto, no estágio de "bolha".

E quando elas estouram, levam junto mercados nada ligados a elas mas que parecem estar. Existem criptomoedas com outros lastros. A mais curiosa é a PotCoin, cujo grande representante é o ex-jogador de basquete e eterno desmiolado Dennis Rodman. Ela supre uma necessidade direta: como a maconha nos EUA apenas são legais a nível estadual, os dispensários(locais de venda de maconha medicinal ou recreativa legalizados) não podem fazer operações bancárias. Se fizerem, são enquadráveis pelo FBI como lavadores de dinheiro ou como narcotraficantes. 

Para poder comprar e vender insumos e etc, os dispensários criaram o PotCoin. Em suma, uma criptomoeda que pode comprar qualquer coisa mas que tem lastro em maconha entre os dispensários que a adotaram.

(Rodman foi vender a ideia da PotCoin para a Coreia do Norte (que, devido aos embargos econômicos norte-americanos, sempre foi vanguarda na utilização de criptomoedas), se tornou amigo de Kim Jong Un e, inacreditavelmente, participa do esforço diplomático de distensionamento entre os dois países)

O Bitcoin tomou um bom abalo recente. E aqui vale falar sobre games (já que já falamos sobre maconha). A Valve é uma produtora de jogos digitais que percebeu que o grande filão de mercado não estava em produzir jogos mas em vender a plataforma por onde as pessoas compram os jogos. Daí, ela inventou a Steam, a netflix dos jogos de videogame (na real, o Steam é anterior à netflix e essa denominação é um tanto injusta...). A Steam foi uma das primeiras empresas de grande porte a aceitar bitcoin. A Valve se interessou, lá pelas tantas, em estudar as moedas utilizadas dentro dos jogos de computadores.

Por incrível que pareça, jogar games sem o objetivo de vencer, apenas de acumular moedas virtuais para vender para jogadores preguiçosos movimenta uma quantidade imensa de pessoas. Os adolescentes norte-americanos e europeus valem-se da mesada dos pais para comprar o trabalho de milhares de jogadores de países pobres (em especial, dos asiáticos). Para estudar essas moedas e essa relação, a Valve contratou o economista Yanis Varoufakis, cujas pesquisas envolviam na época teoria dos jogos e natureza das moedas, como consultor. E lá ele ficou, até retornar à Grécia para ocupar cargos políticos.

Recentemente, Varoufakis percebeu a inversão gráfica do bitcoin, o crescimento de valor além do seu lastro. E resolveu contar tratar-se de uma bolha. A Steam conferiu as contas e parou de aceitar bitcoin. O número de transações caiu ainda mais... mas o valor segue subindo. Vai estourar.

Dito isso tudo, o que será dessa iniciativa inteira? Bem, eu acho que vivemos um momento de transformação intensa de nossa sociedade. As frações burguesas que dominaram o século XX estão em processo de substituição no século XXI. Século passado foi o século do banco, petróleo e mídia. As maiores empresas foram produtoras de petróleo, conglomerados de comunicação e bancos. 

Nesse século, essa velha economia será derrubada pelo "Silício", as empresas de cunho digital. Para tanto, elas precisam da capacidade de substituir todas as atividades essenciais realizadas por empresas "tradicionais". 

A primeira substituição foi no setor de consumo, com grandes varejistas perdendo espaço para "marketspaces", como a Amazon. O setor energético não será propriamente substituído mas há uma tendência de pulverização controlada pela tecnologia de redes. A televisão já perdeu espaço frente a internet faz tempo. E faltava o sistema bancário. Esse será o alvo do blockchain.

Nova sociedade? Sim, sem dúvidas. Melhor? Não sabemos. A descentralização, hoje, é uma possibilidade. Mas, o histórico recente é de iniciativas descentralizadoras, como o couchsurfing ou os apps de carona, serem cooptadas por empresas techs e se tornarem tão concentradoras quanto antes. Experimente ser expulso da Uber ou do AirBNB ou da Amazon ou ficar banido do FB. 

Tudo isso nasceu como descentralização e hoje são apenas outra forma de verticalização. Talvez ainda pior, dado que há um monopólio ainda mais intenso, dado a natureza de concentração de confiança que a internet tem. Mas isso é para outro texto. Esse acaba aqui por falta de tempo.






sábado, 25 de novembro de 2017

!!! Energia solar já é mais barata que carvão em vários países.A energia solar pode ser até 95% mais barata que a energia hidrelétrica, segundo especialistas.!!!

(Copiar esta imagem para o MS-Paint para melhor visualização)

Carbono=>Hidrogênio - "É a economia, estúpido" 

10 de junho de 2008 23:44 [Cópia da publicação no final desta [1]]


Energia solar já é mais barata que carvão em vários países. A previsão é que o mesmo aconteça no Brasil e nas demais nações que não possuem grandes reservas de carvão em 2020



  • Bloomberg
  •  
    Em 2016, países como Chile e Emirados Árabes Unidos bateram recordes com negócios para a geração de energia solar por menos de US$ 0,03 por kilowatt-hora, metade da média global da energia gerada por carvão. Agora, a Arábia Saudita, Jordânia e México estão planejando leilões e licitações para este ano com o objetivo de derrubar ainda mais os preços.Quem está aproveitando essa oportunidade são empresas como a italiana Enel, e a irlandesa Mainstream Renewable Power, que ganharam experiência na Europa e agora procuram novos mercados no exterior por causa da redução de subsídios em seus países de origem.
    Desde 2009, os preços da energia solar caíram 62%, com cada parte da cadeia de fornecimento reduzindo custos. Isso ajudou a reduzir os juros dos empréstimos bancários e elevou a capacidade de produção dos fabricantes de equipamentos para níveis recordes. Em 2025, o custo médio global da energia solar poderá ser menor do que o carvão, segundo a Bloomberg New Energy Finance.

    “Esses são os números que estão mudando o jogo, e estão se tornando normais em vários mercados”, diz Adnan Amin, diretor geral da International Renewable Energy Agency, um grupo intergovernamental com sede em Abu Dhabi. “Toda vez que você dobra a capacidade de produção, você reduz o preço em 20%.”
    A evolução tecnológica tem sido crucial no estímulo à indústria, desde o uso de serras diamantadas que cortam melhor as placas solares, até células que geram mais energia com a mesma radiação solar. Outro fator é a economia de escala e ganho de experiência dos fabricantes de equipamentos adquiridos desde que o boom no setor começou há uma década, dando à indústria uma vantagem crescente na competição com os combustíveis fósseis.
    O custo de um sistema fotovoltaico com mais de um megawatt será de 73 centavos de dólar por watt em 2025, comparado com US$ 1,14 hoje, uma queda de 36%, projeta Jenny Chase, chefe de análise em energia solar da New Energy Finance. Isso está em linha com outras previsões, como a GTM Research, que estima que o custo será de 75 centavos de dólar por watt em 2021.

    Efeito Walmart

    A cadeia de suprimento desse setor está experimentando um “efeito Walmart”, com o crescimento de volumes e redução de margens, segundo Sami Khoreibi, fundador e CEO da Enviromena Power Systems, uma empresa de Dubai.

    SAIBA MAIS:
    http://www.gazetadopovo.com.br/economia/energia-e-sustentabilidade/energia-solar-ja-e-mais-barata-que-carvao-em-varios-paises-5ehzfreghouiei46apfvf0h8b

    Energia Termoelétrica. O que é, vantagens e desvantagens, energia termoelétrica no Brasil, resumo, geração de energia.

    O que é

    Energia termoelétrica é aquela gerada a partir da queima de combustíveis fósseis (diesel, carvão mineral, gás natural, gasolina, etc.) realizada nas usinas termoelétricas.

    Vantagens:

    - Em comparação com usinas hidrelétricas, são mais rápidas para se construir, podendo assim suprir carências de energia de forma mais rápida;

    - Podem ser instaladas em locais próximos às regiões de consumo, reduzindo o custo com torres e linhas de transmissão;

    - São alternativas para países que não possuem outros tipos de fontes de energia.

    Desvantagens:

    - Como são usados combustíveis fósseis para queimar e gerar energia, há uma grande liberação de poluentes na atmosfera. Estes poluentes são responsáveis pela geração do efeito estufa e do aumento do aquecimento global. Portanto, este tipo de energia é altamente prejudicial ao meio ambiente.

    - Outra desvantagem é que o custo final deste tipo energia é mais elevado do que a gerada em hidrelétricas, em função do preço dos combustíveis fósseis.


    https://m.suapesquisa.com/energia/energia_termoeletrica.htm


    A energia solar pode ser até 95% mais barata que a energia hidrelétrica, segundo especialistas.!!!

    A projeção do Ministério de Minas e Energia é de que, em 2018, o Brasil apareça na lista dos 20 países com maior geração de energia solar. A proporção de geração solar deve chegar a 1% do total.

    De acordo com a publicação da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), as condições de localização do país são favoráveis para isso.

    “O Brasil está situado numa região com incidência mais vertical dos raios solares. Esta condição favorece elevados índices de irradiação em quase todo o território nacional”, explica o órgão. “A proximidade com a linha do Equador ainda faz com que haja pouca variação na incidência solar ao longo do ano. Dessa forma, mesmo no inverno pode haver bons níveis de irradiação”.

    É mais barato?

