De: Claudio Estevam Prospero
Enviada em: quinta-feira, 18 de novembro de 2010 19:17
Assunto: 2 (dois) Resumos do livro: A Era do Acesso, Jeremy Rifkin ---- Benefícios e riscos de uma migração de [[[ Relações de Propriedade (Capitalismo Industrial) ]]] para [[[ Relações de Controle de Acesso (Capitalismop Cultural) ]]].
Enviada em: quinta-feira, 18 de novembro de 2010 19:17
Assunto: 2 (dois) Resumos do livro: A Era do Acesso, Jeremy Rifkin ---- Benefícios e riscos de uma migração de [[[ Relações de Propriedade (Capitalismo Industrial) ]]] para [[[ Relações de Controle de Acesso (Capitalismop Cultural) ]]].
A Sociedade Pós-Capitalista na Era do Acesso
Thiago Carvalho de Sousa
Paulo Eduardo Azevedo Silveira
Introdução
A nova sociedade será uma sociedade do conhecimento.
Durante o século 20, a força predominante politica e socialmente fora o operário desqualificado e braçal, mas isto está prestes a mudar. A sociedade baseada no conhecimento quebra as fronteiras: o conhecimento estará ao alcance de todos.
É com esse discurso que Peter Drucker traz a tona o que a tecnologia da informação acarretará ao capitalismo. Peter Drucker é o criador da expressão "trabalhador do conhecimento", ao lado de Fritz Machlup, economista de Princeton, que cunhara "empresas do conhecimento".
Jeremy Rifkin, economista americano, também discursa sobre as mudanças que o conhecimento trará para essa nova era, a qual ele se refere pela “Era do Acesso”; em seu recente livro, de mesmo nome, Rifkin estuda os efeitos desse acesso ao conhecimento para o capitalismo. É sobre este livro que este texto se baseia, após um estudo minucioso de seus capítulos. Alguns trechos se referem a opinião argumentada dos autores deste texto.
Em apenas 100 anos, o trabalho agrícola deixou de ser o setor com maior participação da população, para ocupar apenas 25% no início deste século. A maioria ainda se encontra no setor industrial, porém este também vem sofrendo queda percentual.
O grupo que mais vem crescendo é o dos "trabalhadores do conhecimento", cujos empregos necessitam de alto nível escolar. Nos Estados Unidos, esse setor já ocupa um terço da força de trabalho.
Os trabalhadores do conhecimento se diferenciam dos operários manuais. Aqueles são "profissionais", e não "trabalhadores", isto é, eles utilizam-se de um conhecimento adquirido formalmente (escola, faculdade, ...) para realizar o seu trabalho.
Esses trabalhadores do conhecimento necessitam de uma educação formal, que concede a eles a habilitação necessária para a sua profissão. E além disso, também precisam estar se renovando sempre, para se manterem atualizados. A educação terminava quando começava o trabalho, na sociedade do conhecimento a educação não tem fim.
Trabalhadores altamente qualificados precisam de uma entidade onde possam aplicar suas especialidades e organizá-las para algum propósito (chamada de instituição por Phil Agre). Essas instituições sofrem transformações raras e muito lentas no seu modo de pensar e funcionar. A sociedade do conhecimento vem iniciando uma nova mudança.
O conhecimento passa a tomar o lugar de principal recurso econômico.
"Produzir mais, com menos trabalhadores". Esse é o paradoxo da indústria na sociedade do conhecimento.
Há 40 anos atrás, o preço da mão de obra representava 30% do preço final da produção. Hoje não passa de 15%. Os trabalhadores industriais estão, gradativamente, deixando de ser o principal mercado de consumo.
Previsões indicam que em 2020 a produção industrial irá dobrar, porém o número de pessoas envolvidas cairá de 20% para 12%. Nos Estados Unidos, essa transição já ocorrera.
O declínio da indústria como geradora de riquezas e empregos irá propiciar o nascimento de um novo protecionismo, como o que acontecera na agricultura, setor no qual os países desenvolvidos possuem uma fortíssima estratégia de subsídios governamentais.
Durante o século 20, a indústria foi completamente a favor de um comércio livre, sem fronteiras. Agora a mesma torna-se inimiga dessa globalização e a favor de uma prática protecionista de seu mercado.
1- Entrando na Era do Acesso
A Economia de Mercado (capitalista), que é baseada no processo de vender e comprar mercadorias está ultrapassada. A sociedade está repensando que tipo de relações quer cultivar. Na nova era, os mercados estão aderindo ao sistema de redes. O conceito de propriedade que era tão importante está sendo transformado. Ela deixa a empresa lenta demais, e como o mundo está com uma cultura cada vez mais veloz, a propriedade torna-se quase que imediatamente desatualizada. A propriedade não irá desaparecer, mas não será mais negociada em mercados. As pessoas apenas comprarão o acesso a ela.
Na nova era, as empresas podem fazer leasing, alugar ou cobrar taxas pela utilização de um bem. A relação entre vendedor e comprador é substituída pelo acesso. Antigamente o capital físico era o fator mais importante, mas hoje foi superado pelo capital intelectual. A riqueza é contabilizada pela imaginação e criatividade humana, e não mais pelo capital físico. E as empresas que possuem capital intelectual têm vantagem competitiva em relação às outras e exercem controle sobre as regras a serem seguidas pelos usuários.
A Era do Acesso transforma a cultura humana e a vida como um todo em commodity, mudando radicalmente o conceito de trabalho. Criou-se então o comércio baseado em experiências pessoais. As tarefas rotineiras estão sendo substituídas pela automatização, ou seja, "máquinas inteligentes".
Infelizmente, a Era do Acesso apenas é acessível a pessoas com grande poder aquisitivo, o que caracteriza a defasagem social e econômica.
2-Quando os Mercados dão Lugar às Redes
A computação está transformando o mercado em um sistema nervoso global, onde o comércio é o ciberespaço e a economia é a rede. Há vários tipos de redes para empresas de fornecedores, clientes, produtos e cooperação tecnológica visando o desenvolvimento dos produtos e otimização dos lucros.
A lei de Moore diz que o processamento de chips dobra a cada 18 meses e seu custo de produção diminuiria ou tornar-se-ia constante. O ciclo de vida dos produtos está diminuindo, pois logo que são lançados já precisam de inovações. Há estimativas de que 20% do conhecimento de uma empresa ficará obsoleto após um ano. Empresas estão se unindo e fazendo uma espécie de seguro coletivo para conseguir acompanhar essa evolução tão rápida.
A indústria cinematográfica é um exemplo a ser analisado, pois o risco de seu produto (o filme) é grande e os investimentos são bastante altos. É um mercado onde ter acesso é essencial, assim como ser mutável e capaz de acompanhar as rápidas mudanças das condições econômicas. Estas empresas empregam poucas pessoas pois todo o seu trabalho é realizado por agentes independentes, que trabalham com elas em parcerias temporárias para facilitar sua eficácia e agilidade no acompanhamento dessas mudanças.
3- A Economia sem Peso
O avanço tecnológico está fazendo com que os produtos fiquem cada vez menores e mais leves. Um computador que antes pesava 20 quilos hoje pesa 3 quilos e é bem mais potente. Além dos produtos, o que também está encolhendo são os imóveis. Isso faz com que os escritórios tornem-se espaços mais sociáveis onde todos trabalham juntos, facilitando a comunicação. Esses espaços abertos aumentam a produtividade, pois todo o processo torna-se mais rápido.
Com a utilização da técnica just-in-time, os estoques também estão perdendo peso. Isso faz com que as empresas economizem no custo de armazenagem. O dinheiro está se desmaterializando e sendo comercializado em redes eletrônicas. Isso traz como conseqüência o declínio da poupança e o aumento da dívida pessoal, pois o que prevalece hoje é o ágio rápido e não a acumulação.
4- Monopolizando Idéias
As redes estão invadindo o novo sistema capitalista, no qual o mercado prevalecia. Nesse tipo de negócio, a relação vendedor-comprador é substituída por fornecedores e usuários e a propriedade intangível ganha força em uma era baseada no acesso.
