domingo, 25 de março de 2012

Diagrama / Excertos de idéias (2003) - Rifkin, Jeremy - A Economia do Hidrogênio - A Criação do Web Energética em Escala Mundial e a Redistribuição do Poder na Terra


Efeitos positivos da migração para uma economia baseada no hidrogênio:
ü      Reversão dos danos climáticos.
Ø      Motor de combustão interna => CO2 => piora efeito estufa
Ø      Célula combustível H2 => H2O => reduz efeito estufa

ü      Reversão instabilidade geopolítica por reverter dependência crescente de reservas de petróleo do Oriente Médio.

ü      Possibilidade de democratização da produção e distribuição de energia se sociedades lutarem pelo conceito de HEW (Rede de Energia do Hidrogênio)

Alguns investimentos em curso:
ü      Islândia + Royal Dutch/Shell Group + Daimler-Chrysler + Norsk Hydro estão implementando um plano para tornar a Islândia a primeira economia baseada no hidrogênio do mundo.
ü      Carros a hidrogênio:
Ø      Daimler-Benz US$350 milhões a partir de 1997 (100 mil unidades até 2010, 1/7 da produção anual). Com a adesão da Ford o investimento foi elevado para mais de US$1 bilhão.
Ø      Toyota e GM esperam ter seus carros a H2 até 2010.
Ø  Soma de investimentos planejados por Nissan, Honda e Mitsubishi chegam a outro US$ 1 Bilhão.

Disponibilidade geotérmica para produção de eletricidade:
        De acordo com o Departamento de Energia dos EUA, calcula-se que as reservas geotérmicas, só nos EUA, excedam 70 milhões de quads. Isso é energia potencial suficiente para suprir o consumo humano de eletricidade por centenas de milhares de anos.

Os dados abaixo buscam demonstrar a necessidade de conversão da matriz de energia. A dúvida é se será feita de forma planejada para evitar crises ou se será uma transição dolorosa para atender interesses econômicos de curto prazo.

Reservas de petróleo (Bilhões de barris):

Estimativa de reserva total do mundo: 1.800 a 2.200 bilhões de barris.

Valor já consumido: 875 milhões de barris.

 Algumas projeções de demanda:


>      Para a China igualar o consumo per capita para ter o padrão de vida dos EUA seriam necessários mais 80 milhões de barris de petróleo por dia – 10 milhões a mais do que toda a produção mundial de 1997.

>      Se China e Índia elevarem seu consumo per capita para média da Coréia do Sul consumiriam 119 milhões de barris / dia. Isso é quase 50% superior à demanda mundial de 2000.

Estudos indicam que o pico da produção de petróleo ocorrerá entre 2010 e 2020. Isto é, dentro deste prazo metade das reservas recuperáveis terão sido processadas. Quando a produção global de petróleo atingir seu pico, os preços passarão a sofrer aumentos ininterruptos e contínuos, conforme os países, empresas e indivíduos competirem pela metade remanescente das reservas.

Metodologia de previsão: Curva de Sino de Hubbert (geofísico da Shell Oil Company que previu declínio da produção de petróleo dos 48 estados do sul norte-americano em 1956 (época de produção recorde)). Pico previsto para entre 1965 e 1970. Pico real em 1970, quando produção passou a declínio contínuo. EUA deixaram de ser maior produtor mundial, mudança que ditou muito da geopolítica do globo desde então. A  tese de Hubbert afirma que a produção de petróleo começa do zero, eleva-se, atinge o pico quando metade das reservas recuperáveis for processada, e então despenca, numa clássica curva em forma de sino.

A produção per capita de petróleo já atingiu o pico em 1979, estando em declínio contínuo, segundo a British Petroleum. A causa é o aumento da população mais rápido que aumento da produção.

1930 => 30% do pico (aproximadamente 3,3 barris / ano / pessoa)
1979 => pico (11,15 barris / ano / pessoa).

Cálculo, segundo curva de sino:
2030 => 3,32 barris / ano / pessoa.

Importância e instabilidade do Oriente Médio.
Há mais de 40 mil campos petrolíferos conhecidos no mundo, mas 40 campos gigantescos-mais de 5 bilhões de barris- representam mais da metade das reservas do mundo. Vinte e seis desses quarenta campos estão no Golfo Pérsico. Mais importante, enquanto os outros campos gigantes, como os dos EUA e da Rússia, já atingiram o pico e estão em declínio, os campos do Oriente Médio ainda estão subindo a curva.

A proporção entre reserva e produção (R/P) nos diz muita coisa. A R/P corresponde ao numero de anos que as reserva de petróleo durarão no atual ritmo de produção.

R/P para EUA  .................... =    10
R/P para Noruega ............... =    10
R/P para Canadá ................. =   .8
R/P para Irã ........................=   53
R/P para Arábia Saudita ....... =   55
R/P para Emirados Árabes .... =   75
R/P para Kuwait ................. = 116
R/P para Iraque ................. = 526 (!).  [Claudio - 2012: a verdadeira razão da invasão?)

Joseph Riva, ex-membro do Serviço de Pesquisas do Congresso dos EUA, adverte:
“a expansão planejada na produção petrolífera (...) não chega à metade do que se necessita para atender à demanda de petróleo prevista pela Agência Internacional de Energia para o ano de 2010, mas custará mais de US$ 100 bilhões, além de um adicional de US$ 20 bilhões, destinado a modernizar e expandir as refinarias do Golfo Pérsico e atender à crescente demanda mundial. Um aumento além do planejado custaria ainda mais caro por barril, já que o petróleo remanescente se torna mais difícil de recuperar”.


No centro do Petróleo e do Islã está a Arábia Saudita, dona das maiores reservas do mundo e terra sagrada do Islamismo (santuários de Meca e Medina). Embora alguns zombem da idéia de que Alá tenha conferido tamanha dádiva aos defensores da fé, ninguém se atreveu a rir quando Osama bin Laden conclamou seus seguidores em todo o mundo a reinvidicar a sagrada terra saudita, fundar um estado islâmico universal e subir o preço do petróleo para US$ 144 o barril.

As cifras do petróleo são desconcertantes. A receita de petróleo da Opep chegara a US$ 340 bilhões por ano após o embargo de 1974. Com a queda do xá do Irã em 1979 e o inicio da guerra Irã-Iraque em 1980, ela chegou a casa dos US$ 438,8 bilhões. Apenas seis anos depois, esta receita despencou para menos de US$ 83 bilhões. A renda petrolífera da Opep continuou baixa desde então. Nos anos de emergência a receita dos governos vinha do petróleo e não dos impostos.

Nesses países metade dos empregos são públicos. Muitos países do Golfo ofereciam educação pública gratuita até o nível universitário, serviços gratuitos de saúde, moradia subsidiada, apoio e empréstimos a baixos juros para a abertura de empresas e seguridade social para deficientes e idosos. A Arábia Saudita e o Kuwait chegam mesmo a oferecer alimentos subsidiados por meio de cooperativas financiadas pelo governo. A gasolina tem descontos, e serviços públicos como água, eletricidade e telefone são ou gratuitos ou subsidiados.

Em troca de seus cuidados com o povo, os governos do Golfo esperam lealdade absoluta e inabalável ao Estado. Discórdias políticas, ainda que moderadas não são admitidas. Os governos são geridos por elites hereditárias, deixando pouco espaço para que novas concepções políticas sejam manifestadas ou expressas publicamente.

Enquanto a receita do petróleo excedeu os gastos governamentais com serviços, as monarquias do Golfo puderam comprar a lealdade e obediência da maioria absoluta de seus súditos. Durante a última década, mais ou menos, as receitas decadentes do petróleo não puderam dar conta dos gastos cumulativos do governo. A crescente dívida pública e o corte progressivo dos serviços tornaram os países da região mais instáveis politicamente do que em qualquer época de sua história e muito mais vulneráveis à insurreição de movimentos fundamentalistas islâmicos.

Além disso, há uma “explosão demográfica” nessa parte do mundo: 40% da população tem menos de 17 anos. Hoje o desemprego entre as pessoas de dezoito a vinte e cinco anos é em média de 20%, o que constitui uma bomba-relógio política em todos os países. Em curto prazo, enquanto a Rússia e outros produtores fora da Opep inundarem o mercado com petróleo bruto barato, a renda per capita real provavelmente continuará a cair. Nos países do sul do Golfo, a renda per capita real representa hoje 40% do que era no apogeu da emergência do petróleo, há 20 anos, e deve continuar caindo, criando assim um risco ainda maior de difundir a inquietação social e a revolta política.

Os árabe-sauditas gostam de dizer: “Meu pai andava de camelo, eu dirijo um carro, meu filho pilota um jato - e o filho dele andará a camelo”. Embora um quarto das reservas remanescentes de petróleo esteja na Arábia Saudita, há uma sensação quase fatalista, entre muitos sauditas, de que constituem uma nação vivendo um “tempo emprestado”. O uso que os sauditas fizerem deste empréstimo provavelmente determinará o modo como o mundo vai deixar a era do petróleo.



Energia nos EUA: um contra ponto.
O geólogo Walter Youngquist observa que, se quisermos ter uma idéia da quantidade de energia que flui diariamente pela sociedade americana, basta calcular quanto de energia cada individuo tem a disposição em termos de “pessoas-vapor”. Partindo do pressuposto de que uma “pessoa-vapor” é igual a 0,25 cavalo-vapor, a 186 watts e a 635 BTU/h. Se o atual consumo de energia nos EUA fosse calculado pelo número de pessoas-vapor necessárias para realizar a mesma quantidade de trabalho, o resultado seria aproximadamente o triplo da população do mundo. Em termos atuais, o consumo de energia do americano médio equivale ao que produziriam cinqüenta e oito escravos trabalhando continuamente vinte e quatro horas por dia. Se “comprássemos a energia contida num barril de petróleo pelo mesmo preço que pagamos pelo trabalho humano (US$ 5 por hora), ele custaria mais de 45 mil dólares”, em vez dos 25 dólares atuais.

As idéias acima são um resumo de parte do conteúdo do livro A Economia do Hidrogênio, de Jeremy Rifkin – M. Books - 2003, cuja leitura eu recomendo para quem desejar ter um entendimento melhor dos acontecimentos e condicionamentos de nossa atual situação.

Rifkin, Jeremy - A Economia do Hidrogênio - A Criação do Web Energética em Escala Mundial e a Redistribuição do Poder na Terra

A Economia do Hidrogênio
A criação de uma nova fonte de energia e a redistribuição do poder na terra.
Autor: Jeremy Rifkin
Editora: M. Books


Fundação GAIA   http://www.fgaia.org.br/lojinha/hidrogenio.html


Em "A Economia do Hidrogênio", o renomado autor Jeremy Rifkin faz uma jornada esclarecedora pela próxima grande era comercial da história. Ele prevê o surgimento de uma nova economia sustentada pelo hidrogênio, a qual mudará fundamentalmente nossas instituições econômicas, políticas e sociais, a exemplo do que fizeram o carvão e a máquina de vapor no início da Era Industrial. 


Rifkin observa que estamos nos aproximando de um ponto crítico na era dos combustíveis fósseis, com conseqüências potencialmente desastrosas para a civilização industrial. Apesar de os especialistas afirmarem que temos ainda cerca de quarenta anos de petróleo bruto disponível barato, alguns dos mais destacados geólogos do mundo vêm sugerindo que a produção do petróleo pode atingir um pico, e então sofrer uma queda vertiginosa já no final desta década. 


Os países produtores de petróleo que não integram a OPEP já estão chegando a este pico, o que deixará a maior parte das reservas remanescentes nas mãos do politicamente instável Oriente Médio. As tensões crescentes entre o Islã e o Ocidente prometem difcultar ainda mais nosso acesso ao petróleo viável. 


No desespero, os EUA e outras nações poderiam recorrer a combustíveis fósseis menos puros, carvão, areia de alcatrão e óleo pesado, o que só agravaria o aquecimento global e comprometeria o já castigado ecossistema da Terra. A iminente escassez de petróleo deixa a vida industrial vulnerável a rupturas em cadeia e até mesmo ao colapso. De acordo com Rifkin, conforme a era dos fósseis vai adentrando seus dias de ocaso, um novo regime energético vem surgindo, com o poder de remodelar a civilização em sentidos radicais. 


O hidrogênio é o mais básico e onipresente dos elementos no universo. Ele compõe as estrelas e o Sol, e, quando devidamente empregado, representa o "combustível eterno". Ele jamais se esgota, e tampouco acarreta as nocivas emissões de CO². Células combustíveis energizadas por hidrogênio para uso comercial já estão sendo introduzidas no mercado doméstico, profissional e industrial. As grandes indústrias automobilísticas gastaram mais de dois bilhões de dólares desenvolvendo carros, ônibus e caminhões a hidrogênio, e os primeiros veículos fabricados em massa devem estar na estrada dentro de poucos anos. 


A economia do hidrogênio possibilitará uma redistribuição do poder. Todo ser humano poderá produzir sua própria energia na chamada "geração distributiva", tornando o controle oligárquico das grandes corporações, obsoleto.


 Milhões de usuários poderão conectar suas células combustíveis locais, regionais e nacionais de hidrogênio, através dos mesmos princípios e tecnologia da World Wide Web, compartilhando e criando um novo uso descentralizado da energia. 


O hidrogênio pode acabar com a dependência do petróleo, reduzir a emissão de dióxido de carbono e o aquecimento global, além de apaziguar guerras políticas e religiosas. O hidrogênio poderá se tornar o primeiro sistema energético democrático da história. 


Jeremy Rifkin é o autor dos best-sellers O Fim dos Empregos e O Século da Biotecnologia (esgotado), ambos traduzidos para mais de 15 idiomas. Desde 1994, Rifkin tem atuado como membro do Wharton Scholl's Executive Education Program, onde dá palestras a dirigentes de empresas e administradores seniores de todo o mundo, tratando das novas tendências na ciência e na tecnologia e de sua influência na economia, sociedade e ambiente globais. Ele é presidente da Foundation on Economic Trends, em Washington D.C.