    A energia solar pode ser até 95% mais barata que a energia hidrelétrica, segundo especialistas. Entretanto, esta porcentagem pode variar de acordo com o consumo mensal da residência e o sistema de captação da luz solar, por exemplo.

    https://www.vix.com/pt/noticias/537952/energia-solar-e-mais-barata-que-eletrica-brasil-pretende-investir-em-projetos-ate-2018


    Geralmente são utilizadas áreas não adequadas para agricultura. Vide imensas usinas solares em desertos. E consorciadas com pecuária: nova fonte de renda para fazendas de gado,  nos EUA - por enquanto mais 'fazendas eólicas', mas painéis solares podem substituir árvores no sombreamento para o gado, por exemplo. Veja alguns casos:



    A megausina de energia solar encravada no deserto que pretende abastecer a Europa   Kevin Doyle   Da BBC Future

    O micro-ônibus atravessa um enorme planalto em uma estrada recém-pavimentada do deserto de Marrocos. O chão é de terra seca e está cheio de rachaduras.
    Ainda assim, a região não parece tão desolada quanto já foi no passado. Neste ano, ela virou o lar de uma das maiores usinas solares do mundo.
    Centenas de espelhos cruzados, cada um deles maior que um ônibus, estão enfileirados cobrindo 1,4 quilômetro quadrado de deserto, uma área do tamanho de 200 campos de futebol.
    O enorme complexo está em um local ensolarado ao pé da cordilheira do Atlas, a 10 km de Ouarzazate, uma cidade cujo apelido significa "porta do deserto". Com cerca de 330 dias de sol por ano, é o lugar ideal.
    Além de suprir as demandas domésticas de energia, o Marrocos espera um dia poder exportar energia solar à Europa. Essa usina tem o potencial para ajudar a definir o futuro energético da África e do mundo.
    SAIBA MAIS:
    http://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-39696898



    'O vento me dá dinheiro', diz dono de fazenda com torres de energia eólica Rio Grande do Norte é o maior produtor de energia eólica do Brasil. Proprietários de terras ganham até R$ 60 mil por mês com cata-ventos.

    SAIBA MAIS:
    http://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2015/01/o-vento-me-da-dinheiro-diz-dono-de-fazenda-com-torres-de-energia-eolica.html


    Quando o assunto é energia eólica logo vem a imagem do Nordeste brasileiro. Mas a energia proveniente dos ventos pode ser gerada de qualquer parte do país. O Brasil possui ventos de ótima qualidade, acima da média. Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), enquanto o fator de capacidade mundial está de 20 a 30%, o brasileiro passa dos 50%.

    SAIBA MAIS:
    http://crnbio.com.br/regioes-nordeste-e-sul-se-destacam-na-geracao-de-energia-gerada-pelos-ventos/

    http://crnbio.com.br/tag/energia-eolica/

    [1] Carbono=>Hidrogênio - "É a economia, estúpido" 

    06/06/2008 - 16h10 - Atualizado em 06/06/2008 - 17h40

    Preço do petróleo tem maior alta da história em um único dia

    Barril fechou a US$ 138,54, contra US$ 127,79 da véspera.
    Movimento é influenciado pela forte desvalorização do dólar.

    O petróleo encerrou a sessão desta sexta-feira (6/6/2008) cotado a US$ 138,54 o barril, subindo mais de US$ 10 em relação a quinta-feira, alcançando o maior nível de lucro da história em um único dia.

    Especialistas ouvidos pelo G1 divergiram sobre quais são as razões que explicam a alta recorde do petróleo registrada nesta sexta-feira (6) - a maior da história. Segundo eles, entre as causas estariam fatores geopolíticos, relatórios bancários e influências sazonais. No entanto, o consenso é que por trás dos aumentos no preço do barril nos últimos meses está o medo do esgotamento nas reservas naturais do produto.

    http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL592273-9356,00.html

    Compare com o texto abaixo, de 2003

    O texto abaixo é um sumário com algumas idéias extraídas do livro A Economia do Hidrogênio de Jeremy Rifkin.

    Efeitos positivos da migração para uma economia baseada no hidrogênio:

    ---> Reversão dos danos climáticos.

    =====> Motor de combustão interna => CO2 => piora efeito estufa

    =====> Célula combustível H2 => H2O => reduz efeito estufa

    ---> Reversão instabilidade geopolítica por reverter dependência crescente de reservas de petróleo do Oriente Médio.

    ---> Possibilidade de democratização da produção e distribuição de energia se sociedades lutarem pelo conceito de HEW (Rede de Energia do Hidrogênio)

    Alguns investimentos em curso:

    ---> Islândia + Royal Dutch/Shell Group + Daimler-Chrysler + Norsk Hydro estão implementando um plano para tornar a Islândia a primeira economia baseada no hidrogênio do mundo.

    ---> Carros a hidrogênio:

    =====> Daimler-Benz US$350 milhões a partir de 1997 (100 mil unidades até 2010, 1/7 da produção anual). Com a adesão da Ford o investimento foi elevado para mais de US$1 bilhão.

    =====> Toyota e GM esperam ter seus carros a H2 até 2010.

    =====> Soma de investimentos planejados por Nissan, Honda e Mitsubishi chegam a outro US$ 1 Bilhão.

    Disponibilidade geotérmica para produção de eletricidade:

    De acordo com o Departamento de Energia dos EUA, calcula-se que as reservas geotérmicas só nos EUA excedam 70 milhões de quads. Isso é energia potencial suficiente para suprir o consumo humano de eletricidade por centenas de milhares de anos.


    Os dados abaixo buscam demonstrar a necessidade de conversão da matriz de energia. A dúvida é se será feita de forma planejada para evitar crises ou se será uma transição dolorosa para atender interesses econômicos de curto prazo.


    Reservas de petróleo (Bilhões de barris):

    País=====Total reserva==== Processados========% reserva restante

    USA=========[195]=========[169]=========[14%]
    Rússia========[200]=========[121]=========[39%]
    Arábia Saudita==[300]=========[091]=========[70%]

    Estimativa de reserva total do mundo: 1.800 a 2.200 bilhões de barris.

    Valor já consumido: 875 milhões de barris.

    Algumas projeções de demanda:


    ---> Para a China igualar o consumo per capita para ter o padrão de vida dos EUA seriam necessários mais 80 milhões de barris de petróleo por dia – 10 milhões a mais do que toda a produção mundial de 1997.

    ---> Se China e Índia elevarem seu consumo per capita para média da Coréia do Sul consumiriam 119 milhões de barris / dia.

    Isso é quase 50% superior à demanda mundial de 2000.

    Estudos indicam que o pico da produção de petróleo ocorrerá entre 2010 e 2020. Isto é, dentro deste prazo metade das reservas recuperáveis terão sido processadas. Quando a produção global de petróleo atingir seu pico, os preços passarão a sofrer aumentos ininterruptos e contínuos, conforme os países, empresas e indivíduos competirem pela metade remanescente das reservas.

    Metodologia de previsão: Curva de Sino de Hubbert (geofísico da Shell Oil Company que previu declínio da produção de petróleo dos 48 estados do sul norte-americano em 1956 (época de produção recorde)). Pico previsto para entre 1965 e 1970.

    Pico real em 1970, quando produção passou a declínio contínuo. EUA deixaram de ser maior produtor mundial, mudança que ditou muito da geopolítica do globo desde então. A tese de Hubbert afirma que a produção de petróleo começa do zero, eleva-se, atinge o pico quando metade das reservas recuperáveis for processada, e então despenca, numa clássica curva em forma
    de sino.

    A produção per capita de petróleo já atingiu o pico em 1979, estando em declínio contínuo, segundo a British Petroleum. A causa é o aumento da população mais rápido que aumento da produção.

    1930 => 30% do pico (aproximadamente 3,3 barris / ano / pessoa)
    1979 => pico (11,15 barris / ano / pessoa).

    Cálculo, segundo curva de sino:
    2030 => 3,32 barris / ano / pessoa.

    Importância e instabilidade do Oriente Médio.


    Há mais de 40 mil campos petrolíferos conhecidos no mundo, mas 40 campos gigantescos-mais de 5 bilhões de barrisrepresentam mais da metade das reservas do mundo. Vinte e seis desses quarenta campos estão no Golfo Pérsico. Mais importante, enquanto os outros campos gigantes, como os dos EUA e da Rússia, já atingiram o pico e estão em declínio, os campos do Oriente Médio ainda estão subindo a curva.

    A proporção entre reserva e produção (R/P) nos diz muita coisa. A R/P corresponde ao numero de anos que as reserva de petróleo durarão no atual ritmo de produção.

    R/P para EUA ...................... =  10
    R/P para Noruega ................ =  10
    R/P para Canadá .................  =    8
    R/P para Irã ......................... =   53
    R/P para Arábia Saudita ...... =   55
    R/P para Emirados Árabes... =   75
    R/P para Kuwait .................. = 116
    R/P para Iraque .................... = 526 (!)

    Joseph Riva, ex-membro do Serviço de Pesquisas do Congresso dos EUA, adverte: "a expansão planejada na produção petrolífera (...) não chega à metade do que se necessita para atender à demanda de petróleo prevista pela Agência Internacional de Energia para o ano de 2010, mas custará mais de US$ 100 bilhões, além de um adicional de US$ 20 bilhões, destinado a modernizar e expandir as refinarias do Golfo Pérsico e atender à crescente demanda mundial. Um aumento além do planejado custaria ainda mais caro por barril, já que o petróleo remanescente se torna mais difícil de recuperar".

    No centro do Petróleo e do Islã está a Arábia Saudita, dona das maiores reservas do mundo e terra sagrada do Islamismo (santuários de Meca e Medina). Embora alguns zombem da ideia de que Alá tenha conferido tamanha dádiva aos defensores da fé, ninguém se atreveu a rir quando Osama bin Laden conclamou seus seguidores em todo o mundo a reivindicar a sagrada terra saudita, fundar um estado islâmico universal e subir o preço do petróleo para US$ 144 o barril.

    As cifras do petróleo são desconcertantes. A receita de petróleo da OPEP chegara a US$ 340 bilhões por ano após o embargo de 1974. Com a queda do xá do Irã em 1979 e o inicio da guerra Irã-Iraque em 1980, ela chegou a casa dos US$ 438,8 bilhões.

    Apenas seis anos depois, esta receita despencou para menos de US$ 83 bilhões. A renda petrolífera da OPEP continuou baixa desde então. Nos anos de emergência a receita dos governos vinha do petróleo e não dos impostos.

    Nesses países metade dos empregos são públicos. Muitos países do Golfo ofereciam educação pública gratuita até o nível universitário, serviços gratuitos de saúde, moradia subsidiada, apoio e empréstimos a baixos juros para a abertura de empresas e seguridade social para deficientes e idosos. A Arábia Saudita e o Kuwait chegam mesmo a oferecer alimentos subsidiados por meio de cooperativas financiadas pelo governo. A gasolina tem descontos, e serviços públicos como água, eletricidade e telefone são ou gratuitos ou subsidiados.