A franchising é um exemplo de negócio entre fornecedor e usuário. Empresas-mãe concedem a franquia, o acesso a um conceito de negócio e este conceito está relacionado a ativos intangíveis como marca, procedimentos, etc. Funciona como um clone do negócio original. Nessa negociação, o franqueador fornece, além da licença, equipamentos, treinamento, entre outras coisas para que tudo tenha um padrão, pois todas as franquias devem ser padronizadas, desde atendimento até o local físico.
Este é um tipo de negócio onde todos ganham. Hoje, praticamente todo produto ou serviço intangível está sendo franqueado. Até genes, sementes e animais clonados são alugados. Mas a essência do negócio, que são os aspectos intangíveis, continua sendo propriedade do franqueador. A verdadeira propriedade é daqueles que possuem know-how, conceitos e idéias.
5- Tudo São Serviços
Mudanças radicais estão ocorrendo na organização das relações econômicas. Os produtos são transformados de bens para serviços, ou seja, os produtos são apenas coadjuvantes, já que o serviço que vem incluso na compra do bem predomina na hora da compra. Isso porque os produtos viraram commodities. Um exemplo é o sucesso do leasing, onde os proprietários continuam sendo os fabricantes ou revendedores. Eles apenas alugam o bem a seus clientes, que têm apenas o acesso e não a posse. É a reestruturação do sistema capitalista.
Antigamente, as pessoas pertenciam a terra. Depois foi criada a propriedade privada que mudou a natureza das relações humanas.
Os serviços foram criados para auxiliar a produção e a distribuição dos bens. Eles não são classificados como propriedades. São imateriais e intangíveis. Assim, o conceito que define a vida social não é mais a propriedade.
Hoje, os produtos recebem melhorias e serviços de valor agregado. Neste novo sistema, são os serviços e as melhorias que contam no produto. Vários produtos, como as enciclopédias, estão sendo desmaterializados em serviços. Isso possibilita economia de recursos, menos poluição, ou seja, menos prejuízo ambiental. O cliente não compra o produto em si, e sim o que eles fazem. Assim, a venda (vendedor-comprador) é substituída pelo acesso (servidor-cliente).
6- Transformando as Relações Humanas em Commodities
Com a superprodução da geração pós-Segunda Guerra Mundial, os mercados dos clientes ficaram saturados. Daí surgiu a preocupação com o cliente, pois era preciso diferenciar os produtos para ganhar a concorrência. Assim, a perspectiva de marketing ganhou papel importante na vida comercial. Controlar o cliente passa a ser a nova meta.
A nova economia traz a Era do Acesso. E ela é definida pela transformação das experiências humanas em commodities e por novas perspectivas de marketing, onde a prioridade é estabelecer relações sólidas com seus clientes.
A preocupação com a participação no mercado foi substituída pela preocupação com o cliente. O foco não é vender um único produto ao máximo de clientes e sim vender o máximo de produtos a um único cliente. Assim se conquista e mantém a fidelidade do cliente. E com as novas tecnologias de relacionamento, como códigos de barras ou programas especiais, é possível saber o tipo de cliente, o que ele gosta, a freqüência de compra, etc. Isto é, o feedback permite às empresas prever e suprir as necessidades do cliente. As empresas passam a atuar como agentes, encontrando maneiras efetivas de estabelecer, melhorar e manter o relacionamento com os clientes.
Para atingir a fidelidade do cliente e criar relacionamentos duradouros, é preciso estabelecer “comunidades de interesse”. Em primeiro lugar, elas tornam o cliente consciente dos produtos e serviços. Assim, o cliente se identifica com o produto ou serviço e passa a ter um relacionamento mais interativo com a empresa. Depois são promovidos eventos onde os clientes de uma mesma empresa, que possuem interesses em comum, possam se encontrar. Isso é um marco na nova forma de condução de comércio.
7- O Acesso Como um Modo de Vida
A Era do Acesso está se solidificando através da troca de valores. O que antes era representado pela propriedade, hoje é representado pela economia de rede ou relações de acesso. Com ativos intangíveis, perspectiva de marketing e a valorização dos relacionamentos, a reestruturação da economia se desenvolve.
As CIDs, urbanizações de interesses comuns, transformaram as comunidades em commodities. As pessoas que compram casas nas CIDs procuram comprar um estilo de vida, assegurar o acesso a uma rede de pessoas que compartilham valores e sentimentos, conveniência e serviços oferecidos.
Mas, morando numa comunidade fechada, as pessoas deixam de possuir o direito da propriedade, já que vem com acesso a arranjos de moradia coletiva e passam a viver de acordo com regras preestabelecidas pelas CIDs.
Também voltados para o estilo de vida, os aluguéis estão atraindo cada vez mais pessoas em ascensão social que não querem arcar com as responsabilidades de uma casa própria. Além do apartamento, são oferecidos serviços de acesso a bibliotecas, academias e serviços de jardinagem.
O time-share é o acesso a uma propriedade durante um período determinado a cada ano. Ele é freqüentemente usado por pessoas que gostam de tirar férias e não querem empregar dinheiro em uma segunda casa. Com ele, as pessoas têm acesso a resorts, estações de esqui, entre outros serviços.
8- A Nova Cultura do Capitalismo
Na nova era do capitalismo, o acesso tem maior valor que os bens materiais, pois a comunicação é mais valorizada atualmente. Porém, quando este é transformado em commodity, transformar-se também a cultura em commodity, que é a comunicação entre as comunidades.
Após usar a cultura, utilizaram as artes, que são meios sofisticados da expressão humana, desejos e significados sociais para fazer propagandas. E com a saturação do consumo, irão fabricar experiência de vida que será a próxima fase do sistema capitalista.
A industria cultural ou capitalismo de experiência já é antiga no setor de turismo cook que foi o primeiro a fazer "pacotes" de experiência profissional, ou seja, vendida além da viagem, tudo o que o cliente iria precisar.
Atualmente, os "megashoppings" e os centros temáticos de diversão são responsáveis por grandes partes da cultura comercial. Os espaços públicos, que antes eram os espaços culturais do povo, foram absorvidos pelos shoppings. Estes lugares são meios da comunicação sofisticados, trazendo a cultura do mundo para um espaço fechado. Neles podemos ter tudo: creches, lazer, escolas, comércio, etc. Sua atividade primária é o entretenimento e as experiências vividas. Porém, são privados e com várias restrições e exclusões.
A economia está sendo transformada em um teatro. O que no capitalismo era caracterizado pela produção, hoje é por performance e por experiência de vidas.
9- Garimpando a Paisagem Cultural
O ciberespaço tem a capacidade de transformar o mundo físico em realidade virtual, onde as comunicações virtuais são tão abrangentes que se tornam mais relevantes que a comunicação face a face. Conterá produções culturais de todos os tipos: experiências humanas do passado, presente e futuro em um único texto. A realidade será uma commodity manufaturada e medida.
Os profissionais de marketing descobriram que os consumidores não compram produtos, mas símbolos. Atualmente, estão investindo fortemente em propaganda e principalmente em campanhas sociais para influenciarem nos nossos valores e culturas pois embutem em nossas compras um significado cultural. O consumidor passa a ser uma commodity do marketing.
Porém quem controla os canais do ciberespaço terá vasto controle sobre a vida das pessoas, controlando quem terá acesso (inclusos) e quem não terá acesso (exclusos), sendo denominados de porteiros.
Com a explosão do marketing, os intermediários culturais (artistas, intelectuais e publicitários) foram trazidos do anonimato para o comércio, pois conseguem analisar as pessoas e descobrir qual será a nova tendência para o produto. Porém, na era do acesso, esta influência tão forte não será só nacional, e sim mundial, podendo alguns países até perder suas culturas e línguas.
10- Uma Fase Pós-Moderna
A modernidade foi caracterizada por uma crença ideológica, com uma visão mecanicista, regular, previsível e divisível do universo, onde a hierarquia seria tocada por sujeito experiente e objeto passivo.
Já o pós-modernismo vê o homem como um participante, manipulador e influenciador de um espaço onde nada é estático. No pós-modernismo, a matéria é formada de energia e não é divisível. Atualmente milhões de pessoas gastam a maior parte de sua vida vendo televisão e buscando o lazer.
