quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Índia - EUA - Europa: Como DEMOCRACIA deixa de funcionar AO SER CAPTURADA pelo MERCADO FINANCEIRO. New York Times - Friedman e Krugman

12/11/2011 - 00h01
Comentário: Mitos sobre a crise
The New York Times
Paul Krugman


É desta forma que o euro chega ao fim. Sem estardalhaço. Não faz muito tempo que os líderes europeus estavam insistindo que a Grécia poderia e deveria permanecer na zona do euro e pagar integralmente as suas dívidas. Agora, quando a Itália cai de um despenhadeiro, é difícil enxergar como a moeda comum europeia poderá sobreviver.
http://noticias.uol.com.br/blogs-colunas/colunas-do-new-york-times/paul-krugman/2011/11/12/comentario-mitos-sobre-a-crise.jhtm

11/11/2011 - 00h01
Comentário: Índia e Estados Unidos são como duas ervilhas em uma única vagem
The New York Times - Thomas L. Friedman - Em Goa (Índia)


As duas maiores democracias do mundo, Índia e Estados Unidos, estão passando por períodos notavelmente similares de introspecção. Ambos os países têm presenciado a emergência de movimentos populares de base contra a corrupção e os excessos financeiros.

A diferença é que os indianos estão protestando contra algo de ilegal – um sistema que exige o pagamento de propinas em todos os níveis da administração pública para que algo seja feito.

Já os norte-americanos têm protestado contra aquilo que é legal – um sistema de propinas sancionado pela Corte Suprema na forma de doações a campanhas políticas que possibilitou que a indústria de serviços financeiros efetivamente comprasse o Congresso dos Estados Unidos e os dois partidos políticos do país, fazendo dessa forma com que os parlamentares resistissem à implementação de controles sobre as operações financeiras de risco.

12/11/2011 - 00h01

Comentário: Mitos sobre a crise

Paul Krugman

11/11/2011 - 00h01

É desta forma que o euro chega ao fim. Sem estardalhaço. Não faz muito tempo que os líderes europeus estavam insistindo que a Grécia poderia e deveria permanecer na zona do euro e pagar integralmente as suas dívidas. Agora, quando a Itália cai de um despenhadeiro, é difícil enxergar como a moeda comum europeia poderá sobreviver.

Mas qual é o significado desta confusão em torno do euro? Como sempre acontece quando há um desastre, os ideólogos se apressam em dizer que a catástrofe demonstra que eles estavam certos. Portanto, é hora de começar a desmascarar tais indivíduos.
Comecemos pelo princípio. A tentativa de criar uma moeda comum europeia era uma dessas ideias que transcendia as tradicionais fronteiras ideológicas. A ideia foi recebida com alegria pela direita norte-americana, que viu nela a melhor coisa após um retorno do padrão ouro, e também pela esquerda britânica, que a considerou um passo rumo a uma Europa social-democrata. Mas ela foi questionada pelos liberais norte-americanos, que preocupavam-se – corretamente, diria eu – com o que ocorreria caso os países europeus não pudessem utilizar políticas monetárias e fiscais para combater recessões.
Sendo assim, agora que o projeto euro está indo a pique, que lições pode-se tirar disso?
Eu tenho ouvido duas alegações, ambas falsas. Que as aflições da Europa refletem o fracasso dos Estados de bem-estar social em geral, e que a crise europeia demonstra que a austeridade fiscal precisa ser aplicada imediatamente nos Estados Unidos.
A afirmação de que a crise da Europa prova que o Estado de bem-estar social não funciona é feita por muitos republicanos. Por exemplo, Mitt Romney acusou o presidente Barack Obama de encontrar a sua inspiração nos “democratas socialistas” europeus e declarou que “a Europa não está funcionando na Europa”. O argumento, ao que parece, é que os países em crise encontram-se em apuros por estarem sendo esmagados pelo peso dos altos gastos governamentais. Mas os fatos indicam outra coisa.
É verdade que todos os países europeus são caracterizados por benefícios sociais mais generosos – incluindo sistema de saúde universal – e gastos governamentais mais elevados do que os que são presenciados nos Estados Unidos. Mas as nações que neste momento se encontram em crise não possuem sistemas de previdência social maiores do que os países que estão indo bem. Na verdade, a correlação poderia ser até mesmo oposta. A Suécia, com os seus benefícios sociais notoriamente elevados, apresenta um desempenho excelente, sendo um dos poucos países cujo produto interno bruto é atualmente maior do que era antes da crise. Além do mais, antes da crise, “os gastos sociais” com programas de bem-estar social como percentagem do produto interno bruto em todas as nações que atualmente enfrentam problemas eram menores do que não apenas na Suécia, mas até mesmo na Alemanha.
E há também o caso do Canadá, que possui um sistema universal de saúde e que oferece auxílios aos pobres bem mais generosos do que os oferecidos pelos Estados Unidos, e que tem suportado a crise de uma maneira melhor do que nós.
Portanto, a crise do euro não nos diz nada a respeito da sustentabilidade do Estado de bem-estar social. Mas será que ela comprova que é necessário apertar o cinto em uma economia deprimida?
É isso o que nós ouvimos a todo momento: que os Estados Unidos deveriam cortar os seus gastos imediatamente para não acabarem como a Grécia ou a Itália. Novamente, porém, os fatos contam uma história diferente.
Primeiro, quem der uma olhada pelo mundo verá que o grande fator determinante das taxas de juros não é o nível de dívida governamental, mas o fato de o governo de um determinado país contrair empréstimos em sua própria moeda ou em moeda estrangeira. O Japão encontra-se muito mais endividado do que a Itália, mas a taxa de juros de longo prazo dos títulos japoneses é de apenas 1%, enquanto que a da Itália é de 7%. As perspectivas fiscais do Reino Unido parecem ser piores do que as da Espanha, mas os britânicos podem tomar dinheiro emprestado a juros apenas um pouco acima de 2%, enquanto que a Espanha está pagando quase 6% de juros.
Ou seja, o que aconteceu foi que, ao adotarem o euro, a Espanha e a Itália efetivamente reduziram-se à condição de países do Terceiro Mundo que precisam tomar dinheiro emprestado em moeda estrangeira, com toda a perda de flexibilidade provocada por isso. E um problema especial é que, como os países da zona do euro não podem imprimir dinheiro nem mesmo durante emergências, eles estão sujeitos a problemas de financiamento de uma maneira que as nações que mantiveram as suas próprias moedas não estão – e o resultado é isso que estamos vendo neste momento. Os Estados Unidos, que contraem empréstimos em dólares, não têm esse problema.
A outra coisa que é necessário ter em vista é que, diante da atual crise, a austeridade financeira tem se revelado um fracasso em todos os lugares onde ela foi aplicada. Nenhum país que tem dívidas significativas conseguiu recuperar a simpatia dos mercados financeiros. Por exemplo, a Irlanda é o “bom menino” da Europa, tendo respondido aos seus problemas de dívida com uma austeridade selvagem que jogou o índice de desemprego para 14%. Mas a taxa de juros sobre os títulos irlandeses ainda continuam acima dos 8% - o que é pior do que o índice da Itália.
Sendo assim, a moral da história é que é preciso ter cuidado com os ideólogos que estão tentando usar a crise europeia para promover as suas próprias agendas e mitos. Se dermos ouvidos a esses ideólogos, nós só acabaremos fazendo com que os nossos próprios problemas – que são diferentes daqueles da Europa, mas igualmente graves – tornem-se ainda piores.
Tradução: UOL
Paul Krugman  