    Em troca de seus cuidados com o povo, os governos do Golfo esperam lealdade absoluta e inabalável ao Estado. Discórdias políticas, ainda que moderadas não são admitidas. Os governos são geridos por elites hereditárias, deixando pouco espaço para que novas concepções políticas sejam manifestadas ou expressas publicamente.

    Enquanto a receita do petróleo excedeu os gastos governamentais com serviços, as monarquias do Golfo puderam comprar a lealdade e obediência da maioria absoluta de seus súditos. Durante a última década, mais ou menos, as receitas decadentes do petróleo não puderam dar conta dos gastos cumulativos do governo. A crescente dívida pública e o corte progressivo dos serviços tornaram os países da região mais instáveis politicamente do que em qualquer época de sua história e muito mais vulneráveis à insurreição de movimentos fundamentalistas islâmicos.

    Além disso, há uma "explosão demográfica" nessa parte do mundo: 40% da população tem menos de 17 anos. Hoje o desemprego entre as pessoas de dezoito a vinte e cinco anos é em média de 20%, o que constitui uma bomba-relógio política em todos os países. Em curto prazo, enquanto a Rússia e outros produtores fora da OPEP inundarem o mercado com petróleo bruto barato, a renda per capita real provavelmente continuará a cair. Nos países do sul do Golfo, a renda per capita real representa hoje 40% do que era no apogeu da emergência do petróleo, há 20 anos, e deve continuar caindo, criando assim um risco ainda maior de difundir a inquietação social e a revolta política.

    Os árabe-sauditas gostam de dizer: "Meu pai andava de camelo, eu dirijo um carro, meu filho pilota um jato - e o filho dele andará a camelo". Embora um quarto das reservas remanescentes de petróleo esteja na Arábia Saudita, há uma sensação quase fatalista, entre muitos sauditas, de que constituem uma nação vivendo um "tempo emprestado". O uso que os sauditas fizerem deste empréstimo provavelmente determinará o modo como o mundo vai deixar a era do petróleo. 

    Energia nos EUA: um contra ponto.

    O geólogo Walter Youngquist observa que, se quisermos ter uma idéia da quantidade de energia que flui diariamente pela sociedade americana, basta calcular quanto de energia cada individuo tem a  disposição em termos de "pessoas-vapor".

    Partindo do pressuposto de que uma "pessoa-vapor" é igual a 0,25 cavalo-vapor, a 186 watts e a 635 BTU/h. Se o atual consumo de energia nos EUA fosse calculado pelo número de pessoas-vapor necessárias para realizar a mesma quantidade de trabalho, o resultado seria aproximadamente o triplo da população do mundo. Em termos atuais, o consumo de energia do americano médio equivale ao que produziriam cinqüenta e oito escravos trabalhando continuamente vinte e quatro horas por dia. Se "comprássemos a energia contida num barril de petróleo pelo mesmo preço que pagamos pelo trabalho humano (US$ 5 por hora), ele custaria mais de 45 mil dólares", em vez dos 25 dólares atuais.

    As idéias acima são um resumo de parte do conteúdo do livro A Economia do Hidrogênio, de Jeremy Rifkin – M. Books - 2003, cuja leitura eu recomendo para quem desejar ter um entendimento melhor dos acontecimentos e condicionamentos de nossa atual situação.

    O diagrama anexo explora, graficamente, algumas possibilidades para uma Economia do Hidrogênio

    terça-feira, 5 de setembro de 2017

    Porque a prevenção da disrupção, em 2017, é mais difícil do que era quando Christensen formulou o termo.

    Porque a prevenção da disrupção, em 2017, é mais difícil do que era quando Christensen formulou o termo.

    TRADUÇÃO DE:

    https://hbr.org/2017/09/why-preventing-disruption-in-2017-is-harder-than-it-was-when-christensen-coined-the-term

    Todo inverno, meus colegas e eu convidamos os CEOs de algumas das maiores empresas do mundo a se juntarem aos estudantes da Universidade de Stanford. Eles passam uma noite discutindo os desafios da ruptura digital conosco e alguns dos mais brilhantes estudantes de MBA do planeta.

     Invariavelmente, cada CEO que hospedamos reconhece duas verdades: a disrupção digital remodelará sua indústria de uma forma ou de outra e eles devem encontrar uma maneira de abraçar essas mudanças.

    No entanto, apesar do fato de todos os nossos convidados, em nossas 18 sessões (e contando), terem abraçado essas verdades, o resultado médio desses compromissos com a inovação parece ter sido tênue.

    Para o estudante cotidiano da história comercial, isso pode não ser surpreendente. A disrupção é um problema sistêmico: Clayton Christensen esboçou em 1997 por que era tão difícil para qualquer empresa individual desarmar as ameaças disruptivas e abraçar tendências disruptivas. Mas todos os inovadores corporativos com que conversamos sabem disso. Eles leram o livro de Christensen,  The Innovator's Dilemma.



    Resultado de imagem para Christensen,  The Innovator's Dilemma.

    Eles estão enfrentando seus desafios organizacionais de frente - e ainda assim conseguindo pouco.

    Naturalmente, a questão é o porquê. Por que os executivos que fazem tudo o que fazem para atender as recomendações dos teóricos da inovação continuam a apresentar poucos sucessos?

    A resposta pode ser que o dilema do inovador não é mais o único paradoxo emn jogo no gerenciamento da inovação.

    O Antigo Dilema

    Durante o meu tempo com o Fórum de Crescimento e Inovação da Harvard Business School, nos referimos regularmente à disrupção como um problema de contabilidade e design organizacional. Para os gerentes das organizações da era industrial, o resultado de investir em oportunidades disruptivas era vexante.

    Os produtos e serviços perturbadores eram, por definição, mais baratos, de menor qualidade e menor margem. Se você estivesse operando um negócio rentável, com oportunidades de crescimento de uma base de clientes existente, era improvável que você priorizasse a criação de produtos de baixa qualidade para clientes com excesso de serviços, com margens mais baixas.

    Tais investimentos reduzem a sua rentabilidade, não fazem nada para seus clientes mais leais e não conseguem usar suas capacidades técnicas conquistadas. Então, naturalmente, como gerente, você deixa essas inovações para novos participantes.

    Ao longo do tempo, seus produtos e serviços se tornaram melhores e melhores, e esses participantes inovadores evoluíram para o mercado, aumentando lentamente o desempenho. Impulsionados por estruturas de baixa margem e novas arquiteturas tecnológicas que poderiam suportar custos mais baixos, os concorrentes que entraram em sua indústria puderam conquistar cada vez mais partes de mercado - acabando por convencer até seus melhores clientes a abraçar seus produtos e serviços.

    Tal era a natureza da disrupção. Felizmente, para executivos seniores havia uma solução. Se uma organização pudesse isolar uma unidade e focalizá-la exclusivamente no mercado disruptivo, teria a oportunidade de ter sucesso. Os gerentes da nova unidade comercial ou organizacional teriam incentivos semelhantes aos de seus novos concorrentes. Eles começariam com um produto de baixo custo e um mercado engatinhando até, em última análise, canibalizarem os negócios de seus colegas. Não era fácil de fazer, mas era uma boa estratégia.

    Para as empresas com habilidade para operá-lo, funcionou. Empresas como a IBM e a Apple foram capazes de enfrentar mudanças disruptivas em seus mercados, tomando um tal curso, criando equipes e unidades separadas focadas em novas inovações (PCs e smartphones, respectivamente). E todos os líderes industriais que se juntaram a nós em Stanford nos últimos anos tomaram tal curso.

    Mas, apesar da execução digna de livros didáticos, parece que tais manobras já não são suficientes. Porque este desafio de design organizacional está se transformando um problema para os financiadores e acionistas públicos. Um problema em que a solução é menos visível .

    O Paradoxo de hoje

    Para entender o problema que enfrentam nossos líderes seniores hoje, é fundamental entender a natureza de nossos modernos disruptores.

    Quando Christensen conduziu a pesquisa para o Dilema do Inovador, ele analisou as indústrias que eram de alto investimento. O equipamento de construção e a fabricação de unidades de disco requeriam máquinas pesadas, instalações de distribuição e quantidades imensas de capital de giro.

    No mundo de hoje, as ameaças perturbadoras mais pontudas são diferentes. Eles não são donas de muitos  ativos. Eles são leves de ativos. E, embora isso possa parecer atraente para os espectadores desprevenidos, pode ser o beijo da morte para um CEO enfrentando participantes disruptivos. Por quê?

    Os negócios leves de ativos não são financiados com dívidas. Eles são financiados com equidade - em outras palavras, uma participação na empresa. Esse é um recurso que é muito menos dispendioso para as novas empresas, sem histórico que para as empresas estabelecidas com toda a credibilidade do mundo.

    Considere fabricantes de automóveis como Ford, Daimler ou General Motors. Cada empresa tem um negócio central para operar e investidores para agradar. Cada empresa tem que lidar com novos modelos de mobilidade, condução autônoma e a eletrificação da frota.

     E em cada um desses espaços, há concorrentes leves de ativos (como Uber, Cruise, Zoox) que podem obter bilhões em múltiplos de receita 10X-30X - enquanto a Ford, a Daimler e a GM teriam sorte em financiar seus próprios empreendimentos com os mesmos múltiplos em ganhos. Não é um campo de jogo nivelado.

    E as perdas que devem ser absorvidas são surpreendentes. Um estudo feito por meus antigos colegas da Sapphire Ventures demonstrou que a empresa de software intermediária que alcançou uma escala significativa no mercado absorveu mais de 100 milhões de euros em perdas operacionais no caminho da significância . O investidor institucional clamaria por tais perdas? Por enquanto, múltiplas empresas desse tipo estão sendo construídas sobn o manto da transformação.




    Na era precoce do dilema, esse desafio não existia. Quando você podia financiar o crescimento com dívidas, as grandes empresas tinham enormes vantagens se pudessem incentivar os gerentes a abrandar a disrupção (principalmente criando novas unidades de negócios).