Antigamente, a burguesia vivia mais fechada em suas propriedades, com uma vida tranqüila e organizada. Porém, com o passar do tempo, começou a preocupar-se mais com o íntimo e a autoconfiança. Os especialistas de marketing, percebendo isso, passaram a valorizar mais o consumo que o produto.
As pessoas passam a buscar cultura e experiência de vida, tornando-se mais flexíveis para ajustar-se às mudanças. A tecnologia de comunicação também passou por mudanças. Primeiro foi a impressão, que trouxe a padronização, contratos comerciais, contabilidade e pela primeira vez transformou a comunicação em commodity. Em segundo lugar, foi a computação, em que a autoria original é ameaçada. As próprias pessoas se confundem, suas personalidades são fluídas e transitórias. Não há mais fronteiras e espaços entre elas.
11- O Conectado e o Desconectado
As grandes empresas globais de mídia estão fazendo "mega fusões" para monopolizar o mercado de comunicação, e assim controlarem quem tem acesso ou não à cultura e às experiências. Um exemplo é a Internet, que era para ser pública, aos poucos vem se tornando dominada.
Esta mídia global destrói as fronteiras políticas, destruindo as nações e diminuindo muito o poder do estado. Até a cobrança de impostos é dificultada com esta situação. A desculpa utilizada é que isso facilita a inovação, porém os cidadãos transformam-se em marionetes dessas empresas.
Outro problema é que a maioria das pessoas do mundo não tem acesso a esse novo mundo. São pessoas sem emprego, sem moradia, que vivem sem condições de segurança e higiene. Sem condições de viver. Estas pessoas estarão cada vez mais excluídas na era do acesso. Metade das pessoas nunca fizeram uma simples ligação telefônica.
Embora o ciberespaço tenha como finalidade inicial voltar-se para a cultura, atualmente está direcionando-se para as propagandas que lhe rendem mais. O mesmo fenômeno ocorre com o rádio e a TV a cabo.
12- Resumo de uma Ecologia da Cultura e do Capitalismo
Antes, as relações de posse de propriedades privadas nos garantiam a liberdade, nos davam o direito de excluir o acesso dos outros aos nossos bens. Agora, na era do acesso, a inclusão e o acesso garantem a nossa liberdade e o direto de não ser excluído.
Para assegurar o acesso a uma economia ciber espacial global, é preciso reconstruir as culturas locais diversificadas. Os países com economia forte, possuem um terceiro setor poderoso, que é responsável por preservar a história e a cultura das pessoas. Contudo esta responsabilidade está sendo passada do governo para o terceiro e quarto setor.
A transformação da cultura em commodity irá matar a própria cultura, uma vez que é nesta onde nascem as relações pessoais que inspiram confiança e longevidade. A cultura estabelecida por contratos comerciais não possui sentimentos, não causam experiência emocional. A semente para a sua destruição está sendo semeada com a extinção das relações pessoais, acabando com a criação da cultura, como ocorreu com a música. Pois, após ser comercializada perdeu parte do seu significado cultural e sentimental.
Contudo, nos Estados Unidos, os jovens são preparados desde cedo para o mundo cibernético, obtendo experiências pelo mundo virtual. Há grandes discussões sobre isso, pois não podemos abandonar o conhecimento do espaço geográfico e sim conciliar os dois conhecimentos agravando o problema da perda de cultura. Outro agravante é que a pessoas também estão mudando seus hábitos. No capitalismo industrial voltavam-se para o trabalho. Já no capitalismo cultural as pessoas irão voltar-se para o lazer. Mas a idéia central do lazer poderá ser desconfigurada, uma vez que este é voltado para a liberdade que será restrita na era do acesso.
Quem é Peter Drucker?
Peter F. Drucker é escritor, professor e consultor. Ele é o chairman honorário da Drucker Fundation e é professor de ciências sociais na Universidade de Claremont, Califórnia.
Ele é colunista do The Wall Street Journal e freqüente contribuidor do Harvard Business Review. Em 1997, ele foi capa da revista Forbes, com o título "Still the Youngest Mind".
Muitos o consideram como um visionário, especialmente na área de administração ligada a tecnologia de informação e sociedade do conhecimento.
Quem é Jeremy Rifkin?
Jeremy Rifkin escreveu vários livros sobre o impacto da tecnologia sobre os meios de se fazer economia. Formado em economia e relações exteriores, ele é consultor econômico do governo dos Estados Unidos.
Ele é considerado uma das 150 pessoas mais influentes na política econômica dos Estados Unidos, de acordo com o The National Journal.
Bibliografia
Aqui estão alguns links e referência bibliográfica:, em negrito estão os textos mais importantes.
- The Author of Modernity, entrevista com Peter F. Drucker, Atlantic Monthly, Janeiro de 1999
- The Age of Social Transformation, Peter F. Drucker, Atlantic Monthly, Novembro de 1994
- Beyond the Information Revolution, Peter F. Drucker, Atlantic Monthly, Outubro de 1999
- Post-Capitalist Society, Peter F. Drucker.
- The next society, The economist, 15 de setembro de 2001. (o jornal valor econômico o traduziu em 6 de novembro, no caderno the economist, tradução aqui).
- Claiming our Primary Role in our Society and Global Economy ( An Interview with Jeremy Rifkin em 15.06.2001 )
· The Future of Capitalism (A conversation with Jeremy Rifkin, president of the Foundation on Economic Trends in Washington D.C., author of books like "The End of Work" and "The Biotech century", about his book "The Age of Access")
- The Age of Access, Jeremy Rifkin - dá uma olhada em
- The End of Work, Jeremy Rifkin - dá uma olhada em
- O fim dos empregos, resumo em português de ex alunos de mac 339
Edgar Macari Junior*
Universidade Federal de Santa Catarina - Centro de Ciências Jurídicas – CCJ Informática Jurídica – 2006.1
Nome: Edgar Macari Junior
Livro: “A Era do Acesso”, Jeremy Rifkin
Professor: Aires José Rover
1. Capítulo 1
1.1. Entrando na Era do Acesso Durante a Idade Moderna os conceitos de mercados e propriedade andavam intimamente relacionados. A palavra mercado (market) surgiu durante o século XII para designar o espaço em que vendedores trocavam bens e gado. Alguns século depois, a palavra mercado passou a ser usada para referir-se ao processo de vender coisas. Desde que nascemos somos condicionados a pensar que estamos nessa vida para obter e acumular bens materiais, e que somos o que temos.
Nos tempos atuais, as redes estão tomando o lugar dos mercados e ,cada vez mais, pagamos por ter acesso e não por algo concreto, uma propriedade. O conceito de propriedade está sendo fortemente abalado, o que não significa que a propriedade irá desaparecer nessa Nova Era. O mercado que estava acostumado a ter vendedores e compradores, agora está se habituando a ter fornecedores e usuários. Na Era do Acesso, os conceitos de “ter”, “guardar” e “acumular” estão ficando obsoletos, pois a velocidade das inovações tecnológicas e a elevado ritmo das atividades econômicas tornam a idéia de propriedade bastante problemática.
Empresas de mídia transnacional, acompanhadas pelas redes de comunicação, que se espalham pelo planeta estão ameaçando elementos culturais locais sobrepondo-os como commodities culturais e entretenimentos. Mais do que nunca a população gasta tanto no acesso de experiências culturais quanto na aquisição de bens materiais.
1.2. Entre Dois Mundos A produção de bens materiais está cedendo lugar à produção cultural. Empresas de mídia transnacional estão tomando o lugar de grandes empresas da Era Industrial e usando a nova revolução digital nas comunicações para interligar o mundo e transformar cultura em commodity. Nessa nova era, onde informações são muito valiosas, a produção cultural será cada vez mais uma forma dominante de atividade econômica. O acesso a recursos e experiências culturais tornam-se tão importantes quanto manter as posses.
Cada vez mais os trabalhos manuais, tarefas repetitivas serão substituídas por máquinas. Os trabalhadores com remuneração mais baixa provavelmente serão tão baratos quanto a tecnologia que os substituirá. A transição do capitalismo industrial para o cultural está pondo em xeque muitas das suposições básicas sobre o que compõe a sociedade humana. O tempo e a atenção se tornaram o bem mais valioso para uma empresa e a própria vida dos indivíduos tornou-se o melhor mercado.
