sábado, 9 de fevereiro de 2013

ASCL- Slow Food - a CURA para o Fast Food: Restituir dimensão humana aos alimentos, instrumentos ecológicos e de prazer, de resgate social e econômico - começando devagar, em nossas comunidades locais


Para saber mais:



[!!!] Vasta gama de evidências demonstra que as pequenas fazendas são, na realidade, mais produtivas do que as grandes – chegando até a 200/1.000 por cento de maior produção por unidade de área! [!!!]

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           Talvez mais surpreendente para as pessoas que apenas casualmente acompanharam o debate sobre os valores da pequena fazenda versus a “eficiência” da fazenda-fábrica, seja o fato que uma vasta gama de evidências demonstra que as pequenas fazendas são, na realidade, mais produtivas do que as grandes – chegando até a 200/1.000 por cento de maior produção por unidade de área. Como é que isto se harmoniza com as alardeadas vantagens de produtividade das atividades mecanizadas, de grande escala? A resposta é simplesmente que estas vantagens são sempre calculadas na base do quanto de uma lavoura a terra produzirá por acre. Entretanto, a maior produtividade de uma fazenda menor, mais complexa, é calculada na base de quanto alimento em geral é produzido por acre. A fazenda menor pode cultivar várias lavouras utilizando diferentes profundidades de raízes, altura das plantas ou nutrientes, na mesma área de terra simultaneamente. É esta “policultura” que dá a vantagem de produtividade à pequena fazenda.

            A fim de ilustrar a diferença entre essas duas medidas, consideremos uma grande fazenda de milho do Centro-Oeste. Esta fazenda pode produzir mais milho por acre do que uma pequena propriedade, onde o milho é cultivado como parte de uma policultura que também inclui feijão, abóbora, batata e ervas que servem para ração. Porém, em produto global, a policultura – sob estreita supervisão de um fazendeiro experiente – produz muito mais alimento, seja medido por peso, volume, bushels, calorias ou dólares.

            A relação inversa entre o porte da fazenda e o produto pode ser atribuída ao uso mais eficiente da terra, água e outros recursos agrícolas das quais a pequena fazenda dispõe, inclusive as eficiências do intercultivo de vários vegetais na mesma área, com plantios múltiplos durante o ano, estabelecendo metas de irrigação e integrando a agropecuária. Assim, em termos de conversão de insumos em produtos, a sociedade se daria melhor com fazendeiros em pequena escala. E à medida que a população continua a crescer em muitos países e os recursos agrícolas continuam a encolher, uma pequena estrutura de cultivo pode ser fundamental para o atendimento das necessidades futuras de alimentos.

Reconstruindo os Armazéns de Alimentos

            Ao se ver a variedade de pressões que afligem os fazendeiros não é difícil entender o desespero crescente. A situação se tornou explosiva, e se a estabilização da erosão da cultura e ecologia agrícolas é hoje crucial não apenas para os fazendeiros, mas para todos que se alimentam, ainda resta uma questão desafiadora sobre que estratégia funcionará. Os gigantes do agronegócio estão bem enraizados hoje e protestos dispersos terão o mesmo efeito neles como uma mordida de mosquito num trator. As perspectivas dos fazendeiros conquistarem força política por conta própria são fracas, pois seus números – pelo menos nos países industrializados – continuam a encolher.

            Uma maior esperança para mudança pode estar numa união de forças entre os fazendeiros e o maior número de outros segmentos da sociedade que hoje veem os perigos, para seus próprios interesses, da reestruturação contínua do campo. Há alguns modelos proeminentes para essas coalizões, nas várias áreas que se juntaram para lutar contra os projetos de aumento das capacidades de barcaças do Mississipi e da hidrovia brasileira que estão sendo promovidos em nome da produtividade global da soja.

            O grupo americano reuniu pelo menos os seguintes aliados fluviais:

·         Grupos ambientalistas nacionais, incluindo o Sierra Club e a National Audubon Society, que estão alarmados com a perspectiva de um bem comum ser danificado, em benefício de um pequeno grupo de interesse comercial;
·         Fazendeiros e organizações de apoio à agricultura, preocupados com o poder imoderado sendo exercido por um oligopólio dos agronegócios;
·         Grupos de contribuintes irados com a perspectiva de incentivos ao bem-estar corporativo que esvaziará mais de US$ 1 bilhão dos cofres públicos;
·         Caçadores e pescadores preocupados com a perda de habitats;
·         Biólogos, ecólogos e observadores de aves preocupados com as inúmeras espécies ameaçadas de aves, peixes, anfíbios e vegetais;
·         Grupos de capacitação local preocupados com os impactos da globalização econômica sobre as comunidades;
·         Economistas agrícolas temendo que o projeto consolide ainda mais a dependência dos fazendeiros na exportação de commodities a granel, de baixo custo, perdendo assim oportunidades valiosas de manter recursos na comunidade, através da moagem, envasilhamento, cozimento e processamento locais.
      Uma coalizão paralela de grupos ambientalistas e de apoio à agricultura foi formada no hemisfério Sul para resistir à expansão da hidrovia. Lá, também, a campanha é parte de outra, maior, que desafia a hegemonia da agricultura industrial. Por exemplo, foi formada uma coalizão em torno do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, uma organização no Brasil que ajuda os trabalhadores sem terra a realizar ocupações de terra improdutiva de propriedade de ricos latifundiários . Esta coalizão inclui 57 organizações agrícolas com base em 23 países. Também reuniu grupos ambientalistas da América Latina preocupados com os empreendimentos afins de extração de madeira e pecuária, favorecidos pelos grandes proprietários; prefeitos de municípios rurais que reconhecem o incremento que os fazendeiros podem dar às economias locais; e organizações sociais das cidades brasileiras, que vêem a ocupação de terras como uma alternativa às favelas.