O poder é partilhado na revolução 



do século XXI

Por Ricardo Abramovay | Para o Valor, de São Paulo

http://www.valor.com.br/impresso/cultura/o-poder-e-partilhado-na-revolucao-do-seculo-xxi 


Rifkin, articulador e ativista: prognósticos de 
quem conversa com personalidades do 
mundo político e empresarial 



Não é inocente o uso da palavra revolução no nome de batismo das eras econômicas. 
Mais do que técnicas e possibilidades de mercado, o que está em jogo na terceira revolução industrial anunciada por Jeremy Rifkin é um novo poder: partilhado, descentralizado, colaborativo ou, para usar a expressão do título de seu último livro, lateral. Em comum com as duas revoluções industriais anteriores, a do século XXI também emerge da convergência entre novos meios de comunicação e formas inéditas de produção de energia. 
A coerência dos grandes períodos históricos dos últimos dois séculos é dada por essa unidade entre comunicação e energia. O carvão e o vapor, no século XIX, abrem caminho não só para estradas de ferro, e imensas frotas navais, mas também para a massificação de materiais impressos, o que favorece o surgimento da educação pública na Europa e nos Estados Unidos. 
Na segunda revolução industrial, que domina todo o século XX, o petróleo e a eletricidade permitem o motor a combustão interna, o automóvel individual e, sobretudo a comunicação apoiada em grandes centrais elétricas: telégrafo, telefone, rádio e televisão.
A terceira revolução industrial tem como marca central a rede de energia/internet. O fundamental não está na energia, na internet ou na noção de rede, e sim na junção das três: não só a energia, mas parte crescente da prosperidade do século XXI virá de uma organização social assinalada pela descentralização, pela cooperação e pela partilha.
O prognóstico já seria intrigante se partisse de um destacado acadêmico ou de um ativista ligado a movimentos sociais globais. Mas Rifkin tem ainda a qualidade de hábil articulador voltado ao diálogo com importantes dirigentes políticos contemporâneos e personalidades centrais na formulação e execução das estratégias de empresas globais. 
Professor do Wharton School's Executive Education Program, da Universidade da Pensilvânia, autor de 18 livros (entre eles, já traduzidos para o português, "A Era do Acesso", "O Fim dos Empregos", "A Economia do Hidrogênio" e "O Sonho Europeu"), Rifkin, nos últimos dez anos, manteve estreito contato com figuras como Angela Merkel, Manuel Barroso e José Luiz Zapatero, o que contribuiu para que o termo terceira revolução industrial se incorporasse a inúmeros documentos da União Europeia. 
Ao mesmo tempo, em torno da terceira revolução industrial reúne-se hoje uma centena de dirigentes empresariais globais. Muito mais do que um conjunto abstrato de normas e prescrições, a terceira revolução industrial está na agenda de algumas das mais importantes forças sociais e políticas contemporâneas.
Pelas resistências que desperta e pela mobilização que exige, seu sucesso depende de uma nova narrativa. A do período que se esgota agora é clara: concentrar recursos, fortalecer os regimes exclusivos de propriedade e favorecer a busca estreita dos interesses individuais são condições para a eficiência alocativa, da qual decorreriam produção de riqueza e bem-estar crescentes. A crise desencadeada em 2008 foi a pá de cal que retirou coerência a essa narrativa, como mostra o livro em sua primeira parte.
A narrativa da terceira revolução industrial, também exposta no livro, apoia-se em cinco pilares, que trazem consigo uma reorganização na cultura, nos modos de vida e nas formas de se fazer negócio. O primeiro está na passagem (nada trivial, é claro) das energias fósseis para as renováveis. 
O segundo, e talvez mais importante dos cinco pilares, é a transformação do estoque de construções de todo o mundo em microusinas de coleta (e de distribuição) de energia. Na União Europeia, onde essa ideia se converteu em orientação de política pública, Rifkin fala da existência de 190 milhões de microusinas. Cada edificação tem o poder de absorver e transformar localmente energia vinda dos ventos, do sol e da reciclagem daquilo que seus ocupantes produzem e consomem. O princípio é que, contrariamente aos combustíveis fósseis ou ao urânio (energias de elite, que se encontram apenas em alguns lugares), as renováveis estão por toda parte. E, embora distante do horizonte brasileiro, Rifkin cita numerosos exemplos em que esse aproveitamento das energias descentralizadas e renováveis permite novos modelos de negócio.
O terceiro pilar está em tecnologias que permitirão armazenar (para se poder, então, distribuir) o produto dessas fontes inevitavelmente instáveis de energia de que são potencialmente dotadas as edificações. Rifkin prevê que, até meados deste século, a União Europeia terá uma economia do hidrogênio inteiramente apoiada em energias renováveis. 
Mas isso supõe - quarto pilar - que os dispositivos da economia da informação em rede possam promover a integração e a partilha desse fluxo de energia produzido de maneira descentralizada. Aí reside a nova unidade entre comunicação e energia. São redes inteligentes, mas que operam com base em energias produzidas localmente, ao contrário das duas revoluções industriais anteriores. 
Além de resolver um problema de oferta de energia, essas redes dão lugar a uma nova forma de poder, não mais hierárquico, mas distributivo, colaborativo, em rede. Não se trata apenas de substituir a centralização dos fósseis, da energia nuclear e das grandes hidrelétricas por gigantescas unidades solares ou eólicas. O mais importante é promover a oferta desconcentrada e partilhada de energia.
O quinto pilar está no sistema de transportes, que dará maior peso aos equipamentos coletivos e também, no que se refere aos veículos individuais, aos carros elétricos e baseados em células combustíveis, integrados igualmente a esse sistema descentralizado de redes inteligentes.
Nada garante, é claro, o triunfo do poder lateral. Mas o livro de Rifkin mostra condições especialmente privilegiadas para que colaboração social, partilha e descentralização formem a base da prosperidade no século XXI.
Ricardo Abramovay é professor titular do departamento de economia e do Instituto de Relações Internacionais da USP, pesquisador do CNPq e da Fapesp. Twitter: @abramovay - www.abramovay.pro.br

"The Third Industrial Revolution"

Jeremy Rifkin. Palgrave Macmillan. 304 págs., US$ 27,95

Ver também:

Jeremy Rifkin - A Terceira Revolução industrial: Como o Poder Lateral (dos pares?) está Transformando a Energia, a Economia e o Mundo

Tradução de:
Excerpted from Jeremy Rifkin's The Third Industrial Revolution: How Lateral Power is Transforming Energy, the Economy, and the World, Palgrave Macmillan 2011.



sábado, 24 de março de 2012

Life Inc: Capítulo Um, parte um => Nasce a Corporação - Por Que? Para Quem? Como?

By Douglas Rushkoff at 6:30 am Monday, May 11

Eu estarei postando um trecho do meu próximo livro, Life Inc., a cada Segunda de manhã até que o livro seja publicado, em 2 de Junho. Na semana passada, publiquei a introduction . Hoje, a primeira metade do capítulo um. Eu também vou manter os trechos acima como PDFs emLifeIncorporated.net..

CAPÍTULO UM
Uma vez surgida: A forma de vida CORPORAÇÃO
Alvarás (privilégios) e a Desconexão do Comércio
Se você não pode vencê-los ...
O comércio é bom. É a maneira através da qual as pessoas criam e permutam valores.
O Corporativismo é algo completamente diferente. Apesar de não ser completamente distinto do comércio ou do livre mercado, a Corporação é uma Entidade muito especifica, autorizada por monarcas, por razões que têm muito pouco a ver com ajudar as pessoas a realizar operações umas com as outras. Seu objetivo, desde o início, era suprimir as interações laterais entre as pessoas ou pequenas empresas e, ao invés, redirecionar todo e qualquer valor que eles criassem para um seleto grupo de investidores.
Esta agenda foi tão bem incorporada na filosofia, estrutura e prática das primeiras empresas licenciadas que ainda caracteriza a atividade de ambas, as empresas e as pessoas reais, hoje. A única diferença, hoje, é que a maioria de nós, os chefes das empresas incluídos, não tem idéia desses vieses subjacentes ou como, automaticamente, somos condicionados por eles. É por isso que temos que voltar para o nascimento da própria corporação para entender como os princípios do corporativismo se estabeleceram como padrões para os princípios sociais de nossa época.
Houve três grandes etapas principais na evolução da Corporação e cada uma reforçou a impressão do  corporativismo no inconsciente coletivo humano. A Corporação nasceu no Renascimento, obteve pessoalidade (equiparação às pessoas reais, em termos de direitos) no pós-Guerra Civil Americana, e depois, no século XX, foi reconhecida como o guardião benevolente e salvador da humanidade.
A maioria dos livros de história contam o desenvolvimento do contrato corporativo como um passo natural, quase evolutivo, no avanço do comércio. Até certo ponto, isso é verdade. Após a queda do Império Romano, no início da Idade Média, a Europa caiu em desordem. Os europeus viviam em isolamento uns dos outros, dominados pelas casas senhoriais rurais auto-suficientes e auto-governadas. Feudalismo, como o sistema político vigente veio a ser chamado, não era uma forma particularmente divertida para se viver - e, certamente, não para os camponeses que compunham a maioria da população do continente. Lordes Latifundiários davam extensões de terras para os vassalos em troca de lealdade militar. Vassalos, por sua vez, dominavam os camponeses que eram, geralmente, autorizados a subsistir com os restos de suas colheitas. Ao contrário do Império Romano, as leis variavam amplamente de lugar para lugar.
A falta de um sistema dominante de comércio deixou os senhores (lordes) fora de um significativo e crescente setor empresarial: a atividade que ocorria entre as pessoas de diferentes casas senhoriais (feudos) e além. Nos anos 1200, a evolução tecnológica, como moinhos de água e moinhos de vento, bem como o aumento das viagens e do comércio levou ao ressurgimento de cidades, fora do controle direto do senhor feudal. Cidades tornaram-se centros para a fabricação, troca e circulação de bens e proporcionaram um grande contraste com o comum cada um—com-seu-próprio modo de vida, das casas senhoriais e aldeias. Em suas novas definição urbanas, os servos  encontraram a liberdade jurídica, as oportunidades de trabalho e um lugar para começar de novo. Os cidadãos das cidades tornaram-se conhecidos como "burgueses", um termo que se espalhou pela Europa Ocidental medieval e forneceu as bases para a palavra "burguesia".
1. Na acepção romana antiga, designa local fortificado, ganhando na Idade Média aconotação de casteloforte ou mosteiro e suas cercanias, de onde se originaram diversas cidades.
2. (Figurado) A morada do burguês, local de luxo, protegido e de acesso restrito.
3. Na Inglaterra, designa a cidade ou vila que tem o direito de eleger representante para o Parlamento.
Sinônimos
·         cidade
·         urbe

Era só uma questão de tempo até que os burgueses crescessem tornando-se mais ricos e, potencialmente, ainda mais poderosos do que a aristocracia. Em vez de depender da propriedade de um pedaço fixo de terra, cultivada pelos camponeses e protegida por um exército de vassalos caro, esta nova classe de comerciantes e fabricantes podia aumentar a produção, comércio e aquisição quase infinitamente. O mercado onde operavam poderia crescer tanto quanto necessário para acomodar cada vez mais comércio, simplesmente espalhando-se para fora do centro da cidade. A cidade, então, naturalmente expandiu-se em torno do novo local, e este ciclo continuaria até a cidade acabar por florescer em uma metrópole, a qual por sua vez exige mais bens e comércio, e assim por diante. Os senhores feudais tentaram regulamentar todo este comércio e este crescimento, controlando e tributando os mercados locais, mas as pessoas sempre encontraram maneiras de contornar esses limites e restrições.
Um atravessador de tais limites foi o comerciante, que ressurgiu por volta do século XIII para servir como intermediário entre a cidade e o país, fornecendo os primeiros elos da cadeia de conexão de circulação de mercadorias entre o produtor, o varejista e o comerciante. Em dias não-mercantis, sapateiros, ferreiros e artesãos estavam acostumados a vender seus produtos através das janelas de suas oficinas. Ao permitir que os comerciantes criassem suas próprias lojas e vendessem esses itens para eles, os artesãos tinham mais tempo para fazer o que eles faziam melhor. Os donos das lojas não se especializavam em realmente fazer alguma coisa, mas na geração de lucros através da venda. Negócios por razões de negócios havia nascido. Ao longo das gerações seguintes, juntamente com os comerciantes, agiotas e os investidores que os apoiaram, esses varejistas se tornariam o núcleo da burguesia urbana. Enquanto a nobreza decaiu, em propriedade de terras,  finanças e poder - bem como em números - esta nova classe de puros comerciantes tinha acesso ao comércio internacional, investimentos e a uma economia alternativa.
Pior ainda para a aristocracia, como os comerciantes navegavam a vela, eles se beneficiavam dos vastos recursos de outros territórios. Enquanto a nova burguesia foi se convertendo em membros do nascente mercado global, a aristocracia tradicional era essencialmente fixada na terra. Aquela autoridade social que eles haviam deixado de oferecer aos seus assuntos, foi diminuindo tão rapidamente como a sua riqueza, influência e números.
A aristocracia ansiava por uma forma de participar na nova economia - uma maneira de investir que não os colocassem, ou aos seus bons nomes, em qualquer risco. Por seu lado, a nova classe comerciante tinha, certamente, aumentado a velocidade e amplitude da criação de riqueza - mas isso também gerou um ambiente de negócios altamente competitivo. Riqueza súbita poderia ser seguida por uma bancarrota  súbita se um único navio se perdesse no mar ou um incêndio destruísse uma oficina inteira. Empresas mercantis ainda eram, em sua maioria, familiares e raramente operavam mais do que algumas poucas viagens antes de um naufrágio ou outra calamidade levá-los a quebrar. Eles precisavam de uma forma de institucionalizar o seu sucesso enquanto eles estavam no topo, logo após seu navio haver chegado.
Esta é a paisagem em que o Renascimento veio a ocorrer e uma nova maneira de conduzir os negócios veio a emergir. A grande prioridade não era promover a atividade econômica, a cooperação global, ou a expansão colonial, mas, ao invés, congelar todo este desenvolvimento em uma posição particular e evitar que o elenco de personagens no topo mudasse muito, ao longo do tempo. Mas bloquear a riqueza era muito mais difícil para todo mundo agora que tanta inovação estava acontecendo - especialmente quando o sucesso tende a vir com uma perda de competência. De fato, enquanto o Renascimento é freqüentemente celebrado por sua ênfase na especialização e perícia, nada poderia estar mais longe da verdade.
A divisão do trabalho não é a mesma coisa que a especialização do trabalho. Na superfície, pode parecer que uma sociedade de comerciantes, gerentes e vários níveis de trabalhadores é mais especializada do que uma de lojistas e artesãos. Mas não era uma vantagem para o gerente contratar trabalhadores altamente especializados, que poderiam exigir salários mais altos. Em vez disso, os gerentes padronizaram os processos, a fim de contratar trabalhadores com o minimo de qualificação e mais substituíveis que estivesem disponiveis. Longe de encorajar especialização, a competência ou a inovação, toda esta atividade mercantil e industrial, na verdade, favoreceu a generalização.
Enquanto a população crescia e a demanda por bens aumentava, terra aberta era privatizada. O que desenraizava camponeses, forçando-os ao mercado de trabalho genérico. Anteriormente, a vida de um camponês tinha sido menos ou completamente independente do dinheiro e do mercado, encontrados nos centros urbanos. Camponeses faziam o que eles podiam produzir com suas próprias mãos e trocar localmente. Era uma vida de grande limitação, mas também de auto-suficiência. Com a propagação da economia comercial, o camponês tinha que transformar a única habilidade comerciável que ele tinha - trabalho físico - em seu meio de sobrevivência. Evidências desse tipo de trabalho assalariado podem ser rastreadas até Portugal, em 1253. Assim como o estacionamento Home Depot, onde trabalhadores imigrantes mexicanos se reúnem hoje, havia pontos de encontro designados, geralmente uma praça ao amanhecer, onde um capataz, que representava um empregador, se encontraria com diaristas e os contrataria direto da rua.
Enquanto isso, a classe de gestão procurava diversificar-se tão rapidamente quanto possível, o que prejudicava qualquer especialização deles próprios. Uma vez que um lojista de baixo nível ou assalariado tivesse guardado dinheiro suficiente para dar o primeiro passo em níveis mais avançados de comércio, seu primeiro movimento era comissionar o  máximo do trabalho que ele costumava executar. Então ele começava a diversificar suas mercadorias e atividades financeiras. Quanto mais alto o capitalista estava na escada econômica, mais amplos e variados eram os seus investimentos e empresas - e mais ele se desconectava de habilidades de negócio e das pessoas que as executavam.
Assim, tanto a aristocracia como os mais bem sucedidos da classe mercantil exigiram um novo mecanismo pelo qual eles poderiam investir seu capital quase "genérico" na forma de puro poder  financeiro e jurídico. Esse mecanismo tinha de oferecer a capacidade de investir em um negócio com total discrição, o anonimato, ser de responsabilidade limitada, participação passiva e com pouca ou nenhuma experiência.
As tradicionais empresas familiares, que compartilhavam trabalho, risco e capital, por laços de sangue, já não eram suficientes para a tarefa. Novos tipos de leis, contratos e moedas padronizadas seriam necessários para estender esses acordos a pessoas de famílias e regiões diferentes. Florença, com a sua localização chave no Mediterrâneo (bem como sua moeda amplamente aceita, o florin de ouro), tornou-se o berço das primeiras "sociedade de responsabilidade limitada". Precursores das corporações, elas distinguiam a responsabilidade dos diretores da firma e daqueles que simplesmente contribuíam com capital, que só seriam responsáveis pelo montante de sua contribuição. Além disso, os acionistas não estavam sujeitos a ser listados entre os parceiros de negócios, permitindo aos nobres e monarcas, esconder os seus interesses comerciais. O conceito de sociedade limitada rapidamente se espalhou por toda a Europa, financiando investimentos ousados ​​de minas e plantações até aventuras colonialistas. Através desta nova oportunidade para a participação silenciosa e passiva, a nobreza tornou-se louca para investir.
Como os operadores desses grandes projetos procuravam assegurar ainda mais capital a partir de uma ampla gama de regiões e classes sociais, eles criaram uma forma mais avançada de parceria limitada chamada sociedade anônima, que poderia gerar investimentos de acionistas em um mercado aberto. Isso inaugurou o mercado de ações, permitindo a criação de empresas por praticamente qualquer pessoa capaz de conseguir investidores. Ele quase marcou uma era de meritocracia nos negócios, o que teria gerado uma rotatividade sem precedentes na estrutura de classes. Os comerciantes mais ricos eram agora tão vulnerável a iniciantes como a aristocracia.
Finalmente, a monarquia tinha algo que poderia oferecer a burguesia que ameaçou derrubá-los.
Uma Criança Nasceu
Embora os monarcas pudessem carecer dos grandes recursos financeiros das sociedades anônimas, eles ainda desfrutavam de uma vantagem estrutural sobre qualquer uma delas: a autoridade jurídica central. Tomando como exemplo a Igreja, que tinha uma tradição de "incorporação" de grupos de monges em entidades únicas, a realeza exerceu sua autoridade para sancionar um novo tipo de ente  licenciado: a corporação. Era genial.
A corporação não era um negócio ou uma entidade governamental, mas uma combinação dos dois. Seus patrocinadores governamentais - os monarcas - tinham a autoridade para escrever as leis comerciais e garantir os monopólios, seus participantes de negócios - as empresas autorizadas - gozavam do direito exclusivo de explorá-los.
Ao conceder a uma sociedade anónima especifica uma carta legal para fazer negócios, os monarcas poderiam dar-lhe um controle de monopólio sobre seu setor de negócios. Assim, uma companhia de navegação que antes competia com outras pelos recursos de um conjunto de ilhas agora gosava de controle exclusivo, sob mandato do monarca, sobre esse domínio. Nenhuma outra empresa podia fazer negócios naquela região, e mesmo os locais ou colonos seriam proibidos por lei de concorrer com a corporação, extraindo seus recursos ou vendendo seus bens. Para outra corporação seria concedido o monopólio sobre a produção de vidro, outra venderia cerveja, e assim por diante. Mediante a emissão de cartas corporativas, os reis poderiam capacitar os mais leais a eles com o controle permanente sobre suas regiões coloniais ou indústrias.
O problema das sociedades anônimas, de aumento da concorrência com novas empresas ou com atividade locais, estava resolvido. E, em contrapartida pela concessão de monopólios legalmente exigíveis sobre determinadas indústrias e regiões, os monarcas obtinham apoio fiscal e participação muito superiores ao valor de qualquer investimento em dinheiro que poderiam ter feito. Como um advogado holandês explicou em uma carta descrevendo a mais antiga autorização deste tipo, a da Companhia das Índias Orientais, holandesa: "O Estado deve alegrar-se com a existência de uma associação que lhe paga tanto dinheiro a cada ano fazendo com que o país obtenha três vezes mais lucro do comércio e navegação nas Índias do que os acionistas ".
Para os comerciantes, cujos negócios anteriormente duravam apenas durante uma expedição única, o acordo oferecia uma maneira de ganhar status mais permanente, proteção militar da Coroa e o direito de explorar novas regiões e povos com autoridade e impunidade. Igualmente importante, eles não poderiam perder mais do que seu investimento inicial. A "responsabilidade limitada" concedido em uma carta significava que as dívidas de uma empresa morriam com a falência da corporação. E a proteção contra a bancarrota era concedida pelo Estado.
Ao inventar esta entidade virtual - a corporação autorizada - a aristocracia e a burguesia entraram em uma co-dependência mútua que mudou o caráter de ambas. Através destes primeiros grandes monopólios comerciais, tais como a inglesa Muscovy Company de 1555, a British East India Company de 1600, ou a holandesa United East India Company de 1602, os monarcas encontraram uma maneira de estender seu alcance sem o custo ou responsabilidade de uma expedição militar oficial. Melhor ainda, para os monarcas, os comerciantes operando a corporação passariam a ser súditos leais, dependentes da Coroa para a sua legitimidade, proteção e cláusulas de escape.
A corporação licenciada foi um acerto entre ambos para a regra permanente e a riqueza permanente, que constituia um impasse entre os dois grupos. Os contratos que monarcas e mercantilistas escreveram não só interromperam o seu próprio declínio do poder; mas pararam o tempo, construindo um conjunto de prioridades corporativistas que até hoje não mudaram significativamente. Em vez disso, essas prioridades trabalham para mudar o mundo e as pessoas em conformidade com as regras do corporativismo.
Pessoas que sempre estiveram envolvidas em negócios, uns com os outros, agora seriam obrigados a fazê-lo através dos poderes dos monopólios. Todo o contato lateral entre as pessoas e empresas agora seria mediado por autoridades centrais. Qualquer criação ou troca de valores teria que ser executada através destas empresas centralmente mandatárias, em um sistema imposto por lei, controlado por moeda e perpetuado através da erosão de todas as outras conexões entre as pessoas e seu mundo. Além disso, a ênfase do negócio iria mudar: da criação de valor por pessoas, para a extração de valor pelas empresas.