1.3. O Conflito Entre a Cultura e o Comércio A questões de poder institucional e liberdade vieram a se tornar mais importantes do que nunca, uma vez que o acesso a cultura é cada vez mais transformado em commodity controlado por corporações globais. Desde o início dos tempos até a Era do Acesso, a cultura sempre precedeu os mercados. Definir um equilíbrio entre a esfera cultural e a esfera comercial seja um dos maiores desafios da próxima Era do Acesso.
1.4. Mutáveis Proletários Toda essa revolução causada pela Era do Acesso não poderia deixar de causar grandes mudanças no comportamento das novas gerações. Um geração para a qual o acesso já é uma forma de vida, onde estar conectado é mais importante do que a propriedade. Alguns psicólogos e sociólogos que estudam essa nova geração que está crescendo na frente dos computadores, em ambientes simulados, como salas de bate-papo, acham que pode fazer falta a esses jovens experiências sociais mais profundas, fora dos ambientes simulados onde a vida seria um pouco mais do que um entretenimento.
Outros, mais otimistas, acham que esse desenvolvimento gerará uma consciência humana mais brincalhona e flexível. As crianças que estão crescendo em meio a rede estão deixando de lado a idéia de o que é meu e seu, para assumirem comportamentos mais cooperativos do que competitivos. Mas essa é uma parcela muito pequena da população mundial. Enquanto 1/5 da população migra para o ciberespaço, o resto da humanidade ainda tem que lutar pra sobreviver, lutar contra a escassez física.
O abismo existente entre pobre e ricos é gigante, mas o abismo que existe entre conectados e desconectados é ainda maior. A noção de acesso e de redes está redefinindo toda a sociedade. Até pouco tempo a palavra acesso denotava apenas o ingresso a espaços físicos, mas agora acessar significa uma abertura para novos mundos e de possibilidades infinitas.
2. Capítulo 2
2.1. Quando os Mercados Dão Lugar às Redes Os avanços tecnológicos e o advento do acesso tornaram possível uma nova forma de conduzir os negócios, a “abordagem em rede”, à vida econômica. Uma das maiores mudanças foi a mudança do comércio primário do espaço geográfico para o ciberespaço. Enquanto na economia baseada no espaço geográfico os vendedores e compradores trocam bens e serviços, onde a meta é transferir a propriedade, no ciberespaço, servidores e clientes (fornecedores e usuários) trocam informações., onde a meta é fornecer acesso.
O plano de interligar computadores em uma rede veio de uma necessidade estratégica militar, a princípio chamada de ARPANET. A internet é a rede das redes, suas mensagens podem ser enviadas de diversas maneiras: cabos telefônicos, satélites, cabos de fibra óptica. Para uma sociedade acostumada com o conceito de propriedade é difícil compreender a internet: não é uma coisa, nem uma entidade, também não é dirigida por ninguém e ninguém a possui, são apenas computadores interligados. Cada vez mais o número de computadores online aumenta, seja para uso doméstico ou para uso corporativo.
2.2. A Economia Conectada O acesso é algo fundamental para as empresas de hoje, estar conectado significa romper a fronteira das paredes. A economia no ciberespaço une as empresas em redes de relações reciprocamente independentes onde compartilham experiências, recursos físicos e, sobretudo, informação. Reunindo suas forças, cada empresa conseguirá otimizar seus próprios objetivos. Os ciclos de vida dos produtos estão diminuindo em todas as indústrias, nos mais diversos setores. Essa rapidez com que produtos entram e saem do mercado tem um problema: a atenção dos consumidores. Com essa infinidade de produtos entrando e saindo do mercado, num ritmo cada vez mais acelerado, é natural que o consumidor fique mais impaciente e que sua atenção diminua.
Ciclos de vida dos produtos mais curtos e custos mais altos, leva as empresas a compartilharem informações estratégicas afim de se manterem sempre a frente e se garantirem contra perdas em uma economia com um ritmo cada vez mais acelerado. Devido a toda essa velocidade, a idéia de propriedade fica totalmente sem sentido. Por que assumir a propriedade de uma tecnologia que em um curto espaço de tempo estará totalmente ultrapassada antes mesma de ser paga? Nessa nova economia, o acesso de curto prazo torna-se cada vez mais atrativo do que a propriedade de longo prazo.
2.3. O Modelo Organizacional de Hollywood As produtoras de filmes de Hollywood, chamadas de “indústrias da cultura” por Rifkin, estão se tornando modelos para a reorganização do capitalismo, assim como as linhas de rede. Essas enfrentam grandes desafios, com mercadorias (filmes) de ciclo de vida delimitado. Cada filme precisa rapidamente encontrar audiência para cobrir os gastos de produção.
Toda produção cinematográfica é composta por uma equipe de diversas produtoras, cada uma com sua própria experiência. Juntas constituem um empreendimento de vida curta, que será a duração do projeto. Empresas se unindo, compartilhando informações, trabalhando num mesmo projeto, a mesma idéia que foi discutida anteriormente. Profissionais independentes minimizam seus riscos ao se envolver em uma série de projetos concomitantemente. Não é raro ver uma empresa de efeitos especiais, por exemplo, trabalhar em diversas redes temporárias ao mesmo tempo.
O modelo organizacional de Hollywood está sendo adotado por diversas indústrias de ponta. Por exemplo a indústria de software, que pode ser comparada a um teatro: os diretores, atores, músicos, escritores técnicos e produtores reúnem-se por pouco tempo para criar uma nova produção. Na Era do Acesso, as relações entre usuários e fornecedores aproximam-se cada vez mais às relações que as indústrias de cultura têm construído com o público no decorrer do tempo. Cada vez mais o modelo organizacional dos estúdios de Hollywood será procurado como um modelo de organização da atividade comercial.
3. Capítulo 3
3.1. A Economia Sem Peso A Era Industrial foi caracterizada pelo acúmulo de capital e de propriedade, os novos tempos valorizam a agregação de valores a produtos e, acima de tudo, a informação. Portanto, não faz mais sentido medir as importações e exportações de um país em peso. O importante hoje não é o peso do produto, e sim o seu valor agregado. Um notebook que hoje pesa no máximo 3 kilos tem um desempenho incrivelmente superior a um IBM de 25 anos atrás, e que pesava 10 kilos. Um simples chip, pequeno e leve, encontrado até mesmo em cartões de aniversário, tem muito mais potência, em termos de computação, do que existia em todo mundo em 1945.
3.2. A Retração Imobiliária Assim como os produtos, os escritórios das empresas também estão diminuindo nessa nova era. Os escritórios têm cada vez menos paredes e divisões, pois em tempos onde a informação é primordial para uma empresa, é importante que seus funcionários tenham contato, troquem informações. Toda essa mudança faz com que melhores decisões sejam tomadas, e em menos tempo. Outro fator que contribui para o encolhimento do espaço corporativo é o uso cada vez menor de papel. Cada vez mais tudo é armazenado em computadores. O escritório sem papel ainda não existe. Hoje em dia cerca de 50% de todos os dados são armazenados eletronicamente, o que significa 50% menos papéis e 50% menos arquivos de papéis ocupando espaço nos escritórios.
3.3. Estoque Just in Time Sempre foi muito comum empresas terem grandes depósitos para armazenar estoques. Agora, na era da informação, leitoras de código eletrônicas nos pontos de venda coletam informações e solicitam novos pedidos aos fornecedores, que logo fabricam o produto em apenas algumas horas ou dias e os entregam diretamente aos varejistas. Com esse mecanismo, não é necessário ter depósitos.
O comércio eletrônico, que tem crescido exponencialmente, contribui enormemente para esse processo de erradicação dos depósitos. Essas lojas virtuais possuem custos bem reduzidos, visto que seus gastos com instalações são muito menores que uma loja normal, e possuem pouco ou nenhum estoque. Um exemplo de custos extremamente reduzidos são as lojas online de música digital, pois não há custo e nem necessidade para um estoque, é tudo informação.