Paul Krugman

Professor de Princeton e colunista do New York Times desde 1999, Krugman venceu o prêmio Nobel de economia em 2008

Comentário: Índia e Estados Unidos são como duas ervilhas em uma única vagem

Thomas L. Friedman
Em Goa (Índia)

As duas maiores democracias do mundo, Índia e Estados Unidos, estão passando por períodos notavelmente similares de introspecção. Ambos os países têm presenciado a emergência de movimentos populares de base contra a corrupção e os excessos financeiros. A diferença é que os indianos estão protestando contra algo de ilegal – um sistema que exige o pagamento de propinas em todos os níveis da administração pública para que algo seja feito. Já os norte-americanos têm protestado contra aquilo que é legal – um sistema de propinas sancionado pela Corte Suprema na forma de doações a campanhas políticas que possibilitou que a indústria de serviços financeiros efetivamente comprasse o Congresso dos Estados Unidos e os dois partidos políticos do país, fazendo dessa forma com que os parlamentares resistissem à implementação de controles sobre as operações financeiras de risco.

Mas as similaridades não acabam aí. Foi a sensação de que ambos os países possuem governos democraticamente eleitos que atendem tão intensamente a interesses especiais que são incapazes de promover reformas que fez com que milhões de indianos saíssem às ruas para apoiar o movimento Índia Contra a Corrupção e com que surgisse o movimento Occupy Wall Street e iniciativas como a Americanselect.org – um grupo centrista que pretende usar a Internet para escolher um candidato presidencial independente nos Estados Unidos..
A grande diferença é que, nos Estados Unidos, o movimento "Occupy Wall Street" não possui um líder e nem uma única demanda consensual. E, embora o movimento conte com bastante apoio passivo, a sua base de ativistas é pequena. Já  o "Índia Contra a Corrupção" tem milhões de seguidores e um líder carismático, o ativista social Anna Hazare, que fez greve de fome até o Parlamento Indiano concordar em criar uma agência de fiscalização independente com funcionários e poderes para investigar casos de corrupção e levar os envolvidos à justiça em todos os níveis do governo indiano, e para começar a fazer isso já na próxima sessão do parlamento. Um debate furioso está agora em andamento no sentido de assegurar que tal agência não se transforme em uma espécie de "Big Brother" indiano, mas é provável que seja criado um novo cargo de ombudsman nacional.
Arvind Kejriwal, o vice de Hazare, me disse: "Gandhi afirmou que sempre que alguém faz manifestações de protesto, as demandas precisam ser bem claras, e também é necessário que fique bem claro quem é a autoridade capaz de atender a essas demandas, de forma que as manifestações sejam direcionadas para essa autoridade". Se um movimento carece inicialmente de liderança, isso não se constitui necessariamente em um problema, acrescentou ele, "porque as lideranças frequentemente evoluem no decorrer do processo. Mas as demandas precisam ser muito claras". Uma sensação de injustiça e de que a desigualdade social está aumentando fez com que os manifestantes do "Occupy Wall Street" saíssem às ruas, "mas o que exatamente precisa ser feito, que lei tem que ser mudada e eles estão fazendo essas exigências a quem?", perguntou Kejriwal. "Essas questões precisam ser respondidas rapidamente".
Apesar disso, ainda existem muitos paralelos entre os movimentos indiano e norte-americano. Ambos parecem ter sido estimulados a agir devido à percepção de que a corrução e os excessos financeiros ultrapassaram certos limites. Nos Estados Unidos, apesar do fato de elementos integrantes da indústria de serviços financeiros terem quase afundado a economia em 2008, essa mesma indústria ainda está conseguindo impedir a implementação de reformas racionais porque ela tem muita influência financeira sobre o Congresso. De fato, a indústria financeira parece não ter aprendido nada com o que aconteceu. A população está furiosa.
