By Douglas Rushkoff at 6:30 am Monday, May 11
Douglas Rushkoff - autor do livro Life Inc: How the world became a corporation and how to take it back - é um blogueiro convidado.
Eu estarei postando um trecho do meu próximo livro, Life Inc., a cada Segunda de manhã até que o livro seja publicado, em 2 de Junho. Na semana passada, publiquei a introduction . Hoje, a primeira metade do capítulo um. Eu também vou manter os trechos acima como PDFs emLifeIncorporated.net..
CAPÍTULO UM
Uma vez surgida: A forma de vida CORPORAÇÃO
Alvarás (privilégios) e a Desconexão do Comércio
Se você não pode vencê-los ...
O comércio é bom. É a maneira através da qual as pessoas criam e permutam valores.
O Corporativismo é algo completamente diferente. Apesar de não ser completamente distinto do comércio ou do livre mercado, a Corporação é uma Entidade muito especifica, autorizada por monarcas, por razões que têm muito pouco a ver com ajudar as pessoas a realizar operações umas com as outras. Seu objetivo, desde o início, era suprimir as interações laterais entre as pessoas ou pequenas empresas e, ao invés, redirecionar todo e qualquer valor que eles criassem para um seleto grupo de investidores.
Esta agenda foi tão bem incorporada na filosofia, estrutura e prática das primeiras empresas licenciadas que ainda caracteriza a atividade de ambas, as empresas e as pessoas reais, hoje. A única diferença, hoje, é que a maioria de nós, os chefes das empresas incluídos, não tem idéia desses vieses subjacentes ou como, automaticamente, somos condicionados por eles. É por isso que temos que voltar para o nascimento da própria corporação para entender como os princípios do corporativismo se estabeleceram como padrões para os princípios sociais de nossa época.
Houve três grandes etapas principais na evolução da Corporação e cada uma reforçou a impressão do corporativismo no inconsciente coletivo humano. A Corporação nasceu no Renascimento, obteve pessoalidade (equiparação às pessoas reais, em termos de direitos) no pós-Guerra Civil Americana, e depois, no século XX, foi reconhecida como o guardião benevolente e salvador da humanidade.
A maioria dos livros de história contam o desenvolvimento do contrato corporativo como um passo natural, quase evolutivo, no avanço do comércio. Até certo ponto, isso é verdade. Após a queda do Império Romano, no início da Idade Média, a Europa caiu em desordem. Os europeus viviam em isolamento uns dos outros, dominados pelas casas senhoriais rurais auto-suficientes e auto-governadas. Feudalismo, como o sistema político vigente veio a ser chamado, não era uma forma particularmente divertida para se viver - e, certamente, não para os camponeses que compunham a maioria da população do continente. Lordes Latifundiários davam extensões de terras para os vassalos em troca de lealdade militar. Vassalos, por sua vez, dominavam os camponeses que eram, geralmente, autorizados a subsistir com os restos de suas colheitas. Ao contrário do Império Romano, as leis variavam amplamente de lugar para lugar.
A falta de um sistema dominante de comércio deixou os senhores (lordes) fora de um significativo e crescente setor empresarial: a atividade que ocorria entre as pessoas de diferentes casas senhoriais (feudos) e além. Nos anos 1200, a evolução tecnológica, como moinhos de água e moinhos de vento, bem como o aumento das viagens e do comércio levou ao ressurgimento de cidades, fora do controle direto do senhor feudal. Cidades tornaram-se centros para a fabricação, troca e circulação de bens e proporcionaram um grande contraste com o comum cada um—com-seu-próprio modo de vida, das casas senhoriais e aldeias. Em suas novas definição urbanas, os servos encontraram a liberdade jurídica, as oportunidades de trabalho e um lugar para começar de novo. Os cidadãos das cidades tornaram-se conhecidos como "burgueses", um termo que se espalhou pela Europa Ocidental medieval e forneceu as bases para a palavra "burguesia".
1. Na acepção romana antiga, designa local fortificado, ganhando na Idade Média aconotação de castelo, forte ou mosteiro e suas cercanias, de onde se originaram diversas cidades.
2. (Figurado) A morada do burguês, local de luxo, protegido e de acesso restrito.