3.4. A Desmaterialização do Dinheiro Juntamente com o avanço da Era do Acesso, o dinheiro, em sua forma material, também está sumindo. Cada vez mais transações financeiras e pagamentos cotidianos na vida das pessoas são feitos de forma eletrônica. O dinheiro agora não tem peso, cor, tamanho, é apenas uma imagem. Povos antigos costumavam usar objetos, animais e alimentos como dinheiro em suas trocas. Agora o dinheiro nada mais é do que bits, informação.
3.5. Chega de Poupança Concomitantemente com a desmaterialização do dinheiro ocorreram o declínio da poupança e o aumento da dívida pessoal. Com o aumento da produção de bens e serviços no século XX, algumas mudanças comerciais tiveram que ser feitas para estimular o consumo, assim se intensificou o crédito pessoal. Com essa facilidade de comprar a crédito, a população norte americana começou a poupar muito menos do que no início do século e a gastar muito mais.
Assim, a propriedade como economia pessoal se tornou algo fora de contexto em uma economia altamente dinâmica, onde acumular não é a prioridade. O cartão de crédito foi uma revolução no mundo do crédito proporcionada por avanços tecnológicos. Isso permitiu ao povo acelerar suas compras, em um mundo onde os ciclos de vida dos produtos são cada vez menores, enquanto pagam juros altíssimos.
3.6. A Existência Emprestada Na economia da Era do Acesso, acumular não é uma ação muito valorizada. Diversas empresas estão se desfazendo de seu capital físico (ferramentas, equipamentos, máquinas e fábricas) para emprestar os mesmos na forma de leasing. Como dizem muitos economistas atuais sobre o capital: “Use-o, não o possua”.
O leasing existe desde o início do comércio humano, mas passou a desempenhar papel significativo depois da Segunda Guerra Mundial. Fabricantes como IBM, Singer, Burroughs, NCR e Olivetti começaram a apresentar programas de leasing a seus clientes. No mundo corporativo esse processo é muito conveniente pois o arrendador é, geralmente, responsável pela manutenção e conservação dos equipamentos e às vezes das instalações também. Uma prática que surgiu devido ao leasing é a venda leaseback. Empresas estão vendendo suas próprias instalações, e alugando-as de volta de empresas confiáveis do setor imobiliário.
3.7. Terceirizando a Propriedade “Quando estiver na dúvida, livre-se dele.”. Esse é um pensamento que tem aparecido com grande freqüência no mundo empresarial em relação a ativos que não são especificamente relacionados com o foco principal da empresa. Terceirização pode ser definida como a transferência de operações internas de uma empresa a terceiros. A antiga idéia de empreendimentos autônomos está cedendo lugar para o conceito de parceiros múltiplos.
A terceirização permite a empresa se concentrar em ganhar dinheiro em seu foco principal de atuação, não desviando sua atenção para ações como treinamento de funcionários, manutenção de informática e muitas outras, que agora estão sendo todas terceirizadas. Tal ação tornou-se uma ferramenta administrativa vantajosa para enfraquecer o poder da mão-de-obra organizada, contratando serviços de oficinas não sindicalizadas, por exemplo.
Grande parte do declínio do movimento sindical no mundo todo nos últimos anos é atribuída diretamente ao processo de terceirização. A terceirização começou a migrar para o ciberespaço. Empresas começam a terceirizar o seu setor de comércio eletrônico, por exemplo.
3.8. Ativos Intangíveis Com a intensificação das práticas de leasing de capital tangível e da terceirização, as empresas estão mais leves. Se possuem menos patrimônio físico, então o que é negociado nas bolsas de valores, e muitas vezes a valores mais altos do que empresas com um patrimônio físico muito maior? Apesar de não possuir muitos ativos fixos em seus nomes, tais empresas atraem investidores através de sua idéias, ações, talento e experiência dos funcionários que compõem a empresa. Em uma economia de rede, esses valores muitas vezes são mais importantes que a fabrica e o material, apesar de serem difíceis de quantificar. Indústrias baseadas na informação já formam 25% da economia norte-americana.. Boa parte de seu valor está empatado em ativos intangíveis, portanto não é apresentado com exatidão em sua contabilidade.
3.9. A Superioridade da Mente Sobre a Matéria Estamos na era da superioridade da mente sobre a matéria. Produtos mais leves, com ciclos de vida menores, miniaturização, redução dos imóveis, estoques just-in-time, leasing e a terceirização são evidências da desvalorização do mundo material. O que importa hoje é a informação, as idéias. Se na Era Industrial o que importava era ser grande, onipresente e a idéia de “quanto maior, melhor” imperava, hoje, na Era do Acesso, o que interessa é manipular a mente. A motivação da nova indústria é expandir a presença mental das pessoas, controlar e vender idéias. Controlar idéias do mundo de hoje é mais poderoso do que controlar capital físico ou espaço. A prova disso é a disposição da comunidade financeira de investir bilhões de dólares no capital intelectual puro.
4. Capítulo 4
4.1. Monopolizando Idéias O capitalismo está se reinventando. Nesse processo novas formas de poder institucional estão se desenvolvendo, se tornando melhores e mais perigosas que as formas até então conhecidas. Como já foi dito, cada vez mais tudo são idéias. Idéias na forma de patentes, direitos autorais, marcas registradas, segredos comerciais e relacionamentos estão sendo utilizadas para construir um novo poder econômico composto de mega fornecedores no controle de amplas redes de usuários. Ser capaz de manipular as idéias de comércio ao invés de simplesmente as ferramentas dá aos fornecedores corporativos globais uma vantagem nunca antes vista na história da economia. As franquias são um bom exemplo dessa nova economia. As franquias usam a propriedade intelectual como fórmulas de negócios para ter controle sobre grandes redes de varejo. A informação mais uma vez mostrando seu papel vital na nova dinâmica econômica.
4.2. Acesso ao Franchising A idéia de produto franqueado vem de muito antes da Era do Acesso, mas esse novo conceito, ditado pela nova era, é mais compatível com os tempos atuais do que com uma era mais antiga, onde a propriedade era fundamental. Nesse novo negócio no formato de franchising, o que está sendo franqueado não é o produto, assim como era antigamente, mas sim o conceito de negócio. Cada estabelecimento franqueado funciona como um clone do original, o franqueado paga uma taxa de licença à empresa-mãe, outra taxa para poder usar a imagem de marca registrada e ter os equipamentos e treinamento.
Ficam por conta do franqueado as despesas operacionais como luz, aluguel, folha de pagamento, e a empresa-mãe também fica com entre 5 e 12% do faturamento bruto. O franchising é considerado por muitos um tipo de negócio onde todos saem ganhando. O franqueador que não tem despesas com imóveis, funcionários e outros custos operacionais além de ganhar acesso a mercados locais. O franqueado tem acesso a fórmula operacional, o nome da marca e ao padrão de marketing que têm histórico comprovado de sucesso. As franquias mostram que o conceito de que a cada vez mais pagamos pelo acesso do que pela propriedade está presente em nossa sociedade. O franqueado paga por ter acesso ao modelo de negócio, para poder usar o nome e a imagem de uma marca. Franqueadores e franqueados acabam funcionando como fornecedores e usuários.
4.3. Alugando DNA Semelhante revolução que ocorre nos mercados vendedor-comprador para redes fornecedor-usuário também está se passando na indústria de engenharia genética. Genes estão sendo usados para criar super colheitas, novos produtos farmacêuticos, novos tipos de materiais e mesmo novas formas de energia. Genes são informação. Quando genes com potencial valor comercial são descobertos, logo são patenteados. Quem quiser usar vai ter que pagar para ter acesso a esses genes. Aos olhos da lei, esses genes viram invenções humanas.
No século XIX quando pesquisadores descobriam novos elementos químicos, eles não puderam patenteá-los, pois há leis em diversos países que proíbem que descobertas da natureza sejam consideradas invenções. Mas em 1987 o Patent and Trademark Office (PTO) emitiu um decreto declarando que genes, cromossomos, células e tecidos são patenteáveis, podem ser tratados como bem intelectual do primeiro que isolar suas propriedades, descrever suas funções e encontrar aplicações úteis para eles no mercado. Ao patentear e restringir o uso de certos genes, empresas do setor de biotecnologia podem afetar seriamente os serviços de assistência médica e mesmo ameaçar a viabilidade do sistema de saúde em si.