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Atenciosamente.
Claudio Estevam Próspero 
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quarta-feira, 21 de março de 2012

Jeremy Rifkin - A Sociedade Pós-Capitalista na Era do Acesso


De: Claudio Estevam Prospero
Enviada em: quinta-feira, 18 de novembro de 2010 19:17
Assunto: 2 (dois) Resumos do livro: A Era do Acesso, Jeremy Rifkin ---- Benefícios e riscos de uma migração de [[[ Relações de Propriedade (Capitalismo Industrial) ]]] para [[[ Relações de Controle de Acesso (Capitalismop Cultural) ]]].


A Sociedade Pós-Capitalista na Era do Acesso

Thiago Carvalho de Sousa
Paulo Eduardo Azevedo Silveira

Introdução
A nova sociedade será uma sociedade do conhecimento.

Durante o século 20, a força predominante politica e socialmente fora o operário desqualificado e braçal, mas isto está prestes a mudar. A sociedade baseada no conhecimento quebra as fronteiras: o conhecimento estará ao alcance de todos.

É com esse discurso que Peter Drucker traz a tona o que a tecnologia da informação acarretará ao capitalismo. Peter Drucker é o criador da expressão "trabalhador do conhecimento", ao lado de Fritz Machlup, economista de Princeton, que cunhara "empresas do conhecimento".

Jeremy Rifkin, economista americano, também discursa sobre as mudanças que o conhecimento trará para essa nova era, a qual ele se refere pela “Era do Acesso”; em seu recente livro, de mesmo nome, Rifkin estuda os efeitos desse acesso ao conhecimento para o capitalismo. É sobre este livro que este texto se baseia, após um estudo minucioso de seus capítulos. Alguns trechos se referem a opinião argumentada dos autores deste texto.

 Em apenas 100 anos, o trabalho agrícola deixou de ser o setor com maior participação da população, para ocupar apenas 25% no início deste século. A maioria ainda se encontra no setor industrial, porém este também vem sofrendo queda percentual.

O grupo que mais vem crescendo é o dos "trabalhadores do conhecimento", cujos empregos necessitam de alto nível escolar. Nos Estados Unidos, esse setor já ocupa um terço da força de trabalho.

Os trabalhadores do conhecimento se diferenciam dos operários manuais. Aqueles são "profissionais", e não "trabalhadores", isto é, eles utilizam-se de um conhecimento adquirido formalmente (escola, faculdade, ...) para realizar o seu trabalho.

Esses trabalhadores do conhecimento necessitam de uma educação formal, que concede a eles a habilitação necessária para a sua profissão. E além disso, também precisam estar se renovando sempre, para se manterem atualizados. A educação terminava quando começava o trabalho, na sociedade do conhecimento a educação não tem fim.

Trabalhadores altamente qualificados precisam de uma entidade onde possam aplicar suas especialidades e organizá-las para algum propósito (chamada de instituição por Phil Agre). Essas instituições sofrem transformações raras  e muito lentas no seu modo de pensar e funcionar. A sociedade do conhecimento vem iniciando uma nova mudança.

O conhecimento passa a tomar o lugar de principal recurso econômico.

 "Produzir mais, com menos trabalhadores". Esse é o paradoxo da indústria na sociedade do conhecimento.

Há 40 anos atrás, o preço da mão de obra representava 30% do preço final da produção. Hoje não passa de 15%. Os trabalhadores industriais estão, gradativamente, deixando de ser o principal mercado de consumo.

Previsões indicam que em 2020 a produção industrial irá dobrar, porém o número de pessoas envolvidas cairá de 20% para 12%. Nos Estados Unidos, essa transição já ocorrera.

O declínio da indústria como geradora de riquezas e empregos irá propiciar o nascimento de um novo protecionismo, como o que acontecera na agricultura, setor no qual os países desenvolvidos possuem uma fortíssima estratégia de subsídios governamentais.

Durante o século 20, a indústria foi completamente a favor de um comércio livre, sem fronteiras. Agora a mesma torna-se inimiga dessa globalização e a favor de uma prática protecionista de seu mercado.

1- Entrando na Era do Acesso

            A Economia de Mercado (capitalista), que é baseada no processo de vender e comprar mercadorias está ultrapassada. A sociedade está repensando que tipo de relações quer cultivar. Na nova era, os mercados estão aderindo ao sistema de redes. O conceito de propriedade que era tão importante está sendo transformado.  Ela deixa a empresa lenta demais, e como o mundo está com uma cultura cada vez mais veloz, a propriedade torna-se quase que imediatamente desatualizada. A propriedade não irá desaparecer, mas não será mais negociada em mercados. As pessoas apenas comprarão o acesso a ela.

            Na nova era, as empresas podem fazer leasing, alugar ou cobrar taxas pela utilização de um bem. A relação entre vendedor e comprador é substituída pelo acesso. Antigamente o capital físico era o fator mais importante, mas hoje foi superado pelo capital intelectual.  A riqueza é contabilizada pela imaginação e criatividade humana, e não mais pelo capital físico. E as empresas que possuem capital intelectual têm vantagem competitiva em relação às outras e exercem controle sobre as regras a serem seguidas  pelos usuários.

            A Era do Acesso transforma a cultura humana e a vida como um todo em commodity, mudando radicalmente o conceito de trabalho. Criou-se então o comércio baseado em experiências pessoais. As tarefas rotineiras estão sendo substituídas pela automatização, ou seja, "máquinas inteligentes".

            Infelizmente, a Era do Acesso apenas é acessível a pessoas com grande poder aquisitivo, o que caracteriza a defasagem social e econômica.

2-Quando os Mercados dão Lugar às Redes

            A computação está transformando o mercado em um sistema nervoso global, onde o comércio é o ciberespaço e a economia é a rede. Há vários tipos de redes para empresas de fornecedores, clientes, produtos e cooperação tecnológica visando o desenvolvimento dos produtos e otimização dos lucros.

            A lei de Moore diz que o processamento de chips dobra a cada 18 meses e seu custo de produção diminuiria ou tornar-se-ia constante. O ciclo de vida dos produtos está diminuindo, pois logo que são lançados já precisam de inovações. Há estimativas de que 20% do conhecimento de uma empresa ficará obsoleto após um ano. Empresas estão se unindo e fazendo uma espécie de seguro coletivo para conseguir acompanhar essa evolução tão rápida.

            A indústria cinematográfica é um exemplo a ser analisado, pois o risco de seu produto (o filme) é grande e os investimentos são bastante altos. É um mercado onde ter acesso é essencial, assim como ser mutável e capaz de acompanhar as rápidas mudanças das condições econômicas. Estas empresas empregam poucas pessoas pois todo o seu trabalho é realizado por agentes independentes, que trabalham com elas em parcerias temporárias para facilitar sua eficácia e agilidade no acompanhamento dessas mudanças.


3- A Economia sem Peso

            O avanço tecnológico está fazendo com que os produtos fiquem cada vez menores e mais leves.  Um computador que antes pesava 20 quilos hoje pesa 3 quilos e é bem mais potente.  Além dos produtos, o que também está encolhendo são os imóveis.  Isso faz  com que os escritórios tornem-se espaços mais sociáveis onde todos trabalham juntos, facilitando a comunicação.  Esses espaços abertos aumentam a produtividade, pois todo o processo torna-se mais rápido.

            Com a utilização da técnica just-in-time, os estoques também estão perdendo peso.  Isso faz com que as empresas economizem no custo de armazenagem.  O dinheiro está se desmaterializando e sendo comercializado em redes eletrônicas. Isso traz como conseqüência o declínio da poupança e o aumento da dívida pessoal, pois o que prevalece hoje é o ágio rápido e não a acumulação.

4- Monopolizando Idéias

            As redes estão invadindo o novo sistema capitalista, no qual o mercado prevalecia. Nesse tipo de negócio, a relação vendedor-comprador é substituída por fornecedores e usuários e a propriedade intangível ganha força em uma era baseada no acesso.

            A franchising é um exemplo de negócio entre fornecedor e usuário.  Empresas-mãe concedem a franquia, o acesso a um conceito de negócio e este conceito está relacionado a ativos intangíveis como marca, procedimentos, etc. Funciona como um clone do negócio original.  Nessa negociação, o franqueador fornece, além da licença, equipamentos, treinamento, entre outras coisas para que tudo tenha um padrão, pois todas as franquias devem ser padronizadas, desde atendimento até o local físico.

            Este é um tipo de negócio onde todos ganham.  Hoje, praticamente todo produto ou serviço intangível está sendo franqueado. Até genes, sementes e animais clonados são alugados.  Mas a essência do negócio, que são os aspectos intangíveis, continua sendo propriedade do franqueador.  A verdadeira propriedade é daqueles que possuem know-how, conceitos e idéias.

5- Tudo São Serviços

            Mudanças radicais estão ocorrendo na organização das relações econômicas.  Os produtos são transformados de bens para serviços, ou seja, os produtos são apenas coadjuvantes, já que o serviço que vem incluso na compra do bem predomina na hora da compra. Isso porque os produtos viraram commodities. Um exemplo é o sucesso do leasing, onde os proprietários continuam sendo os fabricantes ou revendedores.  Eles apenas alugam o bem a seus clientes, que têm apenas o acesso e não a posse. É a reestruturação do sistema capitalista.

            Antigamente, as pessoas pertenciam a terra.  Depois foi criada a propriedade privada que mudou a natureza das relações humanas.

            Os serviços foram criados para auxiliar a produção e a distribuição dos bens.  Eles não são classificados como propriedades.  São imateriais e intangíveis.  Assim, o conceito que define a vida social não é mais a propriedade.

            Hoje, os produtos recebem melhorias e serviços de valor agregado.  Neste novo sistema, são os serviços e as melhorias que contam no produto.  Vários produtos, como as enciclopédias, estão sendo desmaterializados em serviços.  Isso possibilita economia de recursos, menos poluição, ou seja, menos prejuízo ambiental.  O cliente não compra o produto em si, e sim o que eles fazem.  Assim, a venda (vendedor-comprador) é substituída pelo acesso (servidor-cliente). 

6- Transformando as Relações Humanas em Commodities

            Com a superprodução da geração pós-Segunda Guerra Mundial, os mercados dos clientes ficaram saturados.  Daí surgiu a preocupação com o cliente, pois era preciso diferenciar os produtos para ganhar a concorrência.  Assim, a perspectiva de marketing ganhou papel importante na vida comercial.  Controlar o cliente passa a ser a nova meta.

            A nova economia traz a Era do Acesso.  E ela é definida pela transformação das experiências humanas em commodities e por novas perspectivas de marketing, onde a prioridade é estabelecer relações sólidas com seus clientes.