    Eles poderiam tomar emprestado contra os ganhos futuros de seus negócios principais e  construir os novos negócios no período intermediário. Os seus credores precificariam o capital para os novos esforços, juntamente com os do núcleo. Seus investidores de capital viam um pequeno impacto. Se uma nova unidade de negócios falhasse, não era geralmente devido a desafios financeiros, mas a organizacionais: a estrutura organizacional errada, a estratégia errada, o talento errado ou uma organização pai aterrorizada com a auto-canibalização e, portanto, não queriam ou não podiam dar, à nova unidade de negócios, a liberdade necessária para ter sucesso.

    Hoje, esse não é o caso: os desafios organizacionais ainda são difíceis de resolver, mas eles não são o principal motivo com o  qual as empresas mais estabelecidas lutam para provocar a própria  disrupção.

    Na maioria dos casos, a criação de uma nova unidade de negócios, mesmo corretamente, deixará os líderes ainda alemados, porque não poderão investir capital a um ritmo semelhante aos seus concorrentes iniciantes. É principalmente um problema financeiro, não organizacional.

    Nos próximos anos, acho que essa realidade se tornará cada vez mais evidente. As empresas que lutam contra os seus disruptores digitais serão criativas não apenas no seu design organizacional, mas também em suas estruturas financeiras e modelos legais. (O recente aumento de capital da WeWork de US $ 500 milhões para uma entidade focada na China - um exemplo perfeito de financiamento de empreendimentos de risco com a ajuda da inovação legal - se tornará mais comum.)

    Com esses novos desafios, uma nova era de exploração e experimentação corporativa será vital para a renovação. Evitar a disrupção nunca é tão fácil quanto seguir um manual. Mas pode ser ainda mais difícil hoje do que era há vinte anos.

    segunda-feira, 4 de setembro de 2017

    5 razões pelas quais a ONU está embarcando na 'Parada Popular do Blockchain'. O aval da ONU é um acelerador na adoção de cripto-moedas?

    ONU adota BlockChain para seus programas: reduzir burocracia e corrupção ao evitar governos e instituições financeiras  na distribuição dos recursos. 
    O aval da ONU é um acelerador na adoção de cripto-moedas?



    5 razões pelas quais a ONU está embarcando na 'Parada Popular do Blockchain' 

    TRADUÇÂO DE:
    https://singularityhub.com/2017/09/03/the-united-nations-and-the-ethereum-blockchain

    No momento em que acordaram em 31 de maio de 2017, 10 mil refugiados sírios estacionados no campo de Azraq, na Jordânia, receberam sua ajuda há muito esperada. Mas em vez dos típicos caminhões brancos e azuis do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PAM), o auxílio veio na forma de vouchers eletrônicos distribuídos por trás de uma tecnologia de rápido crescimento chamada blockchain, especificamente a cadeia de blocos Ethereum.

    Graças ao sucesso ressonante deste empreendimento, várias agências da ONU tomaram conhecimento, levando a afirmações de que a cadeia de blocos não só poderia ser usada para distribuir ajuda a refugiados em todo o mundo, mas também para vários outros fins filantrópicos.

    O que é o Ethereum Blockchain?

    Ethereum é uma cripto-moeda, bem como o Bitcoin, mais popular. As cripto-moedas funcionam em grande parte como moedas tradicionais, mas são inteiramente digitais, altamente criptografadas e podem ser armazenadas e transferidas com dispositivos eletrônicos. Um dos principais pontos de venda é que eles não são controlados por uma autoridade central, como o Banco de Reserva Federal dos EUA, o que significa que o valor da moeda é estritamente limitado ao crescimento logarítmico predefinido e seu valor é inteiramente determinado pela demanda do mercado.

    O risco de inflação ou deflação selvagens é minimizado e a moeda pode ser mais facilmente transferida através das fronteiras - embora isso possa permitir que os criminosos a utilizem, já que as transações financeiras não podem ser rastreados com a facilidade que podem, através do sistema financeiro tradicional, fortemente regulamentado.

    A tecnologia subjacente às cripto-moedas é o blockchain, um livro de registros público que registra todas as transações e usa criptografia de chave privada e rede peer-to-peer para garantir uma distribuição descentralizada segura.

    A ONU explica o blockchain como "um banco de dados distribuído que é continuamente atualizado e verificado por seus usuários. Cada bloco de dados adicionado é "encadeado" e faz parte de uma crescente lista de registros, sob a vigilância dos membros da rede. Essa tecnologia permite a transferência de ativos e a gravação de transações através de um banco de dados seguro ".

    Os esforços de ajuda da ONU têm um problema histórico de fraude, má administração e burocracia, mas com a capacidade de evitar governos e instituições bancárias, transferir ajuda através da cadeia de blocos pode ser muito mais eficiente.

    Isto é especialmente verdadeiro para o Ethereum blockchain. É Turing completo, o que significa que ele tem seu próprio código interno e pode executar qualquer algoritmo com tempo e memória suficientes. Isso o torna mais adaptável, permitindo que ele transfira quase qualquer coisa, não apenas crypto-moedas.

    Como pode ser usado pela ONU?
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    Auxílio de Distribuição

    Como mencionado acima, o Programa Mundial de Alimentos já está usando a cadeia de blocos Ethereum em um programa piloto chamado Building Blocks para distribuir vouchers para alimentos aos refugiados na Jordânia. Há planos para expandir o programa para os refugiados nos outros oitenta países onde o PMA opera.

    Mas este é apenas o começo. Os especialistas estão fazendo um brainstorming para aproveitar a adaptabilidade do Ethereum blockchain.
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    Alterações Climáticas

    Na Conferência das Nações Unidas sobre o Clima em Bona, na Alemanha, em maio passado, o uso da cadeia de blocos Ethereum foi proposto para ajudar a combater a mudança climática. Alexandre Gellert Paris, um funcionário da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, afirmou que "a cadeia de blocos poderia contribuir para um maior envolvimento, transparência e engajamento das partes interessadas e ajudar a trazer confiança e novas soluções inovadoras na luta contra as mudanças climáticas, levando a ações climáticas melhoradas. "

    Mais especificamente, a cadeia de blocos poderia ser usada para facilitar o comércio de ativos de carbono, cujo proprietário tem o direito de emitir uma quantidade predefinida de gases de efeito estufa. As empresas podem comprar e vender esses produtos como qualquer outro bem, e esse mercado pode se beneficiar do aumento da eficiência e transparência da cadeia de blocos Ethereum. Na verdade, a IBM e uma nova organização chamada Energy Blockchain Lab estão atualmente tentando adaptar a cadeia de blocos ao mercado de comércio de carbono da China.

    Além disso, alguns especialistas na Conferência do Clima da ONU sugeriram que o blockchain poderia ser usado para desenvolver plataformas de comércio de energia renovável peer-to-peer, onde governos, empresas e civis poderiam comprar e vender ativos digitais que representassem uma certa quantidade de produção de energia. Eles também propuseram que isso poderia facilitar o crowdfunding para projetos renováveis, bem como melhorar o rastreamento da redução de gases de efeito estufa de acordo com as contribuições nacionalmente determinadas, enunciadas no Acordo de Paris.
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    Identidade

    Atualmente, mais de um bilhão de pessoas não são oficialmente reconhecidas por um governo, o que significa que não podem desfrutar da proteção e dos serviços oferecidos aos cidadãos de um estado, como acesso à educação, assistência médica, votação, capacidade de abrir uma conta bancária, etc. A ONU considera este um dos principais problemas que o mundo enfrenta hoje, levando-a a iniciar medidas para "fornecer identidade jurídica a todos, incluindo registro de nascimento, até 2030." Até agora, isso provou ser mais difícil do que o previsto originalmente.

    Mas a Aliança ID2020 - uma nova organização composta por agências da ONU, organizações sem fins lucrativos, empresas, governos e outras empresas - acreditam que podem atingir esse objetivo através da construção de uma rede de identificação digital tendo por trás a cadeia de blocos Ethereum. Durante a segunda cúpula da organização na sede da ONU em junho passado, a Accenture e a Microsoft apresentaram um protótipo que tornaria a identidade pessoal, persistente, portátil e privada. Ou seja, seria único para uma pessoa, viveria com uma pessoa do nascimento até a morte, seria acessível a partir em qualquer lugar, e só poderia ser distribuída com permissão.
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    Remessas [de dinheiro entre países]

    A ONU estima que cerca de 200 milhões de trabalhadores migrantes enviam dinheiro através das fronteiras para apoiar cerca de 800 milhões de membros da família, totalizando mais de 400 bilhões de dólares em 2016. De acordo com o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) da ONU, isto é responsável por tirar milhões de pessoas da pobreza, conforme o dinheiro é gasto em necessidades como alimentação, saúde, habitação, educação e saneamento. Infelizmente, os custos de transação para enviar remessas atualmente excedem US $ 30 bilhões anualmente, com tarifas particularmente altas para os países mais pobres e áreas rurais remotas.

    A cadeia de blocos Ethereum, sem autoridade central ou intermediário, permite transações gratuitas, eliminando assim esse fardo de bilhões de dólares. Ela também oferece maior velocidade, facilidade de uso e mais privacidade para remetentes e receptores. O FIDA e outras organizações das Nações Unidas que lidam com remessas pesquisam ativamente como aplicar a cadeia de blocos Ethereum.
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    Contratos Inteligentes

    O Fundo Internacional de Emergência da Criança da ONU (UNICEF) está considerando empregar a cadeia de blocos Ethereum para aumentar a transparência e reduzir o que eles chamam de "custo da confiança". Devido à dificuldade de rastrear transações internacionais e porque o UNICEF conduz muitas delas, elas sofrem algum grau de má gestão, incluindo o potencial de fraude.

    Isso pode ser resolvido usando contratos inteligentes, como sugerido pela UNICEF Ventures, uma filial dedicada a melhorar a capacidade da organização de mover fundos. Os contratos inteligentes funcionam como um contrato normal, no qual duas ou mais partes entram em um acordo, mas em vez de ter um terceiro para executá-lo, o contrato é executado inteiramente no blockchain, tornando irrelevante um terceiro.