5. Capítulo 5
5.1. Tudo São Serviços Cada vez mais pagamos por serviços. Agora até mesmo os carros viraram um serviço. Atualmente um terço dos carros guiados pelas ruas são de propriedade de fabricantes ou revendedores de carros, que os alugam para seus clientes. Existem diversas explicações para esse processo se aplicar também aos automóveis, mas o principal deles é o custo. O preço dos automóveis tem subido e muitos clientes em potencial não podem arcar com esses gastos.
Os principais clientes desse serviços são pessoas de alta rende que não querem dispor de grande parte de seus fundos para ter um carro. E também há o fator de que vivemos em uma era em que os ciclos de vida dos produtos têm um ciclo de vida cada vez mais curto, o leasing de carros é a forma mais prática e barata de sempre se manter atualizado. Essa mudança de como vemos o automóvel, antes um bem que comprávamos e que, agora, começa a ser tratado como um serviço, faz parte dessa vasta reestruturação do sistema capitalista que estamos vivendo. Cada vez mais pagamos por ter acesso, e não pela propriedade.
5.2. Ascensão e Queda da Posse de Bens Materiais Diariamente nos deparamos com as palavras “meu” e “seu”. Essas palavras nos permitem fazer distinções e estabelecer relações uns com os outros em num conceito social. Enquanto as relações humanas estiverem presas na localização geográfica, deverá existir uma forma de regime de propriedade. O conceito de propriedade é muito evasivo. Por um lado parece muito fácil de se definir propriedade, até o mais simples dos seres compreende o que significa quando se depara com ele, por outro lado, poucos conceitos se mostraram mais difíceis de se definir até hoje.
A idéia de propriedade foi redefinida diversas vezes ao longo da história. Na Idade Média, a Igreja é que decidia, à força, os termos pelos quais os bens terrenos de Deus deveriam ser usados, divididos e administrados. Já na Revolução Gloriosa, no século XVII, John Locke dizia que a propriedade privada era um direito natural e não algo que a Igreja ou o Estado outorgava como privilégio. Enquanto Locke se preocupava sobre a maneira como os seres humanos criavam a propriedade, Adam Smith interessava-se mais por como a propriedade passava a ser trocada no mercado. Smith dizia que uma mão invisível controlava o mercado, assim deixando a economia praticamente livre de interferência do governo, nunca deixando de lado o fator tempo. Durante a primeira fase do capitalismo industrial, os bens que antes eram feitos em casa gradualmente passaram a ser produzidos em fábricas. Pela primeira vez, trabalhadores começaram a usar seus novos salários ganhos nas fábricas para comprar. A produção em massa de bens materiais dominou a economia capitalista nos Estados Unidos do final do século XIX até meados do século XX.
5.3. O Nascimento da Economia de Serviços Nesse período entre o final do século XIX e metade do século XX a prestação de serviços à população começou a inundar a economia. As mulheres começaram a entrar no mercado de trabalho, então as atividades que elas realizavam normalmente em casa como cuidar dos filhos, preparação de refeições, cuidados com a saúde, cortes de cabelo e outras, foram transferidas para o mercado, sendo pagas como serviço. Anos mais tarde, no início dos anos 70, o setor de serviços já empregava mais da metade dos trabalhadores, hoje em dia 77% dos trabalhadores trabalham no setor. Essa mudança torna a propriedade algo cada vez mais obsoleto, tanto nos negócios quanto na vida pessoal.
5.4. A Evolução de Bens para Serviços Nessa nova era de serviços, em vez de pensar os produtos como itens fixos com especificações determinadas e um valor de vendas em um determinado momento, as empresas agora pensam em si como plataformas para melhorias e serviços de valor agregado. A plataforma nada mais é do que o recipiente no qual esses serviços são adicionados. Um bom exemplo é a Encyclopaedia Britannica. No início dos anos 90 a Encyclopaedia Britannica recusou uma proposta da Microsoft para criar uma versão digital, que seria muito mais barata que a versão impressa, e bem menor do que os 32 volumes de capa dura.
Então a Microsoft criou uma enciclopédia digital chamada Encarta, que logo se tornou a mais vendida no mundo, então, a britannica foi forçada a reagir e criar a sua versão digital. A princípio os usuários pagavam 85 dólares por um ano de acesso ao conteúdo online, hoje ela é totalmente gratuita. A Encyclopaedia Britannica se desmaterializou literalmente, transformando-se em serviço puro. Este fato tem gerado grandes discussões sobre publicações online de livros e coleções.
Enquanto o fim do impresso tem sido previsto há muito tempo, para essa nova geração, que cresceu na frente de computadores e preferem muito mais acessar informações na frente de um monitor do que vê-las impressas, isso já é uma realidade. Em muitos casos, a transformação da venda de bens para o fornecimento de acesso a serviços está sendo positiva para o planeta. Essa mudança está resultando em economia de recursos, redução da emissão de poluentes e de detritos e,conseqüentemente, menor prejuízo ambiental.
5.5. O Fim das Vendas Como uma empresa sobrevive em um mercado cada vez mais lotado de concorrentes e onde a qualidade de seus bens é praticamente indistinguível de seus concorrentes? Um número cada vez maior de empresas diz que a solução é sair das vendas. Hoje em dia, chega à porta de um cliente significa abandonar a idéia de vender algo, por mais estranho que isso pareça. Ao invés de vender algo, o vendedor empresta seu know-how e experiência para ajudar a dirigir o negócio do cliente, assim o cliente torna-se cliente e parceiro.
5.6. Os Novos Provedores de Serviços Muitas das maiores empresas de tecnologia da informação, que até pouco tempo lucravam muito com a venda de software e hardware, começaram a transição para se tornarem provedoras de serviços. Em um mercado extremamente competitivo, e com controles de qualidade indiferenciáveis, a única formar de lucrar é oferecer experiência aos clientes na forma de serviços.
5.7. Desfazendo-se dos Bens e Cobrando pelos Serviços O produto material em si está sendo cada vez menos o centro das atenções nessa economia onde cada vez mais tudo é serviço. Ao invés de vender seus produtos, empresas estão doando-os e cobrando pela administração, atualização e outros serviços. Um bom exemplo disso são companhias de telefonia celular que muitas vezes distribuem aparelhos celulares, como um incentivo para atrair novos assinantes. O capitalismo está sofrendo fortes alterações em sua estrutura básica. O capitalismo está sendo transformado de um sistema com base na troca de bens, em um sistema com base no acesso a segmentos de experiência.
6. Capítulo 6
6.1. Transformando as Relações Humanas em Commodities A Era do Acesso é definida, antes de mais nada, pela crescente transformação da experiência humana em commodity. Na economia do ciberespaço, essa transformação fica em segundo plano e dá lugar à transformação das relações humanas. Manter a atenção de clientes e vendedores na nova e dinâmica economia de rede significa controlar o máximo de tempo possível.
6.2. O Cliente é o Mercado Como objetivo das empresas hoje, nessa economia em que serviços são o foco principal, o que interessa não é vender um produto por vez ao máximo de clientes possível, e sim estabelecer um laço de longo prazo com o cliente. O que é realmente objetivado é o potencial de toda a experiência de vida de uma pessoa se transformar em commodity.
Especialistas em marketing dizem que todo cliente possui um LTV, lifetime value (valor ao longo da vida). Para calcular o LTV de um cliente, uma empresa apura o valor de todas as compras futuras e dos serviços associados buscando assegurar e manter um relacionamento para a vida toda. Por exemplo em uma concessionária de carros: um cliente novo na porta da concessionária significa um potencial para a vida toda, futuramente esse carro precisará de serviços e também esse mesmo cliente irá trocar de carro mais algumas vezes em sua vida.
Na economia industrial, a própria força de trabalho de cada pessoa era considerada uma forma de propriedade, podendo então ser vendida no mercado. Na economia de rede vender acesso aos padrões e às experiências de vida diários de alguém torna-se um ativo intangível igualmente cobiçado e muito procurado
6.3. A Mudança de uma Perspectiva de Produção para uma Perspectiva de Marketing A mudança no foco da manufatura e venda de produtos para a implementação e manutenção de relações de longo prazo com os clientes faz com que o marketing assuma papel muito importante na vida comercial. Controlar o cliente, passa a ser a meta da atividade comercial. Esse controle consiste em ser capaz de captar e dirigir a atenção do cliente e gerenciar os mínimos detalhes das experiências de vida de cada um deles.