3. Na Inglaterra, designa a cidade ou vila que tem o direito de eleger representante para o Parlamento.
Sinônimos
· cidade
· urbe
Era só uma questão de tempo até que os burgueses crescessem tornando-se mais ricos e, potencialmente, ainda mais poderosos do que a aristocracia. Em vez de depender da propriedade de um pedaço fixo de terra, cultivada pelos camponeses e protegida por um exército de vassalos caro, esta nova classe de comerciantes e fabricantes podia aumentar a produção, comércio e aquisição quase infinitamente. O mercado onde operavam poderia crescer tanto quanto necessário para acomodar cada vez mais comércio, simplesmente espalhando-se para fora do centro da cidade. A cidade, então, naturalmente expandiu-se em torno do novo local, e este ciclo continuaria até a cidade acabar por florescer em uma metrópole, a qual por sua vez exige mais bens e comércio, e assim por diante. Os senhores feudais tentaram regulamentar todo este comércio e este crescimento, controlando e tributando os mercados locais, mas as pessoas sempre encontraram maneiras de contornar esses limites e restrições.
Um atravessador de tais limites foi o comerciante, que ressurgiu por volta do século XIII para servir como intermediário entre a cidade e o país, fornecendo os primeiros elos da cadeia de conexão de circulação de mercadorias entre o produtor, o varejista e o comerciante. Em dias não-mercantis, sapateiros, ferreiros e artesãos estavam acostumados a vender seus produtos através das janelas de suas oficinas. Ao permitir que os comerciantes criassem suas próprias lojas e vendessem esses itens para eles, os artesãos tinham mais tempo para fazer o que eles faziam melhor. Os donos das lojas não se especializavam em realmente fazer alguma coisa, mas na geração de lucros através da venda. Negócios por razões de negócios havia nascido. Ao longo das gerações seguintes, juntamente com os comerciantes, agiotas e os investidores que os apoiaram, esses varejistas se tornariam o núcleo da burguesia urbana. Enquanto a nobreza decaiu, em propriedade de terras, finanças e poder - bem como em números - esta nova classe de puros comerciantes tinha acesso ao comércio internacional, investimentos e a uma economia alternativa.
Pior ainda para a aristocracia, como os comerciantes navegavam a vela, eles se beneficiavam dos vastos recursos de outros territórios. Enquanto a nova burguesia foi se convertendo em membros do nascente mercado global, a aristocracia tradicional era essencialmente fixada na terra. Aquela autoridade social que eles haviam deixado de oferecer aos seus assuntos, foi diminuindo tão rapidamente como a sua riqueza, influência e números.
A aristocracia ansiava por uma forma de participar na nova economia - uma maneira de investir que não os colocassem, ou aos seus bons nomes, em qualquer risco. Por seu lado, a nova classe comerciante tinha, certamente, aumentado a velocidade e amplitude da criação de riqueza - mas isso também gerou um ambiente de negócios altamente competitivo. Riqueza súbita poderia ser seguida por uma bancarrota súbita se um único navio se perdesse no mar ou um incêndio destruísse uma oficina inteira. Empresas mercantis ainda eram, em sua maioria, familiares e raramente operavam mais do que algumas poucas viagens antes de um naufrágio ou outra calamidade levá-los a quebrar. Eles precisavam de uma forma de institucionalizar o seu sucesso enquanto eles estavam no topo, logo após seu navio haver chegado.
Esta é a paisagem em que o Renascimento veio a ocorrer e uma nova maneira de conduzir os negócios veio a emergir. A grande prioridade não era promover a atividade econômica, a cooperação global, ou a expansão colonial, mas, ao invés, congelar todo este desenvolvimento em uma posição particular e evitar que o elenco de personagens no topo mudasse muito, ao longo do tempo. Mas bloquear a riqueza era muito mais difícil para todo mundo agora que tanta inovação estava acontecendo - especialmente quando o sucesso tende a vir com uma perda de competência. De fato, enquanto o Renascimento é freqüentemente celebrado por sua ênfase na especialização e perícia, nada poderia estar mais longe da verdade.
A divisão do trabalho não é a mesma coisa que a especialização do trabalho. Na superfície, pode parecer que uma sociedade de comerciantes, gerentes e vários níveis de trabalhadores é mais especializada do que uma de lojistas e artesãos. Mas não era uma vantagem para o gerente contratar trabalhadores altamente especializados, que poderiam exigir salários mais altos. Em vez disso, os gerentes padronizaram os processos, a fim de contratar trabalhadores com o minimo de qualificação e mais substituíveis que estivesem disponiveis. Longe de encorajar especialização, a competência ou a inovação, toda esta atividade mercantil e industrial, na verdade, favoreceu a generalização.