    Por exemplo, se a pessoa A quer comprar a senha de um site da pessoa B, eles podem entrar em um contrato no qual a senha é liberada somente quando o montante acordado de crypto-moedas for transferido. A transação seria no livro razão público, dando-lhe muito mais transparência e tornando-a mais eficiente, ajudando o UNICEF a superar seu problema de transparência e a funcionar com mais facilidade.
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    Mais por vir

    Desde o seu lançamento em julho de 2015, a cadeia de blocos Ethereum obteve uma atenção significativa, já que pessoas e organizações de todos os tipos começaram a imaginar formas praticamente ilimitadas de tirar proveito da transparência, segurança e eficiência que oferece. A ONU, em particular, abraçou-a, com sete agências da ONU a investigando ou implementando para vários fins. Na verdade, uma cúpula importante está agendada para o início de Outubro, na sede da ONU, em Nova York, na qual o Digital Blue Helmets, especialista em tecnologia de tecnologia da ONU, deverá revelar algumas novas e excitantes aplicações da cadeia de blocos Ethereum.

    quarta-feira, 8 de março de 2017

    Precariado - Uma política de paraíso: o componente Renda Básica














    Os tópicos finais do livro, copiados abaixo, provocaram-me dificuldades de compreensão.

    Sendo assim os copiei aqui e fiz algumas alterações que, creio, facilitam a leitura ou restabelecem o sentido pretendido pelo autor, no texto original.

    <> indica palavra(s) retirada(s)
    <abcabcabc> indica palavras alteradas ou incluídas em relação ao texto da tradução para o Português.

    Agradeço comentários que corrijam meus próprios erros de interpretação ou melhorem o entendimento dos argumentos do autor. 
    ____________
    Renda básica 

    A proposta já foi tema de manifestações do precariado e tem uma longa história com muitos adeptos ilustres. Passou por muitos nomes: o mais popular deles é “renda básica”, mas outros incluem uma “bolsa-cidadão”, “dividendo social”, “bolsa-solidariedade” e “ajuda demográfica”. Apesar de usarmos o nome mais popular, propomos aqui uma variante que leva em conta dois objetivos desejáveis que até agora não fizeram parte da argumentação.

    O núcleo da proposta é que cada residente legal de um país ou comunidade, tanto crianças, quanto adultos, deveria receber um pagamento mensal modesto. Cada indivíduo teria um cartão que lhe daria o direito de sacar uma quantia mensal para as necessidades básicas, para gastar como bem entender - sendo que haveria um acréscimo para necessidades especiais, como deficiência. 

    Na maioria dos países ricos, isso seria menos radical do que pode parecer, uma vez que significaria consolidar muitos esquemas de transferência já existentes e substituir outros que são cheios de complexidades e de uma condicionalidade arbitrária e discricionária.

    Essa renda básica seria paga a cada indivíduo, e não a um grupo contestável maior, tal como “a família” ou “residência”. Seria universal, pois seria paga a todos os residentes legais, com um período de espera para os migrantes, por razões pragmáticas. Seria em forma de dinheiro, permitindo ao receptor decidir como usá-lo, não de uma forma paternalista, tal como um vale-refeição ou outros itens predeterminados. 

    Deve promover a “livre escolha” e não ser um meio de persuadir as pessoas. Deveria ser inviolável, no sentido de o Estado ser incapaz de tomá-la de volta, a menos que uma pessoa deixe de ser um residente legal ou cometa um crime para o qual a negação seja uma penalidade especificada.

    E deveria ser paga como uma soma modesta regular, não como um pagamento em bloco dentro dos moldes das “apólices de baixo valor” ou de “auxílios financeiros de investidores”, como pretendido pelo Child Trust Fund do Reino Unido, o que causa “fraqueza de vontade” e outros problemas (Wright , 2006).

    O auxílio seria incondicional em termos comportamentais. Existem leis, tribunais e processo adequado para lidar com o comportamento questionável, e isso não deve se misturar à política de fornecimento da segurança básica. Quando essas coisas se misturam, não há nem segurança, nem justiça. 

    Em princípio, as transferências de renda libertam: dão segurança econômica com a qual é possível fazer escolhas sobre como viver e desenvolver as capacidades de cada um. A pobreza consiste na falta de liberdade, bem como em não ter o suficiente para comer, nem o suficiente para vestir e <nem> um lugar <adequado> para viver. 

    A imposição de condições, sejam comportamentais, ou em termos do que o receptor está autorizado a comprar, é um ato de falta de liberdade. Uma vez aceito, o que poderá evitar que os estrategistas políticos sigam para a próxima etapa? Eles podem facilmente pensar que sabem o que é melhor para quem recebe baixa renda e é menos escolarizado. Os condicionalistas tenderão a estender as condições e estreitar a forma como elas operam até que se tornem coercitivas e punitivas. Uma renda básica iria noutra direção.

    Uma renda básica não seria exatamente como um imposto de renda negativo, com o qual é muitas vezes comparada. Não criaria uma armadilha de pobreza, em que o benefício é perdido, na medida em que a renda sobe, agindo como um desincentivo ao trabalho. A pessoa manteria a renda básica, independentemente de quanto recebesse de seu trabalho, da mesma forma que a renda seria paga independentemente do seu estado civil ou familiar. 

    Todos os rendimentos auferidos seriam tributados com os índices padrão. Se o Estado quisesse limitar a quantidade que vai para os ricos, poderia reavê-la por meio de impostos mais elevados sobre os rendimentos mais elevados.

    As objeções a uma renda básica têm sido exaustivamente <analisadas>, nomeadamente em uma rede internacional formada em 1986 para promover o debate. Originalmente chamado BIEN (Basic Income European NetWork), mudou de nome em seu Congresso de Barcelona, de 2004, para BIEN (Basic Income Earth NetWork), para refletir o fato de que um número crescente de seus membros era de países em desenvolvimento e de outros países fora da Europa. Em 2010, <havia> redes nacionais florescendo em muitos países, incluindo Brasil, Canadá, Coreia do Sul, Estados Unidos, Japão e México, assim como Europa.

    As principais reclamações feitas contra uma renda básica incondicional são as de que ela reduziria a oferta de trabalho, poderia ser inflacionária, seria inviável, seria usada por políticos populistas e seria uma “esmola”, uma recompensa para a preguiça e um imposto sobre as pessoas que trabalham. Todas essas afirmações foram respondidas por publicações da BIEN e outros trabalhos acadêmicos. No entanto, pensando nas vantagens da renda básica para o precariado, no que se refere aos principais recursos (e como pagar por isso), responderemos aqui a algumas dessas críticas.

    Filosoficamente, uma renda básica pode ser pensada como um “dividendo social”, um retorno <de> um investimento passado. De modo geral, quem ataca a renda básica como se fosse o mesmo que dar alguma coisa em troca de nada são as pessoas que receberam alguma coisa em troca de nada, muitas vezes tendo herdado riquezas, pequenas ou grandes.

    Isso leva a um argumento colocado elegantemente por Tom Paine (2005) em seu Agrarian Justice, de 1795. Toda pessoa rica em toda sociedade deve grande parte de sua boa sorte aos esforços de seus antepassados e aos esforços dos antepassados de pessoas menos ricas. Se todas as pessoas recebessem uma renda básica com a qual desenvolvessem suas capacidades, ela equivaleria a um dividendo dos esforços e da boa sorte daqueles que vieram antes. O precariado tem tanto direito a esse dividendo quanto qualquer outra pessoa.

    Um passo desejável para uma renda básica é a integração dos sistemas fiscais e dos sistemas de benefícios. Em 2010, um avanço que movia o Reino Unido para uma renda básica veio do que muitos poderiam ter pensado ser uma direção improvável. Os planos do governo de coalizão para a reforma radical do sistema de benefícios fiscais reconheceram que o sistema de cinqüenta e um benefícios que o governo anterior havia construído, muitos deles com diferentes critérios de elegibilidade, era atordoante e repleto de perigos morais associados à pobreza e às armadilhas do desemprego. 

    Ao combinar os benefícios estatais em dois - um Crédito Universal de Trabalho e um Crédito Universal de Vida - teria sido possível promover a integração de benefícios fiscais e facilitar um <aprofundamento> mais ordenado da retirada de benefícios na medida em que a renda recebida aumentasse. 

    A integração poderia criar as circunstâncias para o surgimento de uma renda básica. Infelizmente, o ministro do Trabalho e da Previdência, um católico, foi persuadido a forçar os beneficiados a trabalhar, inaugurando o workfare e permitindo que os agentes comerciais tivessem o controle. Porém, a integração seria um passo para a reconstrução de um sistema de proteção social, com uma base universalista.

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    Redistribuir a segurança

    O recurso da segurança tem vários elementos — social, econômico, cultural, político, etc. Estamos preocupados aqui com a dimensão econômica. A insegurança crônica é ruim em si mesma e é instrumentalmente ruim, afetando o desenvolvimento das capacidades e da personalidade do indivíduo. Se isto for verdade, então deveria haver uma estratégia para proporcionar segurança básica. O precariado está agitado justamente porque sofre de insegurança sistêmica.

    Podemos ter segurança de mais ou de menos. Se tivermos pouca segurança, a irracionalidade prevalece; se tivermos muita, prevalece uma falta de cuidado e de responsabilidade. Uma ênfase na segurança pode se tornar reacionária, resistir à mudança e justificar controles regressivos.

    No entanto, a segurança econômica básica ainda produziria a insegurança existencial (nos preocupamos com aqueles que amamos, a nossa segurança e saúde, etc.) e a insegurança do desenvolvimento (queremos desenvolver nossas capacidades e viver uma vida mais confortável, mas é preciso correr riscos para fazer isso). Além disso, para sermos racionais, tolerantes e compassivos, precisamos de um senso de estabilidade.  A segurança básica deve ser assegurada, e não é uma coisa que pode ser tirada de acordo com critérios pessoais, sem causa justa e comprovada.