A mudança tecnológica no processo de produção nos anos 80 e 90 garantiu a influência máxima da perspectiva de marketing, transformando a produção em uma função no processo de marketing. Entra em cena a produção flexível. Em uma economia com tantos fornecedores e tão pouca coisa para distingui-los, um grande diferencial é a produção flexível, ou seja, customizável a cada cliente. Customizar produtos a cada cliente pode ser considerado mais como uma contratação de serviços.
6.4. Novos Tipos de Comunidades Há uma idéia, crescendo cada vez mais, entre os especialistas de marketing que é a criação de comunidade com interesses em comum, as comunidades de interesse. A intenção de criar essas comunidades é juntar pessoas com idéias similares que podem se juntar por terem interesses em comum em uma dada atividade, iniciativa ou atividade comercial. Essa é a maneira mais efetiva de captar e manter a atenção do cliente e de criar relacionamentos para toda a vida.
7. Capítulo 7
7.1. O Acesso Como um Modo de Vida O capitalismo está passando por mudanças nunca antes vistas, todos os alicerces econômicos conhecidos parecem estar ruindo um a um. Outras estruturas surgem no lugar das que se vão. Tudo cada vez mais é acesso. Mas essa transição da posse para o acesso não é imediata, é um processo gradativo, às vezes tão sutil que passa despercebida.
7.2. Comunidades Fechadas Apareceram por todo território norte-americano comunidades residenciais chamadas “urbanizações de interesses comuns”, os condomínios. Muros, cercas, sistemas de segurança garantem que o acesso seja restrito. Na porta um vigia dentro de uma guarita, que apenas permite entrar os moradores, seus convidados, visitantes e fornecedores autorizados. Esses espaços fechados são lugares para se viver totalmente transformados em commodity. As comunidades fechadas vendem uma forma de vida, uma experiência, em vez de apenas vender um imóvel.
Essas comunidades são consideradas como governos privados ou quase-governos. Governos têm leis que representam a vontade da maioria. Nas comunidades não é bem assim. Se vários adultos moram na mesma unidade, marido, mulher, avós; apenas um ponto de vista pode ser expresso. Ainda há a questão dos inquilinos, que representam um grande número, mas não podem votar nas decisões da comunidade, apenas os proprietários podem fazê-lo. O crescimento exponencial das urbanizações de interesses comuns mostra claramente a mudança no modo de pensar que priorizou os valores comerciais e afastou os valores cívicos da vida humana.
7.3. Alugando um Estilo de Vida O mercado de aluguéis de apartamentos sempre foi dominado predominantemente por famílias de baixa renda, pessoas solteiras e jovens casais que ainda não tinham meios para adquirir uma casa. O perfil dos inquilinos está mudando. Os novos inquilinos são representantes de uma nova geração em ascensão social que valorizam mais o acesso a curto prazo aos serviços, comodidades e experiências, e não querem arcar com as responsabilidades acarretadas pela posse de uma casa própria. Por mais que possuir um imóvel possa parece atraente, a tendência é que os aluguéis dominem o mercado imobiliário, assim transformando o imóvel em uma experiência a ser acessada.
7.4. Comunidades de Tempo Compartilhado Outro conceito que está entrando em cena no mercado imobiliário é o time-share (direito de uso de um imóvel por um certo período). Time-share consiste em uma forma de subdividir a utilização de um condomínio. No preço de acesso ao imóvel estão inclusos despesas como taxas de manutenção e conservação das áreas comuns.
No começo, o mercado de time-shares tinha a desvantagem de que os clientes não podiam passar o período de estada pago em outros locais. Vendo a demanda por esse tipo de serviço, por parte de jovens profissionais principalmente, grandes empresas do setor começaram a estabelecer um negócio de troca de time-shares no mundo todo. Agora, muitas redes permitem que seus usuários troquem time-shares com outros portadores em diferentes partes do mundo.
Time-shares se mostram como formas de um comércio em função do tempo, compra-se o acesso a um imóvel, podendo-se até mesmo trocar com outros donos de time-shares .Mais uma vez pode-se observar a transição do mercado vendedor-comprador para fornecedor-usuário.
7.5. Imóveis de Verdade versus Imóveis Temporários Estar inserido em redes temporais pode mesmo substituir idéia de estar fixo em algum lugar? Em uma sociedade que valoriza a posse, cuidar do que é seu é tão importante quanto cuidar de alguém. Por isso consideramos nossas posses como extensões de nós próprios. Um filósofo alemão chamado Georg Friedrich Hegel dizia que cada um expressa sua noção de personalidade imprimindo-a em suas posses. Hegel também dizia: “A personalidade é aquela que luta para... se tornar realidade, ou, em outras palavras, para reivindicar esse mundo externo como seu próprio mundo.”.
Em uma sociedade onde tudo, cada vez mais, é acessado, o que acontece à responsabilidade e ao compromisso de ter uma propriedade, e com a noção de que ter propriedades significa independência? Quando acessamos experiências e serviços nos tornamos mais dependentes dos outros. Enquanto boa parte da vida das pessoas já está inserida no mundo das relações de acesso, uma parte importante delas ainda resiste e permanece fixa à noção de territorialidade. Um bom exemplo é que as pessoas não pensam tanto na comunidade como “de onde elas vieram”.
Essa noção de origem sempre está acompanhada de uma idéia territorialista. Poucas pessoas sentem um vínculo mais profundo com sua comunidade fechada do que as pessoas sentiam com as comunidades tradicionais. A idéia de origem, de estar ligado com sua terra de origem, pode gerar sentimentos como o xenofobismo. Muitos alegariam que esse desligamento do significado de lugar e partimos para a noção de experiência signifique uma evolução para o ser humano. Outros poderiam dizer que com esse processo estamos nos arriscando a perder nossas raízes e o sentido da ligação profunda entre o terreno físico e biológico ao qual devemos nossa existência e estada no mundo.
8. Capítulo 8
8.1. A Nova Cultura do Capitalismo Após séculos transformando os recursos materiais em bens adquiridos, agora estamos transformando cada vez mais os recursos culturais em experiências pagas. Nessa nova era do capitalismo cultural, o acesso torna-se muito mais relevante e a propriedade perde espaço no cenário comercial. Os objetos inertes podem ser facilmente mensuráveis, e uma vez que podem ser quantificados, estão sujeitos a preços.
Em um mundo onde o acesso é mais importante do que a propriedade, as fronteiras tornam-se indistinguíveis, tudo que é sólido começa a se desfazer. Em uma economia globalizada cada vez mais dominada pelos avanços tecnológicos e por todo tipo de produção de commodity cultural, assegurar o acesso às experiências vividas torna-se tão importante quanto era adquirir propriedade em uma sociedade onde a produção de bens materiais predominava.
8.2. Comunicação e Cultura Técnicos e engenheiros da área tendem a ver as comunicações mais estreitamente como transmissão de mensagens. Já no âmbito antropológico, a comunicação é vista como a geração de significados sociais por meio da transmissão de mensagens. A vida cultural foca sempre questões de acesso e inclusão, visto que é uma experiência compartilhada entre as pessoas. Ou uma pessoa é membro de uma comunidade e cultura, e então se aproveita do acesso a suas redes compartilhadas de significado e suas experiências, ou é excluída.
8.3. A Ascensão da Produção Cultural A introdução do uso disseminado de produtos comprados e o aumento da propagandas de massa serviram para exaltar o ato de consumir. Hoje, para milhões de norte-americanos, os direitos de comprar e adquirir tornam-se bem mais significativos até mesmo que o ato de votar. Mas essa cultura de consumismo não existe há muito tempo. Até o início do século XX, consumir tinha uma conotação negativa, significava desperdiçar.