      Os projetos do Mississipi e da hidrovia brasileira, gigantescos como são, ainda representam apenas dois entre centenas de empreendimentos agro-industriais que estão sendo contestados em todo o mundo. Todavia, as coalizões que se formaram em torno deles representam o tipo de reação concentrada com mais probabilidade de refrear o gigante, em parte porque as soluções que essas coalizões propõem não são expressões vagas ou quixotescas de idealismo, mas sim práticas e localizadas. No caso da aliança em torno do projeto do Rio Mississipi o trabalho da coalizão incluiu o questionamento das premissas da análise do Corpo de Engenharia, o lobby para um exame antimonopolista dos cartéis de agronegócios e a exigência de modificações aos subsídios agrícolas existentes nos Estados Unidos, direcionados desproporcionalmente aos grandes fazendeiros. Grupos ambientalistas estão procurando restabelecer um equilíbrio entre o uso do Mississipi como transportador de barcaças e uma bacia hidrográfica intacta. Simpatizantes agrícolas estão promovendo alternativas à rotação-padrão do milho-soja, incluindo a produção certificada de lavouras orgânicas que possam simultaneamente reduzir os custos de insumos e obter um ágio para o produto final, reduzindo a poluição por nitrogênio.

      Os Estados Unidos e Brasil podem ter cometido erros custosos ao conceder tamanho poder ao agronegócio para reconfigurar rios e terras para seu próprio uso. Porém, a estratégia de coalizões interligadas pode se mobilizar a tempo para resgatar muito da saúde agrícola mundial, antes que seja tarde demais. Dave Brubaker, Diretor do Projeto Spira/GRACE sobre Produção Animal Industrial, da Faculdade de Saúde Pública da Johns Hopkins University, vê essas várias coalizões como “o início de uma revolução sobre a forma de vermos o sistema alimentício, aliando a produção de alimentos com o bem-estar social, saúde humana e o meio-ambiente.” O projeto de Brubaker reune autoridades de saúde pública em torno do uso excessivo de antibióticos e contaminação hídrica resultantes do dejeto súino; fazendeiros e comunidades locais que se opõem à disseminação de novas fazendas fábricas, ou que desejam o fechamento das existentes; e uma falange de aliados naturais com campanhas afins, incluindo ativistas dos direitos animais, sindicatos trabalhistas, grupos religiosos, ativistas de direitos do consumidor e grupos ambientalistas.

     “À medida que o círculo de partes interessadas se alarga, a aliança encurta a distância entre os fazendeiro e o consumidor,” observa Mark Ritchie, Presidente do Instituto de Agricultura e Política Comercial, um grupo de pesquisa e defesa freqüentemente no centro dessas parcerias. Esta maior proximidade pode se tornar crucial para a sustentabilidade final do nosso abastecimento, uma vez que hábitos de compra social e ecologicamente seguros não são apenas o resultado passivo de mudanças na forma em que os alimentos são produzidos, mas podem efetivamente ser as forças motrizes mais poderosas dessas mudanças.

     A explosão de mercados agrícolas, agricultura sustentada pela comunidade e outros acertos de compra direta entre fazendeiros e consumidores, aponta para o número crescente de não-fazendeiros que já mudaram seu papel na cadeia alimentícia: de escolher entre dezenas de milhares de marcas de alimentos ofertadas por uma dezena de empresas, para se desviarem totalmente dessas marcas. E, uma vez que muitos dos aditivos e etapas de processamento que compõem o grosso do dólar do alimento são simplesmente as consequências inevitáveis do tempo cada vez maior que o alimento comercial hoje passa no trânsito e armazenagem globais, este encurtamento da distância entre produtor e consumidor não apenas beneficiará a cultura e ecologia das comunidades agrícolas. Também nos dará acesso a alimentos mais frescos, gostosos e nutritivos. Felizmente, como qualquer mercador pode dizer, estas características têm venda fácil.

*Brian Halweil é pesquisador do WWI

© WWI-Worldwatch Institute / UMA-Universidade Livre da Mata Atlântica, 2000. Todos os direitos reservados.
Autorizada a reprodução desde que citada a fonte e o site no Brasil www.wwiuma.org.br

O Artigo completo, com gráficos e tabelas, pode ser encontrado na Revista World Watch www.wwiuma.org.br


Artigo publicado na Revista
World Watch
 Que Fim Levaram os Fazendeiros?


A globalização da indústria e do comércio está uniformizando cada vez mais a gestão das terras mundiais e ameaçando a diversidade de lavouras, ecossistemas e culturas. À medida que a agricultura industrial se alastra, quem lavra sua própria terra – e quase sempre quem a melhor maneja – é forçado à servidão ou expulso.

por Brian Halweil*

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Atenciosamente.
Claudio Estevam Próspero 
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