    Os utilitaristas e os neoliberais ignoram a necessidade de segurança econômica universal como um meio de permitir que internalizemos um comportamento baseado em princípios. Eles tendem a considerar como “outro” coletivo as pessoas que são um fracasso na sociedade de mercado. Ter como alvo um grupo de pessoas chamado de “pobres” é ter pena delas e condená-las praticamente na mesma medida. 

    “Elas” <não> são merecedoras, <são> indignas ou transgressoras, devem ser benevolentemente ajudadas, remodeladas ou punidas, de acordo com a forma como nós, a boa gente, as julgamos. Falar dos “pobres” é falar de piedade, a qual se assemelha ao desprezo, como David Hume nos ensinou. “Elas” não são como “nós”. A resposta do precariado é que elas somos nós ou poderiam ser, em <algum> momento.

    Pensar na segurança básica universal é deslocar o pensamento da pena para a solidariedade social e a compaixão. O seguro social consistia em produzir segurança em uma sociedade industrial. Não poderia funcionar agora e não funcionou muito bem na época. Mas o princípio da segurança solidária era louvável. Ele se perdeu na infinidade de programas dirigidos que buscavam eliminar o “indigno”. Que importa se 0,5% das pessoas são preguiçosas? Deveriam as políticas ser concebidas com esses 0,5% em mente ou dar segurança e liberdade para os 99,5% restantes, de modo que a sociedade tivesse uma vida menos ansiosa, mais relaxada?

    Muitas políticas de controle concebidas pelos políticos, seus assessores e burocratas podem apelar para mentes preconceituosas e ganhar votos, mas elas são caras e, em grande medida, contraproducentes. É muito mais caro para o contribuinte forçar algumas pessoas improdutivas a ocuparem empregos improdutivos do que apenas deixá-las à deriva, se isso é realmente o que elas querem. Seria melhor oferecer conselhos imparciais, como um serviço, e não como uma sanção sutil.

    A grande maioria das pessoas <não> se contentaria em viver apenas com uma renda básica. Elas querem trabalhar e estão animadas com a possibilidade de melhorar sua vida material e social. Perseguir uma pequena minoria por sua “preguiça” é sinal da nossa fraqueza, não de nosso mérito.

    A esse respeito, um pequeno experimento realizado nas ruelas de Londres, em 2010, <produziu> lições comoventes. Perguntou-se a cada um dos sem-teto o que eles mais queriam; seus sonhos eram modestos, como convinha a sua situação. O dinheiro para realizar esses sonhos foi fornecido sem condições; alguns meses mais tarde, quase todos eles tinham deixado de ser sem-teto e um fardo para as autoridades locais. A economia que os contribuintes fizeram dando o dinheiro <equivaleu> a 50 vezes o valor dado.

    A segurança básica consiste, em primeiro lugar, em ter uma incerteza moderada, não extrema; em segundo lugar, saber que se alguma coisa desse errado haveria maneiras acessíveis e comportamentalmente aceitáveis de superar; e em terceiro lugar, ter formas acessíveis e comportamentalmente toleráveis para se recuperar de um choque ou perigo.

    Numa sociedade de mercado com programas de benefícios condicionais, opções privadas caras e pouca mobilidade social, essas condições não existem e devem ser construídas. O ponto de partida para o precariado é lidar com a incerteza, uma vez que ele é confrontado por coisas não seguráveis, coisas que ele “desconhece que desconhece”.

    A necessidade de segurança 'ex ante extratificada' (em contraste com a segurança 'ex post oferecida' pelo seguro social, que lida com riscos de contingência específicos), é, portanto, uma razão para desejar que a boa sociedade do futuro inclua uma renda básica incondicional. Aqueles políticos ricos que tiveram bastante sorte de ter vivido à custa da previdência privada durante toda a vida deveriam saber que ter “previdência social por toda a vida” é o que todo mundo merece, não só eles. Somos todos “dependentes” dos outros ou, para ser mais preciso, somos “interdependentes”.

    Faz parte da condição humana normal, não é algum vício ou doença. E fornecer a outros seres humanos a segurança básica não deve ser algo condicionado a algum comportamento moralmente determinado. Se determinado comportamento é inaceitável, ele deve ser tratado como uma questão jurídica, sujeita ao devido processo legal. A vinculação da proteção social com a condicionalidade visa ignorar a lei que, supostamente, é a mesma para todos.

    A segurança básica é uma necessidade humana quase universal e um objetivo digno para a política estatal. Tentar fazer as pessoas “felizes” é uma artimanha manipuladora, enquanto proporcionar um esteio de segurança criaria uma condição necessária para que as pessoas fossem capazes de perseguir sua própria concepção de felicidade. A segurança econômica básica também é instrumentalmente benéfica. A insegurança produz estresse, o que diminui a capacidade de concentração e aprendizagem, afetando especialmente as partes do cérebro mais associadas com a memória de trabalho (Evans; Schamberg, 2009). 

    Assim, para promover a igualdade de oportunidades, devemos procurar reduzir as diferenças de insegurança. Mais fundamentalmente, os psicólogos têm mostrado que as pessoas basicamente seguras são muito mais propensas a serem tolerantes e altruístas. É a insegurança socioeconômica crônica que está atiçando o neofascismo nos países ricos na medida em que eles enfrentam a atrasada redução dos padrões de vida trazida pela globalização.

    Isso leva a uma primeira modificação possível da proposta para uma renda básica (ver também Standing, 2011). Sabemos que a economia globalizada produz mais insegurança econômica e é propensa à volatilidade, e que o precariado experimenta flutuações não seguráveis na insegurança econômica. Isso cria uma necessidade de estabilidade de renda e de estabilizadores econômicos automáticos. O último papel costumava ser desempenhado pelo seguro-desemprego e por outros benefícios da segurança social, mas estes têm encolhido. 

    Se uma renda básica fosse vista como uma “concessão de estabilização econômica”, ela seria uma forma igualitária de reduzir a volatilidade econômica. Seria mais eficiente e equitativa do que a política monetária e fiscal convencional, e do que todos os subsídios deploráveis que promovem a ineficiência e uma série de efeitos de inércia e de substituição.

    O valor do cartão de renda básica podia ser alterado contra ciclicamente. Quando as oportunidades de ganho fossem altas, o valor poderia ser menor, e quando as condições de recessão estivessem se espalhando, ele poderia ser aumentado. Para evitar o mau uso político, o nível da renda básica poderia ser definido por um organismo independente, incluindo representantes do precariado, bem como de outros interesses. 

    Isso seria equivalente às corporações monetárias quase independentes criadas nos últimos anos. A sua missão seria ajustar o valor principal da concessão de renda básica de acordo com o crescimento econômico, como também <o> seu valor suplementar de acordo com a condição cíclica da economia. O objetivo é redistribuir a segurança básica de quem tem “muita segurança” para quem tem pouca ou nenhuma.
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    Redistribuir o capital financeiro

    Há muitas maneiras de pagar a renda básica ou bolsas de estabilização. A questão contextual é que hoje as desigualdades são maiores do que já foram durante um bom tempo, e em muitos países elas são maiores do que foram em qualquer momento. Não há nenhuma evidência de que tais desigualdades sejam necessárias. Porém, grande parte dela se deve aos altos retornos para o capital financeiro. O precariado deveria obter uma parte desse capital.

    Os governos dos países ricos perderam a oportunidade de reduzir a desigualdade após o choque do sistema bancário. Quando salvaram os bancos usando o dinheiro público, poderiam ter dado aos cidadãos uma participação permanente em seus patrimônios, requerendo um representante do interesse público na diretoria de todos os bancos, ou que todos recebessem assistência pública. Quando os bancos começaram a ter lucros novamente, um pouco teria retornado ao público que tinha efetivamente investido nos bancos. Não é tarde demais para fazer algo assim.

    Duas reformas ajudariam. Em primeiro lugar, os subsídios para o capital e o emprego deveriam ser progressivamente eliminados. Eles não beneficiam o precariado e não são igualitários. Se a metade do dinheiro gasto para socorrer os bancos fosse alocada para concessões de estabilização econômica, uma <renda> mensal decente poderia ter sido dada a todos os cidadãos durante anos (Standing, 2011). Outros subsídios têm efeitos de distorção e contribuem para a ineficiência.

    Em segundo lugar, é preciso encontrar maneiras de redistribuir parte dos altos retornos <do> capital financeiro, retornos que não têm qualquer relação com o trabalho de quem agora lucra com sua posição estratégica na economia global. Por que as pessoas com habilidades específicas - que sempre as aceitam como habilidades - deveriam viver uma vida econômica muito melhor do que outros que têm diferentes habilidades?

    Os países ricos devem chegar a um acordo sobre serem economias rentistas. Não há nada de errado com o investimento de capital em economias de mercados emergentes e com o recebimento de dividendos justos, decorrentes do investimento. Esse lado da globalização deveria dar origem a uma situação de benefício mútuo, mas somente se alguns dos dividendos fossem distribuídos para os cidadãos e “habitantes” do país investidor.

    Os fundos de riqueza (ou capital) soberanos, que já existem em quarenta países, são uma forma promissora de fazer isso. Se o rendimento auferido por tais fundos pudesse ser compartilhado, o precariado ganharia um meio de controle sobre suas vidas. É muito fácil para os economistas afirmar que os empregos surgirão em setores não negociáveis. O que estamos aprendendo é que a maioria das atividades é negociável. Esperar que os empregos sejam o meio para a redução da desigualdade é o mesmo que gritar aos surdos. Os empregos não vão desaparecer. Pensar o contrário é aceitar o “inchaço da falácia do trabalho”. Mas muitos, se não a maioria, vão ser mal pagos e inseguros.

    Os fundos de capital podem ser usados para acumular retornos financeiros a fim de ajudar a pagar uma renda básica. Há precedentes. O Fundo Permanente do Alasca, fundado em 1976, foi criado para distribuir parte dos lucros da produção de petróleo para cada residente legal do Alasca. Isso continua acontecendo. Não é um modelo perfeito, uma vez que seu controle pode resultar na negligência relativa do precariado, ou dos futuros habitantes do Alasca, em relação aos habitantes de hoje. Mas, como o Fundo Norueguês, ele fornece o núcleo de um mecanismo de fundo de capital que poderia ser usado para financiar uma renda básica modesta, não importa como fosse chamada.