Enquanto isso, na Índia, o aquecimento dos setores de commodities e telecomunicações, bem como da urbanização, que está fazendo com que aumente o preço dos terrenos, gerou uma riqueza de bilhões de rupias, e as autoridades que controlam o zoneamento de terras e as concessões para mineração não estão dando conta do trabalho extra. Cerca de 50 autoridades graduadas foram presas recentemente por praticarem toda espécie de falcatruas, desde a alocação fraudulenta de frequências de comunicação, provocando um prejuízo para o Estado de até US$ 38 bilhões, até a venda ilícita de minério de ferro indiano – uma matéria prima necessária para o desenvolvimento local – à China por um preço mais elevado do que o de mercado. O povo está farto dessa situação.
"No entanto, o nosso governo ataca quase todo militante que combate a corrupção. Infelizmente, os nossos partidos de oposição estão repletos de pessoas corruptas", comentou o escritor indiano Chetan Bhagat em um artigo publicado na última segunda-feira no jornal "The Times of India". Isso soa familiar aos norte-americanos? A democracia não precisa apenas de um partido governista decente, mas também de uma oposição inteligente, e nem a Índia nem os Estados Unidos contam atualmente com esses dois fatores.
Sim, os indianos estão furiosos com um sistema que os faz pagar propinas para obter certidões de nascimento. Os norte-americanos estão irados com um sistema que fez com que passasse a ser legal que os membros dos sindicatos dessem dinheiro às autoridades que decidem quem determinará os salários deles e que os banqueiros fornecessem propinas aos parlamentares que decidirão até que ponto os bancos podem efetuar operações arriscadas. Mas ambos os povos estão sendo basicamente ameaçados pela mesma doença, que foi bem descrita no título do livro de Robert Kaiser sobre a prática de lobby nos Estados Unidos – "So Damn Much Money" (algo como, "Uma Quantidade Infernal de Dinheiro"). Uma prática que se tornou tão comum por parte de tantos grupos que correm atrás dos seus próprios interesses que essas democracias não só estão se tornando distorcidas, como também não conseguem mais resolver elas próprias esse problema.
Hazare chama este momento vivido pela Índia de "a segunda luta pela independência". Eu creio que ele está sendo preciso em relação ao problema tanto da Índia quanto dos Estados Unidos. Acho que a tarefa de consertar as nossas democracias que deixaram de ser funcionais – de forma que elas sejam facilitadoras do progresso no século 21, e não inibidoras, no caso da Índia, ou “a soma de todos os lobbies”, no caso dos Estados Unidos – está para a nossa geração como o movimento pela independência na Índia e o movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos estavam para a geração dos nossos pais. Eu espero que nós tenhamos tanto sucesso nessa tarefa quanto eles.
Tradução: UOL
Thomas L. Friedman

Thomas L. Friedman

Colunista de assuntos internacionais do New York Times desde 1995, Friedman já ganhou três vezes o prêmio Pulitzer de jornalismo.

--
--

Atenciosamente.
Claudio Estevam Próspero 
http://mitologiasdegaia.blogspot.com/ (Blog: Mitologias de Gaia)
http://criatividadeinovao.blogspot.com/ (Blog: Criatividade e Inovação)
http://redessociaisgovernanaliderana.blogspot.com/ (Blog:Governança e Liderança em Redes Sociais)
http://reflexeseconmicas.blogspot.com/ (Blog: Reflexões Econômicas)
http://poltica20-yeswikican.blogspot.com/ (Blog: Política 2.0 - Yes, WIKI CAN)
http://www.portalsbgc.org.br/sbgc/portal/ (Comunidade Gestão Conhecimento)

Antes de imprimir, pense em sua responsabilidade e compromisso com o MEIO AMBIENTE.

Nossa Espécie (Homo Sapiens Sapiens Demens - Edgar Morin) Agradece!

Nenhum comentário:

Postar um comentário