Enquanto a população crescia e a demanda por bens aumentava, terra aberta era privatizada. O que desenraizava camponeses, forçando-os ao mercado de trabalho genérico. Anteriormente, a vida de um camponês tinha sido menos ou completamente independente do dinheiro e do mercado, encontrados nos centros urbanos. Camponeses faziam o que eles podiam produzir com suas próprias mãos e trocar localmente. Era uma vida de grande limitação, mas também de auto-suficiência. Com a propagação da economia comercial, o camponês tinha que transformar a única habilidade comerciável que ele tinha - trabalho físico - em seu meio de sobrevivência. Evidências desse tipo de trabalho assalariado podem ser rastreadas até Portugal, em 1253. Assim como o estacionamento Home Depot, onde trabalhadores imigrantes mexicanos se reúnem hoje, havia pontos de encontro designados, geralmente uma praça ao amanhecer, onde um capataz, que representava um empregador, se encontraria com diaristas e os contrataria direto da rua.
Enquanto isso, a classe de gestão procurava diversificar-se tão rapidamente quanto possível, o que prejudicava qualquer especialização deles próprios. Uma vez que um lojista de baixo nível ou assalariado tivesse guardado dinheiro suficiente para dar o primeiro passo em níveis mais avançados de comércio, seu primeiro movimento era comissionar o máximo do trabalho que ele costumava executar. Então ele começava a diversificar suas mercadorias e atividades financeiras. Quanto mais alto o capitalista estava na escada econômica, mais amplos e variados eram os seus investimentos e empresas - e mais ele se desconectava de habilidades de negócio e das pessoas que as executavam.
Assim, tanto a aristocracia como os mais bem sucedidos da classe mercantil exigiram um novo mecanismo pelo qual eles poderiam investir seu capital quase "genérico" na forma de puro poder financeiro e jurídico. Esse mecanismo tinha de oferecer a capacidade de investir em um negócio com total discrição, o anonimato, ser de responsabilidade limitada, participação passiva e com pouca ou nenhuma experiência.
As tradicionais empresas familiares, que compartilhavam trabalho, risco e capital, por laços de sangue, já não eram suficientes para a tarefa. Novos tipos de leis, contratos e moedas padronizadas seriam necessários para estender esses acordos a pessoas de famílias e regiões diferentes. Florença, com a sua localização chave no Mediterrâneo (bem como sua moeda amplamente aceita, o florin de ouro), tornou-se o berço das primeiras "sociedade de responsabilidade limitada". Precursores das corporações, elas distinguiam a responsabilidade dos diretores da firma e daqueles que simplesmente contribuíam com capital, que só seriam responsáveis pelo montante de sua contribuição. Além disso, os acionistas não estavam sujeitos a ser listados entre os parceiros de negócios, permitindo aos nobres e monarcas, esconder os seus interesses comerciais. O conceito de sociedade limitada rapidamente se espalhou por toda a Europa, financiando investimentos ousados de minas e plantações até aventuras colonialistas. Através desta nova oportunidade para a participação silenciosa e passiva, a nobreza tornou-se louca para investir.
Como os operadores desses grandes projetos procuravam assegurar ainda mais capital a partir de uma ampla gama de regiões e classes sociais, eles criaram uma forma mais avançada de parceria limitada chamada sociedade anônima, que poderia gerar investimentos de acionistas em um mercado aberto. Isso inaugurou o mercado de ações, permitindo a criação de empresas por praticamente qualquer pessoa capaz de conseguir investidores. Ele quase marcou uma era de meritocracia nos negócios, o que teria gerado uma rotatividade sem precedentes na estrutura de classes. Os comerciantes mais ricos eram agora tão vulnerável a iniciantes como a aristocracia.
Finalmente, a monarquia tinha algo que poderia oferecer a burguesia que ameaçou derrubá-los.