    O precariado também seria beneficiado com as chamadas “taxas Tobin”, que incidem sobre as operações de capital especulativo. Há argumentos para se acreditar que a redução dos fluxos de capital de curto prazo seria benéfica em qualquer caso. E depois há os impostos ecológicos, destinados a compensar as externalidades causadas pela poluição e para retardar ou reverter o rápido esgotamento dos recursos. Em suma, não há nenhuma razão para pensar que uma renda básica universal seja inviável.

    Internacionalmente, a recente legitimação das transferências de renda como instrumento de ajuda ao desenvolvimento é promissora. Inicialmente, elas foram aceitas como esquemas de curto prazo para situações de pós-choque, como depois de terremotos e inundações. Mais tarde, como observado anteriormente, os programas condicionais de transferência de renda varreram a América Latina. Os doadores e as organizações beneficentes se voltaram para eles. As transferências de renda, despojadas de sua falsa condicionalidade, deveriam se tornar a principal forma de ajuda, para garantir que o auxílio eleve os padrões de vida e não seja usado para fins regressivos ou corruptos.

    Deveríamos pensar novamente sobre a redistribuição global da renda. Um livro da jurista Ayelet Shachar (2009), The Birthright Lottery [N.T.: A Loteria do Nascimento], defendeu um imposto de cidadania nos países ricos para ser redistribuído às pessoas dos países pobres, tratando os benefícios materiais da cidadania como propriedade, uma herança. Isso é semelhante ao argumento de Paine. Talvez seja algo utópico demais para aplicação imediata; no entanto, essa ideia se baseia na percepção de que a cidadania não é um direito natural, uma vez que as fronteiras são arbitrárias. Ela evoca uma ligação entre impostos vinculados e redistribuição via transferências básicas para as pessoas “desafortunadas o suficiente” para nascer nas regiões de baixa renda do mundo. A única razão para pensar que isso é utópico hoje é que, numa sociedade de mercado globalizada, espera-se que todos nós sejamos egoístas, não cidadãos globais.

    Assim, não deveria haver nenhum receio em dizer que há formas <> de financiamento para uma renda básica tanto em países ricos quanto nos países em desenvolvimento. O desafio é político; apenas se o precariado puder exercer pressão suficiente sobre o processo de vontade política, o que é possível se tornará realidade. Felizmente, uma vez que ele exerce essa pressão, estão se acumulando evidências dos efeitos benéficos das transferências básicas de dinheiro em países que, há apenas alguns anos, teriam sido considerados como lugares onde a renda básica seria impossível.
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    Controlar o tempo

    Uma renda básica também daria às pessoas mais controle sobre seu tempo. E seria uma resposta aos paternalistas libertários. Eles acreditam que as pessoas não podem tomar decisões racionais porque se deparam com informação demais. Nesse caso, deveriam favorecer políticas que propiciassem às pessoas mais tempo para tomarem decisões racionais. As pessoas também precisam de tempo para realizar trabalho por tarefa e outras formas de trabalho que não sejam emprego. Vamos devagar. Precisamos de um movimento Slow Time, na mesma linha do movimento Slow Food; ambos fundamentais ao localismo.

    Há poucos expedientes para permitir que as pessoas desacelerem. Em vez disso, a política fiscal e a social “recompensam” a tarefa e penalizam quem opta por menos tarefas. As pessoas que desejam menos tarefa são duplamente penalizadas, não só por receberem salários mais baixos, mas também por perderem o direito aos chamados “direitos sociais”, como as pensões.

    Uma renda básica, desvinculada do emprego, seria desmercadorizada na medida em que daria às pessoas uma maior capacidade de viver fora do mercado e estar sob menos pressão das tarefas. Porém, ela poderia aumentar a quantidade de tarefa, permitindo que as pessoas entrassem e saíssem do mercado de trabalho com mais facilidade. Em outras palavras, poderia induzir a mais tarefa, mas o faria em condições de maior segurança e independência das pressões de mercado. Uma renda básica também permitiria aos cidadãos aceitar baixos salários e negociar com mais veemência. Se eles julgassem que determinada quantia é tudo o que um potencial empregador pode pagar, poderiam assumir o emprego, desde que tivessem o suficiente com que viver.

    A necessidade de recuperar o controle sobre o tempo é extremamente importante. Precisamos dele para tomar decisões sobre gestão de riscos. Alguns paternalistas libertários afirmam que a educação não melhora a capacidade das pessoas para tomar boas decisões, justificando seus estímulos e uso de práticas ameaçadoras que parecem incentivos. No entanto, uma pesquisa no Reino Unido concluiu que os investidores identificaram a falta de tempo como a principal barreira para a gestão de riscos (Grene, 2009). 

    Os riscos podem ser explicados de modo que as pessoas possam fazer escolhas racionais. Os médicos <poderiam> comunicar o risco aos pacientes, <para que> <> fizessem parte de uma “escolha consciente”. Podemos chamar a atenção das pessoas para os resultados estatísticos. Os profissionais de serviços financeiros <poderiam> ser obrigados a aceitar uma definição mais ampla de risco e a se envolverem com os consumidores para que estes tomem decisões mais racionais, através de uma “ferramenta de comunicação e reconhecimento de risco”. O importante é que as pessoas precisam de tempo para ponderar os riscos, desde que as políticas garantam que a informação adequada seja disponibilizada.

    Isso lembra uma das piores armadilhas da precariedade. O precariado se depara com um arrocho do tempo a partir dos retornos cada vez menores <do> emprego e da pressão para realizar mais trabalho por tarefa e trabalho para reprodução, em parte porque seus membros não podem se dar ao luxo de pagar por substitutos. Ansiosos e inseguros a ponto de estarem “esgotados”, eles precisam realizar uma quantidade excessiva de trabalho por tarefa e são incapazes de digerir e usar a informação que recebem. A renda básica lhes daria um controle maior do tempo e, assim, os ajudaria a tomar decisões mais racionais.
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    Recuperar a área pública

    Finalmente, há uma má distribuição do espaço público de qualidade. Isso tem duas dimensões relevantes. A maioria das pessoas informadas reconhece a ameaça ecológica assustadora representada pelo aquecimento global, pela poluição e pelo desaparecimento de espécies. No entanto, grande parte da elite e das camadas superiores da classe assalariada realmente não se importa. Sua riqueza e suas conexões podem garantir que não serão atingidos. Eles podem fugir para suas ilhas no claro mar azul e seus retiros na montanha. 

    Querem altas taxas de crescimento econômico para aumentar sua renda e riqueza, não importando a destruição ecológica causada pelo esgotamento de recursos. Naturalmente, é o precariado que é a classe verde no debate por uma sociedade mais igualitária, em que as atividades de partilha e de reprodução e conservação de recursos são priorizadas. O rápido crescimento só é necessário a fim de manter as desigualdades grotescas que a globalização produziu. Precisamos diminuir a velocidade tanto para reduzir o estresse do trabalho e do consumo frenéticos quanto para <recuperar> a natureza.

    O precariado também deve lutar por <um espaço> comum viável, mas precisa de um espaço público rico. Talvez os atos mais reveladores da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher — que arquitetou o neoliberalismo tão reverenciado pelos sucessores, Tony Blair e David Cameron - fossem as vendas em massa de habitação social e os campos esportivos e outras instalações ligadas às escolas públicas. Isso <restringe> o espaço público para os cidadãos de baixa renda e os “habitantes”.

    Três décadas mais tarde, a política culminou nas medidas de austeridade de 2010. E <determinou> o fechamento de centenas de bibliotecas públicas, assim como têm acontecido nos Estados Unidos. Estes são lugares públicos preciosos para o precariado. O financiamento do esporte para as escolas públicas é alvo de grandes cortes, com os clubes frequentados após o horário escolar enfrentando a devastação. Outras instalações públicas estão sendo cortadas ou terão preços fora de <alcance>. 

    E o zoneamento urbano de residência se tornará mais sistêmico. A venda de habitações sociais criou uma escassez de moradia com aluguel a preços acessíveis para pessoas de baixa renda nas vilas e cidades. O aluguel de acomodações privadas subiu, aumentando os montantes pagos a título de subsídio de habitação para as pessoas de baixa renda. Quando o governo buscou a poupança fiscal, o benefício de habitação <foi> um alvo fácil.

    Ele pretende restringir os níveis de benefícios para 30% das casas mais baratas em uma área e fixar um teto para o montante que uma família pode receber. As reformas estão fadadas a levar as pessoas de baixa renda para fora das áreas de alto custo e alto padrão de vida, o que o prefeito de Londres, um conservador, chamou de “limpeza social” e o Arcebispo de Canterbury chamou de “zoneamento social”.

    Perversamente, a mudança tornará o mercado de trabalho mais caótico. Como as pessoas de baixa renda e aquelas relativamente ignorantes se concentram em áreas de baixa renda, as oportunidades de emprego vão se concentrar nas áreas de renda mais alta. Os bolsões de pobreza e <> desemprego vão se tornar zonas ou mesmo guetos, da mesma maneira que alguns banlieues de Paris são centros de privação, insegurança, desemprego e crime de sobrevivência. E da mesma maneira que cidades da África do Sul, zoneadas sob o apartheid, permanecem fragmentadas em áreas fechadas muito bem vigiadas e sob a efervescente raiva dos moradores.

    Há também a necessidade de espaços públicos mais seguros em que o precariado possa se reunir e desenvolver a amizade pública cívica. A esfera pública precisa ser restabelecida. O sociólogo e filósofo Jürgen Habermas, lamentando a fragmentação da esfera pública, referiu-se às cafeterias de Londres do século XVIII, aos salões de Paris e às “conversas à mesa” da Alemanha. Sua visão, infundida de nostalgia, é que a esfera pública foi morta pelo Estado do bem-estar social, pelos meios de comunicação de massa, pelas relações públicas e pelo enfraquecimento da política parlamentar por parte dos partidos políticos. Está implícita uma crença de que, se tivéssemos “habitantes” esclarecidos, frequentadores de cafeterias, a democracia reviveria.