            A preocupação com a participação no mercado foi substituída pela preocupação com o cliente.  O foco não é vender um único produto ao máximo de clientes e sim vender o máximo de produtos a um único cliente.  Assim se conquista e mantém a fidelidade do cliente.  E com as novas tecnologias de relacionamento, como códigos de barras ou programas especiais, é possível saber o tipo de cliente, o que ele gosta, a freqüência de compra, etc.  Isto é, o feedback permite às empresas prever e suprir as necessidades do cliente.  As empresas passam a atuar como agentes, encontrando maneiras efetivas de estabelecer, melhorar e manter o relacionamento com os clientes.

            Para atingir a fidelidade do cliente e criar relacionamentos duradouros, é preciso estabelecer “comunidades de interesse”.  Em primeiro lugar, elas tornam o cliente consciente dos produtos e serviços.  Assim, o cliente se identifica com o produto ou serviço e passa a ter um relacionamento mais interativo com a empresa.  Depois são promovidos eventos onde os clientes de uma mesma empresa, que possuem interesses em comum, possam se encontrar.  Isso é um marco na nova forma de condução de comércio.

7- O Acesso Como um Modo de Vida

            A Era do Acesso está se solidificando através da troca de valores. O que antes era representado pela propriedade, hoje é representado pela economia de rede ou relações de acesso. Com ativos intangíveis, perspectiva de marketing e a valorização dos relacionamentos, a reestruturação da economia se desenvolve.

            As CIDs, urbanizações de interesses comuns, transformaram as comunidades em commodities. As pessoas que compram casas nas CIDs procuram comprar um estilo de vida, assegurar o acesso a uma rede de pessoas que compartilham valores e sentimentos, conveniência e serviços oferecidos.

            Mas, morando numa comunidade fechada, as pessoas deixam de possuir o direito da propriedade, já que vem com acesso a arranjos de moradia coletiva e passam a viver de acordo com regras preestabelecidas pelas CIDs.

            Também voltados para o estilo de vida, os aluguéis estão atraindo cada vez mais pessoas em ascensão social que não querem arcar com as responsabilidades de uma casa própria. Além do apartamento, são oferecidos serviços de acesso a bibliotecas, academias e serviços de jardinagem.

            O time-share é o acesso a uma propriedade durante um período determinado a cada ano. Ele é freqüentemente usado por pessoas que gostam de tirar férias e não querem empregar dinheiro em uma segunda casa. Com ele, as pessoas têm acesso a resorts, estações de esqui, entre outros serviços.

8- A Nova Cultura do Capitalismo

            Na nova era do capitalismo, o acesso tem maior valor que os bens  materiais, pois a comunicação é mais valorizada atualmente. Porém, quando este é transformado em commodity, transformar-se também a cultura em commodity, que é a comunicação  entre as comunidades.

            Após usar a cultura, utilizaram as artes, que são meios sofisticados da expressão humana, desejos e significados sociais para fazer propagandas. E com a saturação do consumo, irão fabricar experiência de vida que será a próxima fase do sistema capitalista.

            A industria cultural ou capitalismo de experiência já é antiga no setor de turismo cook que foi o primeiro a fazer "pacotes" de experiência profissional, ou seja, vendida além da viagem, tudo o que o cliente iria precisar.

            Atualmente, os "megashoppings" e os centros temáticos de diversão são responsáveis por grandes partes da cultura comercial. Os espaços públicos, que antes eram os espaços culturais do povo, foram absorvidos pelos shoppings. Estes lugares são meios da comunicação sofisticados, trazendo a cultura do mundo para um espaço fechado. Neles podemos ter tudo: creches, lazer, escolas, comércio, etc. Sua atividade primária é o entretenimento e as experiências vividas. Porém, são privados e com várias restrições e exclusões.

            A economia  está sendo transformada em um teatro. O que no capitalismo era caracterizado pela produção,  hoje é por performance e por experiência de vidas.

9- Garimpando a Paisagem Cultural

            O ciberespaço tem a capacidade de transformar o mundo físico em realidade virtual, onde as comunicações virtuais são tão abrangentes que se tornam mais relevantes que a comunicação face a face. Conterá produções culturais de todos os tipos: experiências humanas do passado, presente e futuro em um único texto. A realidade será uma commodity manufaturada e medida.

            Os profissionais de marketing descobriram que os consumidores não compram produtos, mas símbolos. Atualmente, estão investindo fortemente em propaganda e principalmente em campanhas sociais para influenciarem nos nossos valores e culturas pois embutem em nossas compras um significado cultural. O consumidor passa a ser uma commodity do marketing.

            Porém quem controla os canais do ciberespaço terá vasto controle sobre a vida das pessoas, controlando quem terá acesso (inclusos) e quem não terá acesso (exclusos), sendo denominados de porteiros.

            Com a explosão do marketing, os intermediários culturais (artistas, intelectuais e publicitários) foram trazidos do anonimato para o comércio, pois conseguem analisar as pessoas e descobrir qual será a nova tendência para o produto. Porém, na era do acesso, esta influência tão forte não será só nacional, e sim mundial, podendo alguns países até perder suas culturas e línguas.

10- Uma Fase Pós-Moderna

            A modernidade foi caracterizada por uma crença ideológica, com uma visão  mecanicista, regular, previsível e divisível do universo, onde a hierarquia seria tocada por sujeito experiente e objeto passivo.

            Já o pós-modernismo vê o homem como um participante, manipulador e influenciador de um espaço onde nada é estático. No pós-modernismo, a matéria é formada de energia e não é divisível. Atualmente milhões de pessoas gastam a maior parte de sua vida vendo televisão e buscando o lazer.

            Antigamente, a burguesia vivia mais fechada em suas propriedades, com uma vida tranqüila e organizada. Porém, com o passar do tempo, começou a preocupar-se mais com o íntimo e a autoconfiança. Os especialistas de marketing, percebendo isso, passaram a valorizar mais o consumo que o produto.

            As pessoas passam a buscar cultura e experiência de vida, tornando-se mais flexíveis para ajustar-se às mudanças. A tecnologia de comunicação também passou por mudanças. Primeiro foi a impressão, que trouxe a padronização, contratos comerciais, contabilidade e pela primeira vez transformou a comunicação em commodity. Em segundo lugar, foi a computação, em que a autoria original é ameaçada. As próprias pessoas se confundem, suas personalidades são fluídas e transitórias. Não há mais fronteiras e espaços entre elas.


11- O Conectado e o Desconectado

            As grandes empresas globais de mídia estão fazendo "mega fusões" para monopolizar o mercado de comunicação, e assim controlarem quem tem acesso ou não à cultura e às experiências. Um exemplo é a Internet, que era para ser pública, aos poucos vem se tornando dominada.

            Esta mídia global destrói as fronteiras políticas, destruindo as nações e diminuindo muito o poder do estado. Até a cobrança de impostos é dificultada com esta situação. A desculpa utilizada é que isso facilita a inovação, porém os cidadãos transformam-se em marionetes dessas empresas.

            Outro problema é que a maioria das pessoas do mundo não tem acesso a esse novo mundo. São pessoas sem emprego, sem moradia, que vivem sem condições de segurança e higiene. Sem condições de viver. Estas pessoas estarão cada vez mais excluídas na era do acesso. Metade das pessoas nunca fizeram uma simples ligação telefônica.

            Embora o ciberespaço tenha como finalidade inicial voltar-se para a cultura, atualmente está direcionando-se para as propagandas que lhe rendem mais. O mesmo fenômeno ocorre com o rádio e  a TV a cabo.

12- Resumo de uma Ecologia da Cultura e do Capitalismo

            Antes, as relações de posse de propriedades privadas nos garantiam a liberdade, nos davam o direito de excluir o acesso dos outros aos nossos bens. Agora, na era do acesso,  a inclusão e o acesso garantem a nossa liberdade e o direto de não ser excluído.

            Para assegurar o acesso a uma economia ciber espacial global, é preciso reconstruir as culturas locais diversificadas. Os países com economia forte, possuem um terceiro setor poderoso, que é responsável por preservar a história e a cultura das pessoas. Contudo esta responsabilidade está sendo passada do governo para o terceiro e quarto setor.

             A transformação da cultura em commodity irá matar a própria cultura, uma vez que é nesta onde nascem as relações pessoais que inspiram confiança e longevidade. A cultura estabelecida por contratos comerciais não possui sentimentos, não causam experiência emocional. A semente para a sua destruição está sendo semeada com a extinção das relações pessoais, acabando com a criação da cultura, como ocorreu com a música. Pois, após ser comercializada perdeu parte do seu significado cultural e sentimental.

            Contudo, nos Estados Unidos, os jovens são preparados desde cedo para o mundo cibernético, obtendo experiências pelo mundo virtual. Há grandes discussões sobre isso, pois não podemos abandonar o conhecimento do espaço geográfico e sim conciliar os dois conhecimentos agravando o problema da perda de cultura. Outro agravante é que a pessoas também estão mudando seus hábitos. No capitalismo industrial voltavam-se para o trabalho. Já no capitalismo cultural as pessoas irão voltar-se para o lazer. Mas a idéia central do lazer poderá ser desconfigurada, uma vez que este é voltado para a liberdade que será restrita na era do acesso.    


Quem é Peter Drucker?
Peter F. Drucker é escritor, professor e consultor. Ele é o chairman honorário da Drucker Fundation e é professor de ciências sociais na Universidade de Claremont, Califórnia.

Ele é colunista do The Wall Street Journal e freqüente contribuidor do Harvard Business Review. Em 1997, ele foi capa da  revista Forbes, com o título "Still the Youngest Mind".

Muitos o consideram como um visionário, especialmente na área de administração ligada a tecnologia de informação e sociedade do conhecimento.

Quem é Jeremy Rifkin?
Jeremy Rifkin escreveu vários livros sobre o impacto da tecnologia sobre os meios de se fazer economia. Formado em economia e relações exteriores, ele é consultor econômico do governo dos Estados Unidos.

Ele é considerado uma das 150 pessoas mais influentes na política econômica dos Estados Unidos, de acordo com o The National Journal.

Bibliografia
Aqui estão alguns links e referência bibliográfica:, em negrito estão os textos mais importantes.

·        The Future of Capitalism (A conversation with Jeremy Rifkin, president of the Foundation on Economic Trends in Washington D.C., author of books like "The End of Work" and "The Biotech century", about his book "The Age of Access")

  • The Age of Access, Jeremy Rifkin  - dá uma olhada em 
  • The End of Work, Jeremy Rifkin - dá uma olhada em
  • O fim dos empregos, resumo em português de ex alunos de mac 339

Edgar Macari Junior*
Universidade Federal de Santa Catarina - Centro de Ciências Jurídicas – CCJ Informática Jurídica – 2006.1
Nome: Edgar Macari Junior
Livro: “A Era do Acesso”, Jeremy Rifkin 
Professor: Aires José Rover

1. Capítulo 1
1.1. Entrando na Era do Acesso Durante a Idade Moderna os conceitos de mercados e propriedade andavam intimamente relacionados. A palavra mercado (market) surgiu durante o século XII para designar o espaço em que vendedores trocavam bens e gado. Alguns século depois, a palavra mercado passou a ser usada para referir-se ao processo de vender coisas. Desde que nascemos somos condicionados a pensar que estamos nessa vida para obter e acumular bens materiais, e que somos o que temos.

Nos tempos atuais, as redes estão tomando o lugar dos mercados e ,cada vez mais, pagamos por ter acesso e não por algo concreto, uma propriedade. O conceito de propriedade está sendo fortemente abalado, o que não significa que a propriedade irá desaparecer nessa Nova Era. O mercado que estava acostumado a ter vendedores e compradores, agora está se habituando a ter fornecedores e usuários. Na Era do Acesso, os conceitos de “ter”, “guardar” e “acumular” estão ficando obsoletos, pois a velocidade das inovações tecnológicas e a elevado ritmo das atividades econômicas tornam a idéia de propriedade bastante problemática.

Empresas de mídia transnacional, acompanhadas pelas redes de comunicação, que se espalham pelo planeta estão ameaçando elementos culturais locais sobrepondo-os como commodities culturais e entretenimentos. Mais do que nunca a população gasta tanto no acesso de experiências culturais quanto na aquisição de bens materiais.

1.2. Entre Dois Mundos A produção de bens materiais está cedendo lugar à produção cultural. Empresas de mídia transnacional estão tomando o lugar de grandes empresas da Era Industrial e usando a nova revolução digital nas comunicações para interligar o mundo e transformar cultura em commodity. Nessa nova era, onde informações são muito valiosas, a produção cultural será cada vez mais uma forma dominante de atividade econômica. O acesso a recursos e experiências culturais tornam-se tão importantes quanto manter as posses.

Cada vez mais os trabalhos manuais, tarefas repetitivas serão substituídas por máquinas. Os trabalhadores com remuneração mais baixa provavelmente serão tão baratos quanto a tecnologia que os substituirá. A transição do capitalismo industrial para o cultural está pondo em xeque muitas das suposições básicas sobre o que compõe a sociedade humana. O tempo e a atenção se tornaram o bem mais valioso para uma empresa e a própria vida dos indivíduos tornou-se o melhor mercado.

1.3. O Conflito Entre a Cultura e o Comércio A questões de poder institucional e liberdade vieram a se tornar mais importantes do que nunca, uma vez que o acesso a cultura é cada vez mais transformado em commodity controlado por corporações globais. Desde o início dos tempos até a Era do Acesso, a cultura sempre precedeu os mercados. Definir um equilíbrio entre a esfera cultural e a esfera comercial seja um dos maiores desafios da próxima Era do Acesso.

1.4. Mutáveis Proletários Toda essa revolução causada pela Era do Acesso não poderia deixar de causar grandes mudanças no comportamento das novas gerações. Um geração para a qual o acesso já é uma forma de vida, onde estar conectado é mais importante do que a propriedade. Alguns psicólogos e sociólogos que estudam essa nova geração que está crescendo na frente dos computadores, em ambientes simulados, como salas de bate-papo, acham que pode fazer falta a esses jovens experiências sociais mais profundas, fora dos ambientes simulados onde a vida seria um pouco mais do que um entretenimento.

Outros, mais otimistas, acham que esse desenvolvimento gerará uma consciência humana mais brincalhona e flexível. As crianças que estão crescendo em meio a rede estão deixando de lado a idéia de o que é meu e seu, para assumirem comportamentos mais cooperativos do que competitivos. Mas essa é uma parcela muito pequena da população mundial. Enquanto 1/5 da população migra para o ciberespaço, o resto da humanidade ainda tem que lutar pra sobreviver, lutar contra a escassez física.

O abismo existente entre pobre e ricos é gigante, mas o abismo que existe entre conectados e desconectados é ainda maior. A noção de acesso e de redes está redefinindo toda a sociedade. Até pouco tempo a palavra acesso denotava apenas o ingresso a espaços físicos, mas agora acessar significa uma abertura para novos mundos e de possibilidades infinitas.

2. Capítulo 2
2.1. Quando os Mercados Dão Lugar às Redes Os avanços tecnológicos e o advento do acesso tornaram possível uma nova forma de conduzir os negócios, a “abordagem em rede”, à vida econômica. Uma das maiores mudanças foi a mudança do comércio primário do espaço geográfico para o ciberespaço. Enquanto na economia baseada no espaço geográfico os vendedores e compradores trocam bens e serviços, onde a meta é transferir a propriedade, no ciberespaço, servidores e clientes (fornecedores e usuários) trocam informações., onde a meta é fornecer acesso.

O plano de interligar computadores em uma rede veio de uma necessidade estratégica militar, a princípio chamada de ARPANET. A internet é a rede das redes, suas mensagens podem ser enviadas de diversas maneiras: cabos telefônicos, satélites, cabos de fibra óptica. Para uma sociedade acostumada com o conceito de propriedade é difícil compreender a internet: não é uma coisa, nem uma entidade, também não é dirigida por ninguém e ninguém a possui, são apenas computadores interligados. Cada vez mais o número de computadores online aumenta, seja para uso doméstico ou para uso corporativo.