Uma Criança Nasceu
Embora os monarcas pudessem carecer dos grandes recursos financeiros das sociedades anônimas, eles ainda desfrutavam de uma vantagem estrutural sobre qualquer uma delas: a autoridade jurídica central. Tomando como exemplo a Igreja, que tinha uma tradição de "incorporação" de grupos de monges em entidades únicas, a realeza exerceu sua autoridade para sancionar um novo tipo de ente licenciado: a corporação. Era genial.
A corporação não era um negócio ou uma entidade governamental, mas uma combinação dos dois. Seus patrocinadores governamentais - os monarcas - tinham a autoridade para escrever as leis comerciais e garantir os monopólios, seus participantes de negócios - as empresas autorizadas - gozavam do direito exclusivo de explorá-los.
Ao conceder a uma sociedade anónima especifica uma carta legal para fazer negócios, os monarcas poderiam dar-lhe um controle de monopólio sobre seu setor de negócios. Assim, uma companhia de navegação que antes competia com outras pelos recursos de um conjunto de ilhas agora gosava de controle exclusivo, sob mandato do monarca, sobre esse domínio. Nenhuma outra empresa podia fazer negócios naquela região, e mesmo os locais ou colonos seriam proibidos por lei de concorrer com a corporação, extraindo seus recursos ou vendendo seus bens. Para outra corporação seria concedido o monopólio sobre a produção de vidro, outra venderia cerveja, e assim por diante. Mediante a emissão de cartas corporativas, os reis poderiam capacitar os mais leais a eles com o controle permanente sobre suas regiões coloniais ou indústrias.
O problema das sociedades anônimas, de aumento da concorrência com novas empresas ou com atividade locais, estava resolvido. E, em contrapartida pela concessão de monopólios legalmente exigíveis sobre determinadas indústrias e regiões, os monarcas obtinham apoio fiscal e participação muito superiores ao valor de qualquer investimento em dinheiro que poderiam ter feito. Como um advogado holandês explicou em uma carta descrevendo a mais antiga autorização deste tipo, a da Companhia das Índias Orientais, holandesa: "O Estado deve alegrar-se com a existência de uma associação que lhe paga tanto dinheiro a cada ano fazendo com que o país obtenha três vezes mais lucro do comércio e navegação nas Índias do que os acionistas ".
Para os comerciantes, cujos negócios anteriormente duravam apenas durante uma expedição única, o acordo oferecia uma maneira de ganhar status mais permanente, proteção militar da Coroa e o direito de explorar novas regiões e povos com autoridade e impunidade. Igualmente importante, eles não poderiam perder mais do que seu investimento inicial. A "responsabilidade limitada" concedido em uma carta significava que as dívidas de uma empresa morriam com a falência da corporação. E a proteção contra a bancarrota era concedida pelo Estado.
Ao inventar esta entidade virtual - a corporação autorizada - a aristocracia e a burguesia entraram em uma co-dependência mútua que mudou o caráter de ambas. Através destes primeiros grandes monopólios comerciais, tais como a inglesa Muscovy Company de 1555, a British East India Company de 1600, ou a holandesa United East India Company de 1602, os monarcas encontraram uma maneira de estender seu alcance sem o custo ou responsabilidade de uma expedição militar oficial. Melhor ainda, para os monarcas, os comerciantes operando a corporação passariam a ser súditos leais, dependentes da Coroa para a sua legitimidade, proteção e cláusulas de escape.
A corporação licenciada foi um acerto entre ambos para a regra permanente e a riqueza permanente, que constituia um impasse entre os dois grupos. Os contratos que monarcas e mercantilistas escreveram não só interromperam o seu próprio declínio do poder; mas pararam o tempo, construindo um conjunto de prioridades corporativistas que até hoje não mudaram significativamente. Em vez disso, essas prioridades trabalham para mudar o mundo e as pessoas em conformidade com as regras do corporativismo.
Pessoas que sempre estiveram envolvidas em negócios, uns com os outros, agora seriam obrigados a fazê-lo através dos poderes dos monopólios. Todo o contato lateral entre as pessoas e empresas agora seria mediado por autoridades centrais. Qualquer criação ou troca de valores teria que ser executada através destas empresas centralmente mandatárias, em um sistema imposto por lei, controlado por moeda e perpetuado através da erosão de todas as outras conexões entre as pessoas e seu mundo. Além disso, a ênfase do negócio iria mudar: da criação de valor por pessoas, para a extração de valor pelas empresas.
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Atenciosamente.
Claudio Estevam Próspero
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