    Isso tem sua importância na medida em que, enquanto o precariado é a classe emergente que povoa as modernas cafeterias, bares, cibercafés e redes sociais, há um déficit deliberativo. Habermas descreveu a internet como geradora de uma onda anárquica de circuitos fragmentados de comunicação que não poderiam produzir uma esfera pública. Bastante justo. Mas ele é muito pessimista. O precariado pode até ter a oferta de um espaço público fragmentado, mas ele deve lutar por um espaço onde a democracia deliberativa possa ser revivida. E uma renda básica pode ajudar até mesmo aqui.
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    Subsídios de ócio

    Um aspecto preocupante da sociedade de trabalhadores regulares é a perda do respeito pelo ócio no sentido grego de schole. Essa perda do respeito acompanha o privativismo cívico e um individualismo baseado no materialismo bruto. Para a saúde da sociedade e <de> nós mesmos, precisamos de mecanismos para inverter a tendência.

    A democracia frágil, a mercadorização da política e o poder das relações públicas e do dinheiro da elite <trazem o> risco <do> fortalecimento de uma tirania da maioria e uma difamação perniciosa da não conformidade. Como um contra movimento, o precariado precisa de mecanismos para gerar a democracia deliberativa. Isso promove valores de universalismo e altruísmo, uma vez que incentiva as pessoas a pensar em termos de “véu de ignorância” e se afastar do ponto de vista influenciado por sua posição ao longo do espectro social e econômico. No entanto, a democracia deliberativa requer a participação ativa, o que não pode ser feito por pessoas distraídas, alimentadas com uma dieta de lugares-comuns e chavões. Ela exige debate, contato visual, linguagem corporal, escuta e reflexão.

    Na antiga Atenas, um dispositivo de pedra chamado kleroterion era usado para selecionar aleatoriamente 500 pessoas para fazer política, entre 50 mil cidadãos. Isso era anti democrático, visto que as mulheres e os escravos eram excluídos. Mas se assemelha à democracia deliberativa. Uma pesquisa feita por James Eishkin, Bruce Ackerman e outros indica que as discussões públicas muitas vezes levavam a visões <menos> populistas. 

    Um experimento realizado em Michigan, atingida pela recessão, levou a um crescimento do apoio ao aumento dos impostos, nesse caso do imposto de renda, de 27% para 45%. Nesses experimentos, as maiores mudanças de opinião vêm das pessoas que adquirem mais conhecimento. Isso não significa que as mudanças são sempre desejáveis. Mas de fato indica que a deliberação faz a diferença. Experimentos psicológicos anteriores descobriram que quem tem segurança econômica básica é mais altruísta, tolerante e igualitário do que quem é economicamente inseguro, e as deliberações desse grupo, em relação a propostas relacionadas, levaram a um apoio ainda maior para fornecer às pessoas um piso de garantia de segurança (Frohlich; Oppenheimer, 1992).

    Alguns defendem o uso da internet para administrar a democracia deliberativa, por meio de pesquisas. Ela tem sido usada na Grécia e na China por alguns projetos, como para determinar de que maneira um fundo de infraestrutura local deveria ser alocado em Zeguo, na China. Está sendo considerada uma válvula de segurança para a pressão social. No entanto, embora o uso da internet possa ser fascinante, ela não pode substituir a concentração envolvida na participação física do público.

    Portanto, vale a pena considerar uma variante de subsídios de renda básica que poderiam ajudar a desviar o precariado para longe do populismo. Isso é exigir que todos que têm direito a um subsídio de renda básica, quando registram a elegibilidade, assumam um compromisso moral de votar nas eleições nacionais e locais, e participar de pelo menos uma reunião local por ano, convocada para discutir questões políticas atuais. Tal compromisso não deveria ser juridicamente obrigatório, com sanções; deveria ser apenas um reconhecimento de responsabilidade cívica, como convém a um etos de igualitarismo emancipatório.

    Mesmo sem o compromisso moral, uma renda básica seria um instrumento para incentivar a democracia deliberativa. A democracia frágil é susceptível de ser capturada pelas elites ou por agendas populistas. Se as democracias são menos corruptas do que as não democracias, como estima a Transparência Internacional, então as medidas pró-participação fortaleceriam a democracia. E, supondo uma relação linear entre o grau de democracia e a corrupção, isso reduziria a corrupção. Com o baixo comparecimento às urnas, é mais provável que os candidatos entrincheirados vençam. O precariado e os proficians, refletindo sua forma de vida mais nômade, são mais propensos a mudar para os políticos considerados de confiança. Muitas eleições são decididas por quem não vota. Isso não pode trazer um bom resultado.

    Os subsídios de trabalho e ócio podem ser relacionados ao novo entusiasmo pelo “localismo”. O desejo de descentralização sob a rubrica de uma “era pós-burocrática” é sedutor, favorecido tanto pelos social-democratas quanto pelos conservadores. No Reino Unido, os conservadores inventaram habilmente o termo Big Society, um vago eufemismo que parece abraçar o localismo e um maior papel para a sociedade civil e o trabalho voluntário. A usina de ideias Demos também enfatizou o localismo em seu folheto The Liberal Republic (Reeves; Collins, 2009), que o associou a “uma vida auto escrita”, em que a autonomia individual é fundamental na formação da versão de Boa Vida do indivíduo.

    Existem problemas pela frente. O localismo pode acompanhar o zoneamento social, com as áreas ricas ganhando em detrimento de outras. Ele negligencia a necessidade de liberdade de associação, e não apenas a autonomia individual, o que deixaria o precariado em desvantagem. A sociedade civil pode ser dominada pelos ricos e bem conectados. E o localismo poderia conduzir a mais paternalismo. Ele já é associado a medidas para promover o “comportamento pró-social”. <Cuja> ideia é permitir que os cidadãos votem a respeito de como o dinheiro deve ser gasto em seu bairro, em troca de fazerem um trabalho voluntário ou de participarem de reuniões públicas. 

    Essa forma de condicionalidade ameaça os princípios da democracia. Votar é um direito universal, e o objetivo deveria ser aumentar a democracia deliberativa, e não criar indivíduos integrados e não integrados. Além disso, o localismo só poderia ter sucesso se as pessoas estivessem civicamente empenhadas; e associar o direito de subsídio a um compromisso moral <em> participar da atividade democrática seria a melhor maneira de seguir em frente.

    Um plano que agradaria aos progressistas seria elevar o nível de votação, tendo em mente que, onde isso acontece, a propensão para apoiar valores liberais ou progressistas aumenta. O Brasil tem o voto obrigatório, e pode ser por isso que nesse país tem havido pouco apoio para o neoliberalismo. Um grande número de pobres, que pagam pouco imposto, mas ganham benefícios do Estado, empurram os políticos para a esquerda, na política social. Desse modo, os progressistas deveriam aumentar o número de eleitores, uma razão para que eles apoiem subsídios <não> condicionados ao ócio. O voto obrigatório pode ser o motivo que levará o Brasil a introduzir uma renda básica antes de outros países, e talvez, também por causa dele, o compromisso com a renda básica tenha sido aprovado em lei em 2004.

    Há um precedente para a ligação da participação política aos subsídios de renda básica. Em 403 a.C., em Atenas, os cidadãos foram agraciados com um pequeno subsídio como símbolo para a sua participação na vida da polis. Recebê-lo era uma questão de honra e um incentivo para assumir a responsabilidade na condução dos assuntos públicos.
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    Conclusões
    O precariado em breve poderá descobrir que tem muito mais amigos. Vale a pena lembrar a famosa advertência atribuída ao pastor Martin Niemõller na ascensão do nazismo na Alemanha nos anos 1930:
    Primeiro eles vieram buscar os comunistas, e eu não protestei porque não era comunista.
    Depois vieram buscar os sindicalistas, e eu não protestei porque não era sindicalista. 
    Depois vieram buscar os judeus, e eu não protestei porque não era judeu. 
    Depois vieram me buscar e a essa altura, não havia ninguém para protestar.

    A advertência é relevante porque a classe perigosa está sendo desencaminhada por demagogos como Berlusconi, dissidentes como Sarah Palin e neofascistas em outros lugares. Enquanto a centro-direita está sendo arrastada mais para a direita a fim de manter seus constituintes, a centro-esquerda política está cedendo terreno e perdendo votos. <Está em risco de perder a credibilidade de uma geração>. Por muito tempo, tem representado os interesses do “emprego” e defendido uma forma mortal de vida e uma maneira mortal de trabalhar. 

    A nova classe é o precariado; a menos que os progressistas do mundo ofereçam uma política de paraíso, essa classe toda vai ser muito propensa a ouvir as sereias atraindo a sociedade para os rochedos. Os centristas vão se unir no apoio a um novo consenso progressista, porque eles não têm mais para onde ir. Quanto mais cedo eles se unirem, melhor. O precariado não é vítima, vilão ou herói - é apenas um monte de gente como nós.


    [páginas 256 a 270] de:

    Precariado-A Nova Classe Perigosa
    Sumário
    Prefácio à edição brasileira......................................7
    Prof. Dr. David Calderoni
    Prefácio...............................................................11
    Lista de abreviações............................................. 13
    Capítulo 1 - 0 precariado .......................................15
    Capítulo 2 - Por que o precariado está crescendo?..... 49
    Capítulo 3 - Quem ingressa no precariado?................97
    Capítulo 4 - Migrantes: vítimas, vilões ou heróis?..... 141
    Capítulo 5 - Tarefa, trabalho e o arrocho do tempo ...177
    Capítulo 6 - Uma política de inferno....................... 201
    Capítulo 7 - Uma política de paraíso.......................233


    Guy Standing - O Precariado. A Nova Classe Perigosa 
    >>> PDF disponível aqui:
    
    https://www.facebook.com/InternetocraciaBrasil/photos/a.283977441693082.64614.283922491698577/1228633827227434/?type=3&theater