2.2. A Economia Conectada O acesso é algo fundamental para as empresas de hoje, estar conectado significa romper a fronteira das paredes. A economia no ciberespaço une as empresas em redes de relações reciprocamente independentes onde compartilham experiências, recursos físicos e, sobretudo, informação. Reunindo suas forças, cada empresa conseguirá otimizar seus próprios objetivos. Os ciclos de vida dos produtos estão diminuindo em todas as indústrias, nos mais diversos setores. Essa rapidez com que produtos entram e saem do mercado tem um problema: a atenção dos consumidores. Com essa infinidade de produtos entrando e saindo do mercado, num ritmo cada vez mais acelerado, é natural que o consumidor fique mais impaciente e que sua atenção diminua.

Ciclos de vida dos produtos mais curtos e custos mais altos, leva as empresas a compartilharem informações estratégicas afim de se manterem sempre a frente e se garantirem contra perdas em uma economia com um ritmo cada vez mais acelerado. Devido a toda essa velocidade, a idéia de propriedade fica totalmente sem sentido. Por que assumir a propriedade de uma tecnologia que em um curto espaço de tempo estará totalmente ultrapassada antes mesma de ser paga? Nessa nova economia, o acesso de curto prazo torna-se cada vez mais atrativo do que a propriedade de longo prazo.

2.3. O Modelo Organizacional de Hollywood As produtoras de filmes de Hollywood, chamadas de “indústrias da cultura” por Rifkin, estão se tornando modelos para a reorganização do capitalismo, assim como as linhas de rede. Essas enfrentam grandes desafios, com mercadorias (filmes) de ciclo de vida delimitado. Cada filme precisa rapidamente encontrar audiência para cobrir os gastos de produção.

Toda produção cinematográfica é composta por uma equipe de diversas produtoras, cada uma com sua própria experiência. Juntas constituem um empreendimento de vida curta, que será a duração do projeto. Empresas se unindo, compartilhando informações, trabalhando num mesmo projeto, a mesma idéia que foi discutida anteriormente. Profissionais independentes minimizam seus riscos ao se envolver em uma série de projetos concomitantemente. Não é raro ver uma empresa de efeitos especiais, por exemplo, trabalhar em diversas redes temporárias ao mesmo tempo.

O modelo organizacional de Hollywood está sendo adotado por diversas indústrias de ponta. Por exemplo a indústria de software, que pode ser comparada a um teatro: os diretores, atores, músicos, escritores técnicos e produtores reúnem-se por pouco tempo para criar uma nova produção. Na Era do Acesso, as relações entre usuários e fornecedores aproximam-se cada vez mais às relações que as indústrias de cultura têm construído com o público no decorrer do tempo. Cada vez mais o modelo organizacional dos estúdios de Hollywood será procurado como um modelo de organização da atividade comercial.

3. Capítulo 3
3.1. A Economia Sem Peso A Era Industrial foi caracterizada pelo acúmulo de capital e de propriedade, os novos tempos valorizam a agregação de valores a produtos e, acima de tudo, a informação. Portanto, não faz mais sentido medir as importações e exportações de um país em peso. O importante hoje não é o peso do produto, e sim o seu valor agregado. Um notebook que hoje pesa no máximo 3 kilos tem um desempenho incrivelmente superior a um IBM de 25 anos atrás, e que pesava 10 kilos. Um simples chip, pequeno e leve, encontrado até mesmo em cartões de aniversário, tem muito mais potência, em termos de computação, do que existia em todo mundo em 1945.

3.2. A Retração Imobiliária Assim como os produtos, os escritórios das empresas também estão diminuindo nessa nova era. Os escritórios têm cada vez menos paredes e divisões, pois em tempos onde a informação é primordial para uma empresa, é importante que seus funcionários tenham contato, troquem informações. Toda essa mudança faz com que melhores decisões sejam tomadas, e em menos tempo. Outro fator que contribui para o encolhimento do espaço corporativo é o uso cada vez menor de papel. Cada vez mais tudo é armazenado em computadores. O escritório sem papel ainda não existe. Hoje em dia cerca de 50% de todos os dados são armazenados eletronicamente, o que significa 50% menos papéis e 50% menos arquivos de papéis ocupando espaço nos escritórios.

3.3. Estoque Just in Time Sempre foi muito comum empresas terem grandes depósitos para armazenar estoques. Agora, na era da informação, leitoras de código eletrônicas nos pontos de venda coletam informações e solicitam novos pedidos aos fornecedores, que logo fabricam o produto em apenas algumas horas ou dias e os entregam diretamente aos varejistas. Com esse mecanismo, não é necessário ter depósitos.

O comércio eletrônico, que tem crescido exponencialmente, contribui enormemente para esse processo de erradicação dos depósitos. Essas lojas virtuais possuem custos bem reduzidos, visto que seus gastos com instalações são muito menores que uma loja normal, e possuem pouco ou nenhum estoque. Um exemplo de custos extremamente reduzidos são as lojas online de música digital, pois não há custo e nem necessidade para um estoque, é tudo informação.

3.4. A Desmaterialização do Dinheiro Juntamente com o avanço da Era do Acesso, o dinheiro, em sua forma material, também está sumindo. Cada vez mais transações financeiras e pagamentos cotidianos na vida das pessoas são feitos de forma eletrônica. O dinheiro agora não tem peso, cor, tamanho, é apenas uma imagem. Povos antigos costumavam usar objetos, animais e alimentos como dinheiro em suas trocas. Agora o dinheiro nada mais é do que bits, informação.

3.5. Chega de Poupança Concomitantemente com a desmaterialização do dinheiro ocorreram o declínio da poupança e o aumento da dívida pessoal. Com o aumento da produção de bens e serviços no século XX, algumas mudanças comerciais tiveram que ser feitas para estimular o consumo, assim se intensificou o crédito pessoal. Com essa facilidade de comprar a crédito, a população norte americana começou a poupar muito menos do que no início do século e a gastar muito mais.

Assim, a propriedade como economia pessoal se tornou algo fora de contexto em uma economia altamente dinâmica, onde acumular não é a prioridade. O cartão de crédito foi uma revolução no mundo do crédito proporcionada por avanços tecnológicos. Isso permitiu ao povo acelerar suas compras, em um mundo onde os ciclos de vida dos produtos são cada vez menores, enquanto pagam juros altíssimos.

3.6. A Existência Emprestada Na economia da Era do Acesso, acumular não é uma ação muito valorizada. Diversas empresas estão se desfazendo de seu capital físico (ferramentas, equipamentos, máquinas e fábricas) para emprestar os mesmos na forma de leasing. Como dizem muitos economistas atuais sobre o capital: “Use-o, não o possua”.

O leasing existe desde o início do comércio humano, mas passou a desempenhar papel significativo depois da Segunda Guerra Mundial. Fabricantes como IBM, Singer, Burroughs, NCR e Olivetti começaram a apresentar programas de leasing a seus clientes. No mundo corporativo esse processo é muito conveniente pois o arrendador é, geralmente, responsável pela manutenção e conservação dos equipamentos e às vezes das instalações também. Uma prática que surgiu devido ao leasing é a venda leaseback. Empresas estão vendendo suas próprias instalações, e alugando-as de volta de empresas confiáveis do setor imobiliário.

3.7. Terceirizando a Propriedade “Quando estiver na dúvida, livre-se dele.”. Esse é um pensamento que tem aparecido com grande freqüência no mundo empresarial em relação a ativos que não são especificamente relacionados com o foco principal da empresa. Terceirização pode ser definida como a transferência de operações internas de uma empresa a terceiros. A antiga idéia de empreendimentos autônomos está cedendo lugar para o conceito de parceiros múltiplos.

A terceirização permite a empresa se concentrar em ganhar dinheiro em seu foco principal de atuação, não desviando sua atenção para ações como treinamento de funcionários, manutenção de informática e muitas outras, que agora estão sendo todas terceirizadas. Tal ação tornou-se uma ferramenta administrativa vantajosa para enfraquecer o poder da mão-de-obra organizada, contratando serviços de oficinas não sindicalizadas, por exemplo.
Grande parte do declínio do movimento sindical no mundo todo nos últimos anos é atribuída diretamente ao processo de terceirização. A terceirização começou a migrar para o ciberespaço. Empresas começam a terceirizar o seu setor de comércio eletrônico, por exemplo.

3.8. Ativos Intangíveis Com a intensificação das práticas de leasing de capital tangível e da terceirização, as empresas estão mais leves. Se possuem menos patrimônio físico, então o que é negociado nas bolsas de valores, e muitas vezes a valores mais altos do que empresas com um patrimônio físico muito maior? Apesar de não possuir muitos ativos fixos em seus nomes, tais empresas atraem investidores através de sua idéias, ações, talento e experiência dos funcionários que compõem a empresa. Em uma economia de rede, esses valores muitas vezes são mais importantes que a fabrica e o material, apesar de serem difíceis de quantificar. Indústrias baseadas na informação já formam 25% da economia norte-americana.. Boa parte de seu valor está empatado em ativos intangíveis, portanto não é apresentado com exatidão em sua contabilidade.

3.9. A Superioridade da Mente Sobre a Matéria Estamos na era da superioridade da mente sobre a matéria. Produtos mais leves, com ciclos de vida menores, miniaturização, redução dos imóveis, estoques just-in-time, leasing e a terceirização são evidências da desvalorização do mundo material. O que importa hoje é a informação, as idéias. Se na Era Industrial o que importava era ser grande, onipresente e a idéia de “quanto maior, melhor” imperava, hoje, na Era do Acesso, o que interessa é manipular a mente. A motivação da nova indústria é expandir a presença mental das pessoas, controlar e vender idéias. Controlar idéias do mundo de hoje é mais poderoso do que controlar capital físico ou espaço. A prova disso é a disposição da comunidade financeira de investir bilhões de dólares no capital intelectual puro.

4. Capítulo 4
4.1. Monopolizando Idéias O capitalismo está se reinventando. Nesse processo novas formas de poder institucional estão se desenvolvendo, se tornando melhores e mais perigosas que as formas até então conhecidas. Como já foi dito, cada vez mais tudo são idéias. Idéias na forma de patentes, direitos autorais, marcas registradas, segredos comerciais e relacionamentos estão sendo utilizadas para construir um novo poder econômico composto de mega fornecedores no controle de amplas redes de usuários. Ser capaz de manipular as idéias de comércio ao invés de simplesmente as ferramentas dá aos fornecedores corporativos globais uma vantagem nunca antes vista na história da economia. As franquias são um bom exemplo dessa nova economia. As franquias usam a propriedade intelectual como fórmulas de negócios para ter controle sobre grandes redes de varejo. A informação mais uma vez mostrando seu papel vital na nova dinâmica econômica.

4.2. Acesso ao Franchising A idéia de produto franqueado vem de muito antes da Era do Acesso, mas esse novo conceito, ditado pela nova era, é mais compatível com os tempos atuais do que com uma era mais antiga, onde a propriedade era fundamental. Nesse novo negócio no formato de franchising, o que está sendo franqueado não é o produto, assim como era antigamente, mas sim o conceito de negócio. Cada estabelecimento franqueado funciona como um clone do original, o franqueado paga uma taxa de licença à empresa-mãe, outra taxa para poder usar a imagem de marca registrada e ter os equipamentos e treinamento.

Ficam por conta do franqueado as despesas operacionais como luz, aluguel, folha de pagamento, e a empresa-mãe também fica com entre 5 e 12% do faturamento bruto. O franchising é considerado por muitos um tipo de negócio onde todos saem ganhando. O franqueador que não tem despesas com imóveis, funcionários e outros custos operacionais além de ganhar acesso a mercados locais. O franqueado tem acesso a fórmula operacional, o nome da marca e ao padrão de marketing que têm histórico comprovado de sucesso. As franquias mostram que o conceito de que a cada vez mais pagamos pelo acesso do que pela propriedade está presente em nossa sociedade. O franqueado paga por ter acesso ao modelo de negócio, para poder usar o nome e a imagem de uma marca. Franqueadores e franqueados acabam funcionando como fornecedores e usuários.

4.3. Alugando DNA Semelhante revolução que ocorre nos mercados vendedor-comprador para redes fornecedor-usuário também está se passando na indústria de engenharia genética. Genes estão sendo usados para criar super colheitas, novos produtos farmacêuticos, novos tipos de materiais e mesmo novas formas de energia. Genes são informação. Quando genes com potencial valor comercial são descobertos, logo são patenteados. Quem quiser usar vai ter que pagar para ter acesso a esses genes. Aos olhos da lei, esses genes viram invenções humanas.

No século XIX quando pesquisadores descobriam novos elementos químicos, eles não puderam patenteá-los, pois há leis em diversos países que proíbem que descobertas da natureza sejam consideradas invenções. Mas em 1987 o Patent and Trademark Office (PTO) emitiu um decreto declarando que genes, cromossomos, células e tecidos são patenteáveis, podem ser tratados como bem intelectual do primeiro que isolar suas propriedades, descrever suas funções e encontrar aplicações úteis para eles no mercado. Ao patentear e restringir o uso de certos genes, empresas do setor de biotecnologia podem afetar seriamente os serviços de assistência médica e mesmo ameaçar a viabilidade do sistema de saúde em si.

5. Capítulo 5
5.1. Tudo São Serviços Cada vez mais pagamos por serviços. Agora até mesmo os carros viraram um serviço. Atualmente um terço dos carros guiados pelas ruas são de propriedade de fabricantes ou revendedores de carros, que os alugam para seus clientes. Existem diversas explicações para esse processo se aplicar também aos automóveis, mas o principal deles é o custo. O preço dos automóveis tem subido e muitos clientes em potencial não podem arcar com esses gastos.

Os principais clientes desse serviços são pessoas de alta rende que não querem dispor de grande parte de seus fundos para ter um carro. E também há o fator de que vivemos em uma era em que os ciclos de vida dos produtos têm um ciclo de vida cada vez mais curto, o leasing de carros é a forma mais prática e barata de sempre se manter atualizado. Essa mudança de como vemos o automóvel, antes um bem que comprávamos e que, agora, começa a ser tratado como um serviço, faz parte dessa vasta reestruturação do sistema capitalista que estamos vivendo. Cada vez mais pagamos por ter acesso, e não pela propriedade.

5.2. Ascensão e Queda da Posse de Bens Materiais Diariamente nos deparamos com as palavras “meu” e “seu”. Essas palavras nos permitem fazer distinções e estabelecer relações uns com os outros em num conceito social. Enquanto as relações humanas estiverem presas na localização geográfica, deverá existir uma forma de regime de propriedade. O conceito de propriedade é muito evasivo. Por um lado parece muito fácil de se definir propriedade, até o mais simples dos seres compreende o que significa quando se depara com ele, por outro lado, poucos conceitos se mostraram mais difíceis de se definir até hoje.

A idéia de propriedade foi redefinida diversas vezes ao longo da história. Na Idade Média, a Igreja é que decidia, à força, os termos pelos quais os bens terrenos de Deus deveriam ser usados, divididos e administrados. Já na Revolução Gloriosa, no século XVII, John Locke dizia que a propriedade privada era um direito natural e não algo que a Igreja ou o Estado outorgava como privilégio. Enquanto Locke se preocupava sobre a maneira como os seres humanos criavam a propriedade, Adam Smith interessava-se mais por como a propriedade passava a ser trocada no mercado. Smith dizia que uma mão invisível controlava o mercado, assim deixando a economia praticamente livre de interferência do governo, nunca deixando de lado o fator tempo. Durante a primeira fase do capitalismo industrial, os bens que antes eram feitos em casa gradualmente passaram a ser produzidos em fábricas. Pela primeira vez, trabalhadores começaram a usar seus novos salários ganhos nas fábricas para comprar. A produção em massa de bens materiais dominou a economia capitalista nos Estados Unidos do final do século XIX até meados do século XX.

5.3. O Nascimento da Economia de Serviços Nesse período entre o final do século XIX e metade do século XX a prestação de serviços à população começou a inundar a economia. As mulheres começaram a entrar no mercado de trabalho, então as atividades que elas realizavam normalmente em casa como cuidar dos filhos, preparação de refeições, cuidados com a saúde, cortes de cabelo e outras, foram transferidas para o mercado, sendo pagas como serviço. Anos mais tarde, no início dos anos 70, o setor de serviços já empregava mais da metade dos trabalhadores, hoje em dia 77% dos trabalhadores trabalham no setor. Essa mudança torna a propriedade algo cada vez mais obsoleto, tanto nos negócios quanto na vida pessoal.

5.4. A Evolução de Bens para Serviços Nessa nova era de serviços, em vez de pensar os produtos como itens fixos com especificações determinadas e um valor de vendas em um determinado momento, as empresas agora pensam em si como plataformas para melhorias e serviços de valor agregado. A plataforma nada mais é do que o recipiente no qual esses serviços são adicionados. Um bom exemplo é a Encyclopaedia Britannica. No início dos anos 90 a Encyclopaedia Britannica recusou uma proposta da Microsoft para criar uma versão digital, que seria muito mais barata que a versão impressa, e bem menor do que os 32 volumes de capa dura.

Então a Microsoft criou uma enciclopédia digital chamada Encarta, que logo se tornou a mais vendida no mundo, então, a britannica foi forçada a reagir e criar a sua versão digital. A princípio os usuários pagavam 85 dólares por um ano de acesso ao conteúdo online, hoje ela é totalmente gratuita. A Encyclopaedia Britannica se desmaterializou literalmente, transformando-se em serviço puro. Este fato tem gerado grandes discussões sobre publicações online de livros e coleções.

Enquanto o fim do impresso tem sido previsto há muito tempo, para essa nova geração, que cresceu na frente de computadores e preferem muito mais acessar informações na frente de um monitor do que vê-las impressas, isso já é uma realidade. Em muitos casos, a transformação da venda de bens para o fornecimento de acesso a serviços está sendo positiva para o planeta. Essa mudança está resultando em economia de recursos, redução da emissão de poluentes e de detritos e,conseqüentemente, menor prejuízo ambiental.

5.5. O Fim das Vendas Como uma empresa sobrevive em um mercado cada vez mais lotado de concorrentes e onde a qualidade de seus bens é praticamente indistinguível de seus concorrentes? Um número cada vez maior de empresas diz que a solução é sair das vendas. Hoje em dia, chega à porta de um cliente significa abandonar a idéia de vender algo, por mais estranho que isso pareça. Ao invés de vender algo, o vendedor empresta seu know-how e experiência para ajudar a dirigir o negócio do cliente, assim o cliente torna-se cliente e parceiro.

5.6. Os Novos Provedores de Serviços Muitas das maiores empresas de tecnologia da informação, que até pouco tempo lucravam muito com a venda de software e hardware, começaram a transição para se tornarem provedoras de serviços. Em um mercado extremamente competitivo, e com controles de qualidade indiferenciáveis, a única formar de lucrar é oferecer experiência aos clientes na forma de serviços.

5.7. Desfazendo-se dos Bens e Cobrando pelos Serviços O produto material em si está sendo cada vez menos o centro das atenções nessa economia onde cada vez mais tudo é serviço. Ao invés de vender seus produtos, empresas estão doando-os e cobrando pela administração, atualização e outros serviços. Um bom exemplo disso são companhias de telefonia celular que muitas vezes distribuem aparelhos celulares, como um incentivo para atrair novos assinantes. O capitalismo está sofrendo fortes alterações em sua estrutura básica. O capitalismo está sendo transformado de um sistema com base na troca de bens, em um sistema com base no acesso a segmentos de experiência.

6. Capítulo 6
6.1. Transformando as Relações Humanas em Commodities A Era do Acesso é definida, antes de mais nada, pela crescente transformação da experiência humana em commodity. Na economia do ciberespaço, essa transformação fica em segundo plano e dá lugar à transformação das relações humanas. Manter a atenção de clientes e vendedores na nova e dinâmica economia de rede significa controlar o máximo de tempo possível.

6.2. O Cliente é o Mercado Como objetivo das empresas hoje, nessa economia em que serviços são o foco principal, o que interessa não é vender um produto por vez ao máximo de clientes possível, e sim estabelecer um laço de longo prazo com o cliente. O que é realmente objetivado é o potencial de toda a experiência de vida de uma pessoa se transformar em commodity.

Especialistas em marketing dizem que todo cliente possui um LTV, lifetime value (valor ao longo da vida). Para calcular o LTV de um cliente, uma empresa apura o valor de todas as compras futuras e dos serviços associados buscando assegurar e manter um relacionamento para a vida toda. Por exemplo em uma concessionária de carros: um cliente novo na porta da concessionária significa um potencial para a vida toda, futuramente esse carro precisará de serviços e também esse mesmo cliente irá trocar de carro mais algumas vezes em sua vida.

Na economia industrial, a própria força de trabalho de cada pessoa era considerada uma forma de propriedade, podendo então ser vendida no mercado. Na economia de rede vender acesso aos padrões e às experiências de vida diários de alguém torna-se um ativo intangível igualmente cobiçado e muito procurado

6.3. A Mudança de uma Perspectiva de Produção para uma Perspectiva de Marketing A mudança no foco da manufatura e venda de produtos para a implementação e manutenção de relações de longo prazo com os clientes faz com que o marketing assuma papel muito importante na vida comercial. Controlar o cliente, passa a ser a meta da atividade comercial. Esse controle consiste em ser capaz de captar e dirigir a atenção do cliente e gerenciar os mínimos detalhes das experiências de vida de cada um deles.

A mudança tecnológica no processo de produção nos anos 80 e 90 garantiu a influência máxima da perspectiva de marketing, transformando a produção em uma função no processo de marketing. Entra em cena a produção flexível. Em uma economia com tantos fornecedores e tão pouca coisa para distingui-los, um grande diferencial é a produção flexível, ou seja, customizável a cada cliente. Customizar produtos a cada cliente pode ser considerado mais como uma contratação de serviços.

6.4. Novos Tipos de Comunidades Há uma idéia, crescendo cada vez mais, entre os especialistas de marketing que é a criação de comunidade com interesses em comum, as comunidades de interesse. A intenção de criar essas comunidades é juntar pessoas com idéias similares que podem se juntar por terem interesses em comum em uma dada atividade, iniciativa ou atividade comercial. Essa é a maneira mais efetiva de captar e manter a atenção do cliente e de criar relacionamentos para toda a vida.

7. Capítulo 7
7.1. O Acesso Como um Modo de Vida O capitalismo está passando por mudanças nunca antes vistas, todos os alicerces econômicos conhecidos parecem estar ruindo um a um. Outras estruturas surgem no lugar das que se vão. Tudo cada vez mais é acesso. Mas essa transição da posse para o acesso não é imediata, é um processo gradativo, às vezes tão sutil que passa despercebida.

7.2. Comunidades Fechadas Apareceram por todo território norte-americano comunidades residenciais chamadas “urbanizações de interesses comuns”, os condomínios. Muros, cercas, sistemas de segurança garantem que o acesso seja restrito. Na porta um vigia dentro de uma guarita, que apenas permite entrar os moradores, seus convidados, visitantes e fornecedores autorizados. Esses espaços fechados são lugares para se viver totalmente transformados em commodity. As comunidades fechadas vendem uma forma de vida, uma experiência, em vez de apenas vender um imóvel.

Essas comunidades são consideradas como governos privados ou quase-governos. Governos têm leis que representam a vontade da maioria. Nas comunidades não é bem assim. Se vários adultos moram na mesma unidade, marido, mulher, avós; apenas um ponto de vista pode ser expresso. Ainda há a questão dos inquilinos, que representam um grande número, mas não podem votar nas decisões da comunidade, apenas os proprietários podem fazê-lo. O crescimento exponencial das urbanizações de interesses comuns mostra claramente a mudança no modo de pensar que priorizou os valores comerciais e afastou os valores cívicos da vida humana.

7.3. Alugando um Estilo de Vida O mercado de aluguéis de apartamentos sempre foi dominado predominantemente por famílias de baixa renda, pessoas solteiras e jovens casais que ainda não tinham meios para adquirir uma casa. O perfil dos inquilinos está mudando. Os novos inquilinos são representantes de uma nova geração em ascensão social que valorizam mais o acesso a curto prazo aos serviços, comodidades e experiências, e não querem arcar com as responsabilidades acarretadas pela posse de uma casa própria. Por mais que possuir um imóvel possa parece atraente, a tendência é que os aluguéis dominem o mercado imobiliário, assim transformando o imóvel em uma experiência a ser acessada.

7.4. Comunidades de Tempo Compartilhado Outro conceito que está entrando em cena no mercado imobiliário é o time-share (direito de uso de um imóvel por um certo período). Time-share consiste em uma forma de subdividir a utilização de um condomínio. No preço de acesso ao imóvel estão inclusos despesas como taxas de manutenção e conservação das áreas comuns.

No começo, o mercado de time-shares tinha a desvantagem de que os clientes não podiam passar o período de estada pago em outros locais. Vendo a demanda por esse tipo de serviço, por parte de jovens profissionais principalmente, grandes empresas do setor começaram a estabelecer um negócio de troca de time-shares no mundo todo. Agora, muitas redes permitem que seus usuários troquem time-shares com outros portadores em diferentes partes do mundo.

Time-shares se mostram como formas de um comércio em função do tempo, compra-se o acesso a um imóvel, podendo-se até mesmo trocar com outros donos de time-shares .Mais uma vez pode-se observar a transição do mercado vendedor-comprador para fornecedor-usuário.

7.5. Imóveis de Verdade versus Imóveis Temporários Estar inserido em redes temporais pode mesmo substituir idéia de estar fixo em algum lugar? Em uma sociedade que valoriza a posse, cuidar do que é seu é tão importante quanto cuidar de alguém. Por isso consideramos nossas posses como extensões de nós próprios. Um filósofo alemão chamado Georg Friedrich Hegel dizia que cada um expressa sua noção de personalidade imprimindo-a em suas posses. Hegel também dizia: “A personalidade é aquela que luta para... se tornar realidade, ou, em outras palavras, para reivindicar esse mundo externo como seu próprio mundo.”.

Em uma sociedade onde tudo, cada vez mais, é acessado, o que acontece à responsabilidade e ao compromisso de ter uma propriedade, e com a noção de que ter propriedades significa independência? Quando acessamos experiências e serviços nos tornamos mais dependentes dos outros. Enquanto boa parte da vida das pessoas já está inserida no mundo das relações de acesso, uma parte importante delas ainda resiste e permanece fixa à noção de territorialidade. Um bom exemplo é que as pessoas não pensam tanto na comunidade como “de onde elas vieram”.

Essa noção de origem sempre está acompanhada de uma idéia territorialista. Poucas pessoas sentem um vínculo mais profundo com sua comunidade fechada do que as pessoas sentiam com as comunidades tradicionais. A idéia de origem, de estar ligado com sua terra de origem, pode gerar sentimentos como o xenofobismo. Muitos alegariam que esse desligamento do significado de lugar e partimos para a noção de experiência signifique uma evolução para o ser humano. Outros poderiam dizer que com esse processo estamos nos arriscando a perder nossas raízes e o sentido da ligação profunda entre o terreno físico e biológico ao qual devemos nossa existência e estada no mundo.

8. Capítulo 8
8.1. A Nova Cultura do Capitalismo Após séculos transformando os recursos materiais em bens adquiridos, agora estamos transformando cada vez mais os recursos culturais em experiências pagas. Nessa nova era do capitalismo cultural, o acesso torna-se muito mais relevante e a propriedade perde espaço no cenário comercial. Os objetos inertes podem ser facilmente mensuráveis, e uma vez que podem ser quantificados, estão sujeitos a preços.

Em um mundo onde o acesso é mais importante do que a propriedade, as fronteiras tornam-se indistinguíveis, tudo que é sólido começa a se desfazer. Em uma economia globalizada cada vez mais dominada pelos avanços tecnológicos e por todo tipo de produção de commodity cultural, assegurar o acesso às experiências vividas torna-se tão importante quanto era adquirir propriedade em uma sociedade onde a produção de bens materiais predominava.

8.2. Comunicação e Cultura Técnicos e engenheiros da área tendem a ver as comunicações mais estreitamente como transmissão de mensagens. Já no âmbito antropológico, a comunicação é vista como a geração de significados sociais por meio da transmissão de mensagens. A vida cultural foca sempre questões de acesso e inclusão, visto que é uma experiência compartilhada entre as pessoas. Ou uma pessoa é membro de uma comunidade e cultura, e então se aproveita do acesso a suas redes compartilhadas de significado e suas experiências, ou é excluída.

8.3. A Ascensão da Produção Cultural A introdução do uso disseminado de produtos comprados e o aumento da propagandas de massa serviram para exaltar o ato de consumir. Hoje, para milhões de norte-americanos, os direitos de comprar e adquirir tornam-se bem mais significativos até mesmo que o ato de votar. Mas essa cultura de consumismo não existe há muito tempo. Até o início do século XX, consumir tinha uma conotação negativa, significava desperdiçar.

Em contraposição, a cultura continuou, por um determinado tempo, a ser o refúgio dos críticos que advertiam quanto à presença exagerada dos valores materiais. Eles ansiavam por uma transformação pessoal, em vez de riqueza material. As artes são as formas mais elaboradas da expressão humana, elas comunicam os sentidos mais profundos da cultura. O novo mercado voltado para o consumo impulsionou as artes do nível cultural, onde eram o comunicador primário de valores compartilhados da comunidade para o mercado.

Novos meios artísticos aliados a tecnologias de comunicação deram ao mercado capitalista uma vantagem poderosa sobre os meios culturais tradicionais como a dança, pintura, festivais, teatro, esportes e o envolvimento cívico. É nesse cenário que o capitalismo está fazendo sua passagem final para o capitalismo cultural, apropriando também experiências vividas. A criação da indústria de experiências é o próximo passo da evolução do sistema capitalista. A totalidade de nossa existência está sendo transformada em commodity: os alimentos que comemos, bens que produzimos, serviços que fazemos e as experiências culturais que compartilhamos.

8.4. A Mais Antiga Indústria Cultural Turismo nada mais é do que a transformação da experiência cultural em commodity. O termo turismo surgiu no século XIX para se referir a jovens aristocratas ingleses que costumavam fazer longas viagens pela Europa para enriquecer sua cultura antes de seguir sua carreira. O turismo se transformou em um negócio formal nas mãos de Thomas Cook. Ele começou modestamente, organizando uma excursão barata de trem para centenas de pessoas que iam para um comício em Leicester. Deve-se lembrar que o sucesso de Cook ao elaborar pacotes de experiência cultural não teria ocorrido se não fosse o desenvolvimento na tecnologia de transportes e de comunicações. A ferrovia permitiu a um grande número de pessoas fazer excursões à noite, nos finais de semana e mesmo viagens mais longas.

O telégrafo, e mais tarde o telefone, tornaram possível organizar viagens e assegurar serviços e passagens confiáveis. Cook também foi o primeiro a usar campanhas publicitárias e de marketing e promoções especiais para formar uma clientela. É vital para o turismo convencer comunidades e países anfitriões a financiar modernização da infra-estrutura, como aeroportos, ferrovias, estradas, hotéis, portos, telecomunicações, lojas, instalações de lazer e diversos outros itens. Outra prioridade importante para o turismo é o desenvolvimento sustentável. Proteger vida selvagem, conservar a biodiversidade e estabelecer reservas e parques é tão importante quanto construir infra-estrutura.

8.5. A Cultura dos Shoppings O shopping center gerou uma nova arquitetura para reunir pessoas, concentrada em um universo de comercio em que a cultura existe na forma de experiências transformadas em commodities. Ao se pensar dessa forma, o shopping center tem muito em comum com a moderna indústria de viagens e turismo. Os shoppings estão se tornando lugares onde se pode comprar o acesso a experiências vividas de todo o tipo. Nele pode-se fazer comprar, ir ao cinema, ver um show, fazer um esporte, ir a um restaurante e muito mais. Assim como as urbanizações de interesses comuns e os espaços turísticos, os shoppings fazem parte de um novo ambiente competitivo onde o sucesso é medido por aqueles que detém o acesso à produção cultural.

8.6. Da Aquisição de Cultura ao Entretenimento O cinema, assim como as viagens de Cook, transforma a experiência vivida em commodity de mercado. Por apenas algum dinheiro, as pessoas se transportam para outros lugares e meios, onde podem fantasiar, se divertir, expressar suas emoções e viver seus sonhos e esperanças. Comprar e adquirir o acesso a experiências vividas agradáveis e significativas, principalmente na classe média em todo o mundo, tornou-se um estilo de vida. O aumento exponencial da indústria do entretenimento é testemunho de uma geração em transição do acúmulo de coisas materiais para o acúmulo de experiências e da propriedade para o acesso.

8.7. Todo Negócio É Show Business A fase de manufatura do capitalismo foi caracterizada pela produção, a nova fase, a fase cultural, está sendo caracterizada pela performance. A economia virou um grande teatro. Nessa nova era, o produtivo dá lugar ao criativo, e a empresa se torna menos definida em termos de trabalho e mais em termos de diversão. No mundo todo empresas estão adequando seus ambientes de trabalho para torná-los mais compatíveis com a criatividade, algo fundamental no comércio cultural.

O ambiente de trabalho está sendo continuamente transformado em um ambiente de representação, o que reflete o foco na performance cultural e no marketing de experiências vividas. Muitos gerentes não usam mais o termo trabalhador, e sim ator. As empresas estão introduzindo inovações de entretenimento para criar uma atmosfera tranqüila para seus trabalhadores, que propicie a criatividade. A produção cultural será o principal campo de trabalho neste século. Na Era do Acesso, a vida econômica tem quatro níveis. O primeiro corresponde à produção cultural, o segundo aos serviços e informações, o terceiro à fabricação e o quarto nível à agricultura.

9. Capítulo 9
9.1. Garimpando a Paisagem Cultural Nessa nova era, onde os avanços tecnológicos inundam a sociedade, vive-se, cada vez mais, cercado por ambientes simulados. Telefones, televisão, filmes e rádio devem enganar e iludir nossos sentidos. O ciberespaço está substituindo a realidade pela realidade virtual, ambientes simbólicos que as pessoas vivenciam como se fossem reais, e é o palco onde produções culturais de todos os tipos serão transformadas. E como outros elementos comerciais, será necessário pagar para ganhar acesso. No ciberespaço, a produção cultural se sobrepõe à industrial. Quanto de nossas vidas iremos vivenciar no espaço físico e quanto em um universo simulado? Uma coisa ocorrerá certamente: a maior parte de nossa experiência diária acontecerá em ambientes simulados.

9.2. Marketing Cultural O marketing é o meio pelo qual todos os bens culturais são explorados para se encontrar significados culturais valiosos que podem ser transformados, através da arte, em experiências e que são transformadas em commodities. Na nova era da economia ligada em redes, o foco do marketing deixa de ser a venda do produto mas sim a venda da experiência. Quando compramos algum objeto, seja ele um carro, uma roupa, um equipamento eletrônico, estamos comprando também o rótulo, ou seja, o estilos de vida e experiências imaginados. Comprar um rótulo nos coloca num mundo de faz de conta dos valores.

Vender o produto torna-se secundário à venda da experiência. Como as empresas definem que experiência, que estilo de vida, seus produtos vendem? Uma grande solução é a participação e patrocínio de eventos públicos ligados às idéias que a empresa deseja que seus produtos estejam ligados, o chamado marketing de eventos. Assim, a empresa estabelece relacionamentos duráveis com comunidades e grupos de interesse, posicionando a empresa como parceira cultural ativa e como participante. A propaganda orienta os consumidores sobre quais compras despertarão a conotação e a experiência de vida adequadas. Os anunciantes enxergam as pessoas como consumidores de símbolos, em vez de simples produtos. A manufatura de bens e até mesmo a troca de informações já não são mais o foco do capitalismo avançado, mas sim a criação de elaboradas produções culturais.

9.3. Os Novos Porteiros A palavra “porteiros” refere-se aos indivíduos e instituições que determinam as regras para se admitir e controlam quem pode e quem não pode ter acesso a uma sociedade baseada em rede. Os porteiros controlam tanto o acesso à cultura popular quanto o espaço físico e redes do ciberespaço. As relações de acesso tornam-se, por sua vez, distintas das relações de propriedade. Na Era do Acesso, a distinção passa a ser sobre quem tem e quem não tem acesso, ter ou não ter propriedade já não tem significado. Agora o abismo não é mais entre ricos e pobres, mas sim entre quem tem e quem não tem acesso.

Um excelente exemplo de porteiros são os provedores de internet. Os usuários fazem a assinatura com o provedor para ter acesso a internet. Para se localizar um site na internet os usuários usam serviços online de busca. Para as grandes empresas de mídia, os usuários de provedores de acesso e mecanismos de busca são um público em potencial para anúncios nos sites de entrada, assim que conectados a eles. Conforme a sociedade vai adentrando a Era do Acesso, o estudo do controle de entrada está se fortalecendo e se espalhando pelas disciplinas acadêmicas. a função de controle de quem tem o acesso é algo tão importantes quanto “a mão invisível do mercado” foi para a compreensão das regras da troca de bens e propriedade.

9.4. Intermediários Culturais Se na Era Industrial a classe burguesa era quem ditava os valores e normas da sociedade, na Era do Acesso começa a nascer uma nova elite que já está exercendo vasta influencia cultural e social. O poder dessa nova classe está em seus ativos intangíveis, ou seja, seu conhecimento, criatividade, sensibilidade artística, habilidades como empresários, sua experiência profissional e o talento para o marketing. A nova classe dominante tem sofrido grandes críticas de artistas, intelectuais e acadêmicos, que defendem uma esfera cultural semi independente, e não uma cultura ditada.

A preocupação desses críticos é a expropriação da cultura como um todo visando ganhos comerciais. O comércio mundial de bens culturais de todos os tipos está crescendo enormemente, impulsionado pelo comércio eletrônico. Com isso, há uma tendência de homogeneização da cultura global. Um indicador disso é que 20% das pessoas no mundo todo já falam o idioma inglês, afinal, grande parte dos filmes no mundo todo são nesse idioma, e sem contar que o inglês é a língua oficial do ciberespaço.

Assim como a economia está passando da propriedade para o acesso, a luta geopolítica também muda seu foco. Se na Era Industrial a luta focava a questão do controle colonial sobre recursos naturais e mão-de-obra disponível, na Era do Acesso, o foco da luta é a questão do acesso à cultura local e global e aos canais de comunicação que transmitem cultura na forma de commodities.

10. Capítulo 10
10.1. Uma Fase Pós-Moderna Assim como a sociedade e a economia estão mudando, o ser humano também acompanha essa transição. O novo ser humano vive confortavelmente boa parte de sua vida em mundos virtuais do ciberespaço, habituado com os trabalhos da economia de rede, menos ligado a bens materiais e mais interessado em ter experiências divertidas e emocionantes. Bem diferentes de seus antepassados da Era Industrial.

Qual a grande diferença da Idade Pós-Moderna para a Idade Moderna? O que a torna tão diferente? A economia da Idade Pós-Moderna está baseada no capitalismo cultural, cultura e experiência vivida sendo transformada em commodity, enquanto a idade anterior era fundamentada na transformação de recursos naturais em commodities, na contratação de mão-de-obra, em bens manufaturados e na produção de serviços básicos.

10.2. Modernidade A Idade Moderna foi o período compreendido, aproximadamente, entre o Iluminismo europeu no século XVIII até o final da Segunda Guerra Mundial. Nessa época a fé foi substituída pela ideologia, e todos estavam convencidos de que a mente humana era capaz de processar a grande quantidade de conhecimentos disponíveis tem teorias que poderiam explicar a origem, o desenvolvimento e o funcionamento do mundo natural. Essas idéias com alto teor de confiança, reforçaram um sistema capitalista nascente, baseado na posse privada e na troca de propriedade e de capital no mercado.

Os modernistas introduziram a idéia de progresso. A inventividade e a vontade humanas, e não a intervenção divina, levariam a humanidade a um novo paraíso terrestre, um mundo utópico de abundância material. A ideologia modernista combinou com o conceito de relações de propriedade privada. Já que o mundo natural pode ser explorado, então aquele que pelo trabalho duro transformarem a natureza em artifício e commodities poderá recolher as recompensas. Se no mundo tudo fosse independente e delimitado e fácil de se definir como objetos distintos, então seria igualmente fácil designar tudo como propriedade.

10.3. Pós-Modernismo Em contraposição ao modernismo, o pós-modernismo possui idéias que defendem a reestruturação das relações humanas em torno dos princípios de acesso. O pós-modernismo começou a minar as idéias iluministas com o cientista alemão Werner Heisenberg, que introduziu o conceito de indeterminabilidade. O princípio da indeterminabilidade de Heisenberg diz que a noção de um observador distante registrando os segredos da natureza de forma objetiva é algo impossível. O fato de fazer observações leva o observador a participar diretamente com o objeto de sua investigação, provocando um desvio no resultado.

Distante ou não, todo ser humano é um jogador e um participante, sempre afetando e sendo afetado pelo mundo que tentamos controlar e influenciar. A nova Física diz que a matéria é uma forma de energia, e a energia é pura atividade, colocando abaixo a idéia de substâncias sólidas como estruturas estáticas de relações espaciais. Mesmo muitos seres humanos agindo como se o mundo fosse formado de sujeitos e objetos e de coisas sólidas e estáticas expropriáveis, as ciências físicas estabeleceram uma nova estrutura filosófica para se pensar a realidade.

Onde a ciência moderna procurava verdades definitivas e partículas fundamentais, a nova ciência procura possibilidades inesperadas e padrões emergentes. A cultura do pós-modernismo caminha em um ritmo alucinado, onde o passado não tem tanta importância quanto o presente. O que importa é o “agora”, e o que interessa é ser capaz de sentir e vivenciar o momento. Um mundo cheio de espetáculos, entretenimento e performances altamente desenvolvidos, realizados em palcos elaborados. O “princípio do prazer” impera.

Enquanto a Idade Moderna foi pontuada pela produtividade, a Idade Pós-Moderna é caracterizada pela diversão. Na Era do Acesso, executar ações e acumular propriedade se torna secundário a fazer scripts, contar histórias e representar fantasias.

10.4. Mudando as Formas de Consciência Foi no início da Era Moderna, com o surgimento da burguesia, que ocorreu a última grande mudança na consciência humana. A burguesia gradualmente abandonou a teologia pela ideologia e a salvação celestial pela utopia terrestre. Eles pregavam o evangelho do materialismo e exaltavam as virtudes da propriedade privada.

Os burgueses substituíram a virtude pelo caráter. O termo caráter passou a ser ligado a cidadania, trabalho árduo, , produtividade, determinação, integridade e maturidade. Ter bom caráter era o maior elogio que se podia fazer a um burguês, transmitia a noção de autocontrole e autodomínio. Embora a burguesia do século XIX tenha acumulado muita riqueza, eles defendiam uma vida que se opunha a se deleitar com o consumo pelo próprio bem deles.

Na década de 20, os Estados Unidos estavam abarrotados de bens de consumo e precisavam de um novo grupo social que fosse mais aberto ao consumismo, alguém menos sério, mais brincalhão e menos controlado. Embora a propriedade privada continuasse sendo o foco central, a sua importância mudou, refletindo a mudança da ênfase dos valores de produção para os valores de consumo.

10.5. A Personalidade Metamórfica Ao passo que a economia global muda a ênfase do consumo de bens e serviços para consumir cultura e experiência vivida, a natureza humana também muda. Os seres humanos da Era do Acesso estão vindo ao mundo diferentemente de seus pais. As gerações passadas pensavam em si como pessoas de “bom caráter” ou de “forte personalidade”, porém,a nova geração começa a pensar em si como “atores mais criativos” movendo-se facilmente entre scripts e cenários enquanto representam os diversos dramas que formam o mercado cultural.

No século XIX era comum pensar na vida de uma pessoa como um produto cujo valor aumenta ao passar do tempo. No século XX, as pessoas passaram a se considerar mais como trabalhos em processo. O conceito de “existir” cedeu lugar ao conceito de “tornar-se” no novo mundo dinamizado. Os burgueses da Era Moderna se viam como participantes no desenrolar de um enorme drama histórico cujo resultado seria uma utopia material.

Já em meados do século XX, as pessoas pensavam menos em termos de seu lugar na história e mais em termos de fazer sua própria história pessoal. Nasce assim as bases da personalidade de um novo ser humano, o ser humano pós-moderno.

10.6. Reprogramando a Mente A mudança nas tecnologias de comunicação, desde a imprensa até o computador, foi um fator de grande influência nas mudanças ocorridas na consciência humana. As grandes mudanças na consciência humana sempre acompanharam mudanças nas formas de comunicação. A imprensa substituiu a memória humana com tabelas de conteúdos, paginação, índice e notas de rodapé, livrando a mente humana de ter que lembrar continuamente o passado para fixar-se no presente e no futuro. A imprensa também criou descrições mais precisas do mundo, utilizando novos conceitos como quadros, listas, gráficos e outros recursos visuais. A impressão ajudou a estimular o desenvolvimento do nacionalismo e deu o impulso para a criação de estados-nações. A união de um povo pela mesma língua criou um foco mais amplo para a identidade coletiva.

Atualmente, o computador está revolucionando as comunicações de um modo que o torna uma ferramenta ideal para gerenciar uma economia construída em torno de relações de acesso e do marketing de recursos culturais. A comunicação eletrônica organiza o conhecimento de um modo diferente do qual a impressão o faz. Livros impressos possuem um começo e um fim, enquanto hipertextos possuem apenas um ponto de partida do qual os usuários fazem ligações entre materiais relacionados. O hipertexto anula a idéia tradicional de autoria. Por ser baseado na inclusividade e na conectividade em vez da exclusividade e autonomia, como os livros impressos, não existem limites claros que separem a contribuição de cada pessoa.

Pessoas recortam, recombinam, editam e puxam materiais que foram acessados de inúmeras outras fontes e meios e combinam com o seu material. Do mesmo modo que a impressão ajudou a despertar a noção de autônomo, o computador ajuda a estimular a criação de um novo tipo de consciência relacional. A geração que cresce usando hipertexto e ligada a múltiplas redes, provavelmente será cada vez mais predisposta para um mundo comercial familiarizado com a conectividade e relações de acesso.

10.7. Os Novos Atores de Téspis A mudança a longo prazo do self (termo usado por Freud para indicar o ser humano em sua totalidade: corpo, instintos, os processos conscientes e inconscientes) de um ser autônomo para uma história pessoal relacional e em permanente mudança está apenas no início. A noção mais antiga de um self autônomo se encaixava em um mundo de fronteiras onde os indivíduos eram separados por enormes distâncias e viviam em relativo isolamento. Esse self burguês autônomo, delimitado é a melhor forma de consciência para vivenciar um mundo de vastas extensões e recursos naturais intocados

Já a atual geração é mais ligada ao tempo que ao espaço, geração essa que vive em um mundo completamente diferente, formado por redes, onde a tecnologia encurtou as distâncias e a fronteira entre meu e seu é algo que começa a se tornar obsoleto. No mundo atual, captar e manter a atenção de alguém torna-se fundamental, e relacionamentos de todos os tipos tornam-se o centro de nossa existência. A ultrapassada idéia de autonomia pessoal sai de cena, e em seu lugar surge a nova idéia de relacionamentos múltiplos, desgastando ainda mais a noção de fronteiras distintas separando o meu e o seu.

Assim como seus pais e avós burgueses buscaram continuamente novas aquisições, o novo ser humano pós-moderno busca constantemente novas experiências vividas. Analogamente, assim como as indústrias de manufatura forneceram um vasto número de produtos para comprar, as novas indústrias culturais estão criando um número quase infinito de scripts para se representar as experiências de vida.

Téspis de Ática

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Téspis (actor))
Ator grego do começo do século V a.C., trazido de Icárias onde teria nascido, pelo Tirano de Atenas Pisístrato, um amante da arte de imitar. É conhecido como o primeiro atorPB ou actorPE do mundo ocidental[1], e também como o primeiro produtor teatral.
Quase nada se sabe da vida de Téspis, apenas que teria começado a representar em um Coro, chegando a ser líder de um deles (possivelmente por ser chefe de uma aldeia). Viajou pela Grécia, sozinho ou com o seu Coro, numa carroça que mais tarde ficaria conhecida como "carro de Téspis" que lhe servia de transporte e de palco para as suas representações.
10.8. O Mundo É um Palco A transformação dos seres humanos de trabalhadores produtivos e consumidores informados a atores criativos representa uma grande mudança nas relações sociais humanas. Mas isso não quer dizer que a teatralidade passou despercebida como uma metáfora definidora para a vida no passado. Quando homens e mulheres primitivos pintavam seus rostos, enfeitavam seus corpos com plumas e peles de animais, realizando rituais, danças coreografadas, eles estavam teatralizando a vida. Os jovens que cresceram em frente às telas e dentro de mundos virtuais, sua natureza metamórfica e sua consciência teatral lhes servem bem para os vários papéis desafiadores que representarão nessa nova era eletrônica. O único vestígio de propriedade pessoal que provavelmente se manterá serão os suportes que fornecem contexto para as representações que são realizadas. Para o ser humano ator dessa nova era, comprar o acesso contínuo a scripts, palcos, outros atores e públicos oferecidos pela esfera comercial será fundamental para alimentar suas múltiplas personas.

11. Capítulo 11
11.1. O Conectado e o Desconectado A questão do acesso provavelmente terá a mesma importância no século XXI quanto as questões relativas aos direitos de propriedade em toda a Era Moderna. Isso porque o acesso é um fenômeno potencialmente mais abrangente. O acesso a todos esses avanços tecnológicos hoje exerce um controle sem precedentes no modo como as pessoas se comunicam.

11.2. Os Novos Magnatas Corporativos Empresas dos Estados Unidos são as líderes do mundo e estabeleceram as regras fundamentais para a disputa global no controle das comunicações e dos recursos culturais transformados em commodity. Essas empresas gigantes estão envolvida em uma grande luta para controlar os canais de comunicação e recursos culturais que, juntos, formarão boa parte da esfera comercial no século XXI.

Um marco na transformação para o capitalismo cultural foi a aprovação da Lei de Telecomunicações, em 1996. Essa lei abriu o campo da mídia a novos concorrentes, incluindo grandes empresas telefônicas regionais e as empresas a cabo, o que permitiu que as empresas telefônicas, os estúdios de Hollywood, empresas de televisão, empresas a cabo e empresas de software formassem alianças estratégicas entrando em mega fusões para controlar o mercado de comunicações o máximo que puderem. As empresas de telecomunicações estão focando grande partes de sua atenção para assegurar portais para a internet e para o ciberespaço, afim de controlar os mundos eletrônicos em que centenas de milhões de pessoas passam grande parte de seu tempo. A meta é controlar a voz digital, dados e transmissões de vídeo e produtos em toda região e mercado do mundo.

11.3. O Fim do Estado-Nação A comercialização e a desregulamentação das telecomunicações e dos sistemas de radiodifusão estão destituindo os estados-nações de sua capacidade de supervisionar e controlar as comunicações dentro de seus territórios. As redes privadas de comunicação estão construindo novas comunidades de interesses que, cada vez mais, têm menos vínculos com os espaços geográficos. Fronteiras políticas estão sendo transpostas e mudando o caráter da vida política no planeta.

Os mais liberais dizem que a desregulamentação das telecomunicações, da radiodifusão e de outros serviços de mídia é a melhor forma de reduzir barreiras para ingressar em mercados e estimular inovações. Segundo eles, um grande desafio para o governo é criar incentivos a essa transformação, criar circunstâncias sob as quais os novos concorrentes e novas tecnologias desafiarão os monopólios naturais do passado. Outros dizem que tais medidas apenas incentivariam uma nova forma de colonialismo, empobrecendo ainda mais os países desfavorecidos.

O espectro eletromagnético é toda a gama de freqüências de rádio na atmosfera do planeta, que é usada para transmissões de rádio, TV e outras mídias. Em cada país o espectro é tratado como um “bem comum” controlado e administrado pelo governo em benefício de todos os cidadãos. O governo dos Estados Unidos foi um dos primeiros a assumir a posse do espectro. Atualmente, o Congresso dos Estados Unidos já marcou alguma audiências para propostas de venda, e para os especialistas da área é só uma questão de tempo para que o espectro seja transferido para o patrimônio eletrônico privado.

O fim do Estado-Nação fica cada vez mais evidente nas questões de comércio. Convenções internacionais como o NAFTA e o GATT impediram o governo de exercer o seu direito de impor restrições domésticas a coisas como práticas de trabalho injustas ou violações flagrantes ao ambiente, se estas interferem no livre comércio global. O declínio fica ainda mais evidente quando fala-se em cobrança de impostos. Com uma quantidade cada vez maior de negócios pessoais e comerciais sendo conduzidos no ciberespaço, fica mais difícil avaliar e recolher impostos. Agora que a vida social e econômica está deixando o espaço geográfico, os governos ainda importam? Visto que enquanto a atividade humana era fundada no espaço geográfico, os governos faziam sentido. Logo, a política deixa de ser um princípio organizador da sociedade para tornar-se algo artificial, inadequado à resolução dos problemas práticos do mundo.

11.4. Vivendo Fora dos Portões Eletrônicos Embora a discussão até esse ponto esteja sendo sobre uma nova ordem social e econômica, resultante da progressiva dominação do mundo por parte de vastas redes de interesses compartilhados, temos que lembrar que a maior parte da população do planeta está às margens dessa revolução. Pessoas para as quais a vida é de labuta, composta de esforços para garantir uma existência. Enquanto um quinto da população mundial está deixando a propriedade para trás em busca de experiências culturais e de transformação pessoal, os outros quatro quintos restantes ainda desejam obter propriedade. Os desprivilegiados e sem posses estão se tornando os desconectados na Era do Acesso.

11.5. A Direita e a Esquerda do Acesso As questões de acesso não são recentes na área de comunicações. Questões sobre o acesso foram levantadas quando o telefone foi introduzido pela primeira vez, e mais tarde, quando o rádio e a televisão surgiram. Logo apareceram leis que tratavam do acesso e disseminação desses meios de comunicação. Hoje, a questão tornou-se muito mais significativa. O foco da questão não é mais o acesso aos meios em si, mas o acesso à cultura através dos meios de comunicação. A problemática do acesso, então, se torna uma das considerações mais importantes da nova era que surge.

12. Capítulo 12
12.1. Rumo a uma Ecologia da Cultura e do Capitalismo A Era do Acesso mudou não apenas a economia ou a sociedade, mas também mudou a concepção do que significa ser um ser humano. Até o presente momento, as questões econômicas e jurídicas foram sempre o foco principal da discussão da estruturação de relacionamentos humanos. Agora, definir a natureza sociológica e a importância política das relações de acesso continua sendo uma tarefa incompleta.

12.2. A Nova Teoria dos Direitos A mudança da posse para o acesso está fazendo surgir novas teorias sobre as relações de propriedade. Um número cada vez maior de intelectuais está examinando de uma maneira diferente a natureza e a filosofia das relações de propriedade, afim de reconfigurar seus pressupostos à nova realidade de uma economia de rede e de um mundo conectado. Segundo o professor Crawfor MacPherson, da Universidade de Toronto, a primeira característica da propriedade moderna é o direito de excluir os outros. Com essa idéia a sociedade deixa de lado a propriedade pública (parques, ruas da cidades, terras comuns). Vale lembrar que todos têm o direito legal de não ser excluído do uso ou benefício dessas formas de propriedade pública.

Tanto a propriedade privada quanto a pública, formam um amplo domínio dos direitos de propriedade individuais de todo ser humano na sociedade: a propriedade privada garante a cada pessoa o direito de excluir os outros do uso ou benefício de algo, já a propriedade pública garante a cada pessoa o direito de não ser excluído do uso ou benefício de algo. O direito de não ser excluído torna-se mais importante em um mundo cada vez mais formado de redes sociais e comerciais mediadas eletronicamente. À medida que a maioria das comunicações entre pessoas, assim como a da experiência vivida, ocorre nos mundos virtuais do ciberespaço, as questões de acesso se tornarão fundamentais e o direito de não ser excluído se tornará essencial.

12.3. Dois Tipos de Acesso Nossa vida comum está sendo inevitavelmente sugada pela vida comercial, o que irá gerar profundas conseqüências a longo prazo para o futuro da civilização humana. Estamos nos esquecendo que muitas coisas que agora acessamos com nossas compras eram bens culturais disponíveis gratuitamente., estamos começando a comprar nossas próprias experiências vividas justamente com adornos e acessórios que as acompanham. Há um grande equívoco nessa nova era: a crença de que os relacionamentos dirigidos comercialmente e as redes mediadas eletronicamente podem substituir os relacionamentos e as comunidades tradicionais. Esta é uma idéia errônea pois as duas formas de organizar a atividade humana são oriundas de conjuntos bem diferentes de pressupostos e valores, o que as torna incompatíveis.

Os relacionamentos tradicionais nascem de coisas como parentesco, etnia, geografia e visões espirituais em comum. Já os relacionamentos transformados em commodity são de natureza instrumental, a única coisa que os une é o preço de transação. A diferenciação mais importante a ser feita é entre contratos sociais e os comerciais. Os contratos sociais possuem uma duração mais longa, são embasados por uma noção de dívida aos antepassados, a gerações não-nascidas e à terra e suas criaturas. Em contraposição, os contratos comerciais em geral são de curta duração, não estão ligados por história alguma, mas sim pela execução e resultados. Instituições culturais de uma sociedade como igrejas, associações cívicas, organizações beneficentes, clubes esportivos, entre outros, são a origem da confiança social., e sua existência tornam os mercados possíveis.

Em sociedades em que o terceiro setor é forte os mercados capitalistas prosperam. As organizações do terceiro setor são as instituições responsáveis pela preservação e melhoria de todas as dimensões culturais locais. É no terceiro setor onde as pessoas relaxam e se divertem, buscam companhia, fazem amizades e vivem os prazeres da vida e da natureza, no terceiro setor as pessoas criam e praticam os valores compartilhados pelos quais escolheram viver.

Se o capitalismo continuar sua marcha rumo à absorção de grandes partes do âmbito cultural em sua esfera, há um risco bastante plausível de a cultura atrofiar a ponto de não poder mais produzir capital social suficiente. O capital social é algo vital para as operações comerciais, portanto, ao se abalar dessa forma a produção de capital social o comércio será arrasado. A empatia é um sentimento pelo qual a confiança social é construída. Muitos psicólogos e sociólogos estão preocupados com a geração, que está crescendo em mundos simulados e se habituando com a idéia de comprar acesso a commodities culturais e a experiências vividas. Isso pode gerar uma falta de experiência emocional suficiente para se sentir empatia. Uma geração que não é capaz de sentir algo pelos outros é incapaz de criar confiança social, que é vital para manter a cultura.

12.4. Ressuscitando a Cultura Assim como a produção industrial depende de matéria-prima vinda da natureza, a produção cultural depende dos recursos da esfera cultural, o que não exclui nenhuma das duas de ser extrativa. A diversidade cultural é semelhante a biodiversidade, se toda a diversidade cultural das experiências humanas em todos o mundo for explorada para ganhos a curto prazo na esfera comercial e não puder ser reposta, a economia perderá o grande conjunto de experiências humanas que são matéria-prima da produção cultural.

Assim como a biodiversidade, a diversidade cultural também pode ser usufruída até sua exaustão.

A nova onda da world music é um bom exemplo para ilustrar essa extração. Constantemente a world music combina musica nativa com outras músicas mais contemporâneas, criando a chamada “mixagem”. Em seu disfarce nativo, boa parte dessa música representa um capital cultural. A música nativa muitas vezes expressa o sofrimento, as circunstâncias de um povo, sua ânsia espiritual e suas aspirações políticas. Ao se apossar, empacotar, e transformada em commodity e ser vendida como world music, a mensagem central da música muitas vezes é diluída ou ainda perdida de vez.

A cultura precisa ser restaurada não pura e simplesmente porque produz os recursos brutos para a produção cultural ou ainda porque gera a confiança social e a empatia, sem a qual os mercados não poderiam funcionar. A cultura deve ser restaurada pelo seu próprio benefício e em seus próprios termos pois só ela é a fonte de valores humanos.

12.5. A Nova Missão para a Educação Em muitas escolas já existe a preocupação de como preparar os estudantes para uma economia de rede e para os paradigmas virtuais do ciberespaço, mas isto implica em sacrificar sua participação na cultura mais ampla. Salas de aula em diversos países estão sendo conectadas a internet, equipadas com computadores, afim de preparar os jovens com as habilidades de que eles necessitarão para acessar domínios eletrônicos.

Muitos pais e educadores estão se preocupando com o fato de que as experiências de vida ocorrem cada vez mais na frente de monitores ou dentro de mundos virtuais, assim, isto poderá contribuir para que os jovens não desenvolvam habilidades sociais adequadas para atuar como seres humanos na sociedade. Segundo professores da educação cívica, desenvolver as habilidades que sejam usadas no mercado dentro das escolas é colocar a carroça na frente dos bois, eles defendem que a educação deve cultivar a confiança social e a empatia e promover a intimidade com os outros e também conscientizar os estudantes do papel fundamental que a cultura desempenha na manutenção da vida e da civilização.

12.6. Politizando o Terceiro Setor As instituições culturais acabaram se tornando dependentes das instituições políticas e comerciais para seu próprio sustento. Essa dependência se apresenta de diversas formas, desde a extensão dos contratos e concessões do governo em troca da execução de serviços até a filantropia corporativa, muitas vezes ofertada afim de receber algum benefício como retorno. A cultura, ou o terceiro setor, com algumas exceções é deixada para um segundo plano, onde desempenha no máximo um papel periférico nas decisões que afetam a vida da comunidade.

Isso está prestes a mudar, visto que os governos estão desempenhando um papel menor na administração dos negócios diários das comunidade locais e concomitantemente as empresas estão se tornando menos locais e mais globais em suas atividades, incentivadas pelo ciberespaço, que as permite afrouxar seus vínculos com os espaços geográficos. Movimentos fundamentalistas estão sempre ligados à idéia de espaço geográfico, de defender o território ancestral, a Terra Santa, o que une as pessoas em lutas de vida ou morte. O fundamentalismo é a força que representa a maior reação a um mundo sem fronteiras composto pelas redes globais e pelo fluxo de comunicação. As idéias dos movimentos fundamentalistas colocam-nos em desacordo com a maioria das organizações societárias civis, que também são favoráveis à restauração da cultura local, mas respeitam os direitos das outras culturas de existir. Assegurar o acesso aberto a outras culturas enquanto se preservam os aspectos e qualidades únicos da própria cultura é o que diferencia as organizações societárias civis dos movimentos fundamentalistas.

12.7. A Dialética de um Ethos do Lazer Na transição do capitalismo industrial para o capitalismo cultural, o ethos do trabalho está saindo de cena, cedendo espaço, aos poucos, ao ethos do lazer. Quando as pessoas se divertem, elas criam cultura. O lazer é uma categoria fundamental do comportamento humano, sem o qual a civilização não existiria. Durante a Idade Moderna o trabalho tornou-se prioridade na atividade humana, deixando o lazer como uma atividade marginal, que mal cabia entre o trabalho e o sono. Ao passo que o mercado ganhou espaço em relação a troca social e o capital de mercado passou a ser o foco principal das atividades humanas, a lazer foi banalizado em atividades nas horas de folga.

Na economia atual, o lazer está tornando-se tão importante quanto o trabalho foi para a economia industrial. Por ser comprado, o lazer como conhecemos hoje não é uma experiência social, e sim contratual. A expropriação do lazer pelas forças de mercado ameaça toda a desvalorização do significado do lazer e ainda uma perda da esfera cultural que surge do lazer e é nutrida por ele.

*Aluno de graduação de Direito da UFSC.