Em contraposição, a cultura continuou, por um determinado tempo, a ser o refúgio dos críticos que advertiam quanto à presença exagerada dos valores materiais. Eles ansiavam por uma transformação pessoal, em vez de riqueza material. As artes são as formas mais elaboradas da expressão humana, elas comunicam os sentidos mais profundos da cultura. O novo mercado voltado para o consumo impulsionou as artes do nível cultural, onde eram o comunicador primário de valores compartilhados da comunidade para o mercado.
Novos meios artísticos aliados a tecnologias de comunicação deram ao mercado capitalista uma vantagem poderosa sobre os meios culturais tradicionais como a dança, pintura, festivais, teatro, esportes e o envolvimento cívico. É nesse cenário que o capitalismo está fazendo sua passagem final para o capitalismo cultural, apropriando também experiências vividas. A criação da indústria de experiências é o próximo passo da evolução do sistema capitalista. A totalidade de nossa existência está sendo transformada em commodity: os alimentos que comemos, bens que produzimos, serviços que fazemos e as experiências culturais que compartilhamos.
8.4. A Mais Antiga Indústria Cultural Turismo nada mais é do que a transformação da experiência cultural em commodity. O termo turismo surgiu no século XIX para se referir a jovens aristocratas ingleses que costumavam fazer longas viagens pela Europa para enriquecer sua cultura antes de seguir sua carreira. O turismo se transformou em um negócio formal nas mãos de Thomas Cook. Ele começou modestamente, organizando uma excursão barata de trem para centenas de pessoas que iam para um comício em Leicester. Deve-se lembrar que o sucesso de Cook ao elaborar pacotes de experiência cultural não teria ocorrido se não fosse o desenvolvimento na tecnologia de transportes e de comunicações. A ferrovia permitiu a um grande número de pessoas fazer excursões à noite, nos finais de semana e mesmo viagens mais longas.
O telégrafo, e mais tarde o telefone, tornaram possível organizar viagens e assegurar serviços e passagens confiáveis. Cook também foi o primeiro a usar campanhas publicitárias e de marketing e promoções especiais para formar uma clientela. É vital para o turismo convencer comunidades e países anfitriões a financiar modernização da infra-estrutura, como aeroportos, ferrovias, estradas, hotéis, portos, telecomunicações, lojas, instalações de lazer e diversos outros itens. Outra prioridade importante para o turismo é o desenvolvimento sustentável. Proteger vida selvagem, conservar a biodiversidade e estabelecer reservas e parques é tão importante quanto construir infra-estrutura.
8.5. A Cultura dos Shoppings O shopping center gerou uma nova arquitetura para reunir pessoas, concentrada em um universo de comercio em que a cultura existe na forma de experiências transformadas em commodities. Ao se pensar dessa forma, o shopping center tem muito em comum com a moderna indústria de viagens e turismo. Os shoppings estão se tornando lugares onde se pode comprar o acesso a experiências vividas de todo o tipo. Nele pode-se fazer comprar, ir ao cinema, ver um show, fazer um esporte, ir a um restaurante e muito mais. Assim como as urbanizações de interesses comuns e os espaços turísticos, os shoppings fazem parte de um novo ambiente competitivo onde o sucesso é medido por aqueles que detém o acesso à produção cultural.
8.6. Da Aquisição de Cultura ao Entretenimento O cinema, assim como as viagens de Cook, transforma a experiência vivida em commodity de mercado. Por apenas algum dinheiro, as pessoas se transportam para outros lugares e meios, onde podem fantasiar, se divertir, expressar suas emoções e viver seus sonhos e esperanças. Comprar e adquirir o acesso a experiências vividas agradáveis e significativas, principalmente na classe média em todo o mundo, tornou-se um estilo de vida. O aumento exponencial da indústria do entretenimento é testemunho de uma geração em transição do acúmulo de coisas materiais para o acúmulo de experiências e da propriedade para o acesso.
8.7. Todo Negócio É Show Business A fase de manufatura do capitalismo foi caracterizada pela produção, a nova fase, a fase cultural, está sendo caracterizada pela performance. A economia virou um grande teatro. Nessa nova era, o produtivo dá lugar ao criativo, e a empresa se torna menos definida em termos de trabalho e mais em termos de diversão. No mundo todo empresas estão adequando seus ambientes de trabalho para torná-los mais compatíveis com a criatividade, algo fundamental no comércio cultural.
O ambiente de trabalho está sendo continuamente transformado em um ambiente de representação, o que reflete o foco na performance cultural e no marketing de experiências vividas. Muitos gerentes não usam mais o termo trabalhador, e sim ator. As empresas estão introduzindo inovações de entretenimento para criar uma atmosfera tranqüila para seus trabalhadores, que propicie a criatividade. A produção cultural será o principal campo de trabalho neste século. Na Era do Acesso, a vida econômica tem quatro níveis. O primeiro corresponde à produção cultural, o segundo aos serviços e informações, o terceiro à fabricação e o quarto nível à agricultura.
9. Capítulo 9
9.1. Garimpando a Paisagem Cultural Nessa nova era, onde os avanços tecnológicos inundam a sociedade, vive-se, cada vez mais, cercado por ambientes simulados. Telefones, televisão, filmes e rádio devem enganar e iludir nossos sentidos. O ciberespaço está substituindo a realidade pela realidade virtual, ambientes simbólicos que as pessoas vivenciam como se fossem reais, e é o palco onde produções culturais de todos os tipos serão transformadas. E como outros elementos comerciais, será necessário pagar para ganhar acesso. No ciberespaço, a produção cultural se sobrepõe à industrial. Quanto de nossas vidas iremos vivenciar no espaço físico e quanto em um universo simulado? Uma coisa ocorrerá certamente: a maior parte de nossa experiência diária acontecerá em ambientes simulados.
9.2. Marketing Cultural O marketing é o meio pelo qual todos os bens culturais são explorados para se encontrar significados culturais valiosos que podem ser transformados, através da arte, em experiências e que são transformadas em commodities. Na nova era da economia ligada em redes, o foco do marketing deixa de ser a venda do produto mas sim a venda da experiência. Quando compramos algum objeto, seja ele um carro, uma roupa, um equipamento eletrônico, estamos comprando também o rótulo, ou seja, o estilos de vida e experiências imaginados. Comprar um rótulo nos coloca num mundo de faz de conta dos valores.
Vender o produto torna-se secundário à venda da experiência. Como as empresas definem que experiência, que estilo de vida, seus produtos vendem? Uma grande solução é a participação e patrocínio de eventos públicos ligados às idéias que a empresa deseja que seus produtos estejam ligados, o chamado marketing de eventos. Assim, a empresa estabelece relacionamentos duráveis com comunidades e grupos de interesse, posicionando a empresa como parceira cultural ativa e como participante. A propaganda orienta os consumidores sobre quais compras despertarão a conotação e a experiência de vida adequadas. Os anunciantes enxergam as pessoas como consumidores de símbolos, em vez de simples produtos. A manufatura de bens e até mesmo a troca de informações já não são mais o foco do capitalismo avançado, mas sim a criação de elaboradas produções culturais.
9.3. Os Novos Porteiros A palavra “porteiros” refere-se aos indivíduos e instituições que determinam as regras para se admitir e controlam quem pode e quem não pode ter acesso a uma sociedade baseada em rede. Os porteiros controlam tanto o acesso à cultura popular quanto o espaço físico e redes do ciberespaço. As relações de acesso tornam-se, por sua vez, distintas das relações de propriedade. Na Era do Acesso, a distinção passa a ser sobre quem tem e quem não tem acesso, ter ou não ter propriedade já não tem significado. Agora o abismo não é mais entre ricos e pobres, mas sim entre quem tem e quem não tem acesso.
Um excelente exemplo de porteiros são os provedores de internet. Os usuários fazem a assinatura com o provedor para ter acesso a internet. Para se localizar um site na internet os usuários usam serviços online de busca. Para as grandes empresas de mídia, os usuários de provedores de acesso e mecanismos de busca são um público em potencial para anúncios nos sites de entrada, assim que conectados a eles. Conforme a sociedade vai adentrando a Era do Acesso, o estudo do controle de entrada está se fortalecendo e se espalhando pelas disciplinas acadêmicas. a função de controle de quem tem o acesso é algo tão importantes quanto “a mão invisível do mercado” foi para a compreensão das regras da troca de bens e propriedade.
9.4. Intermediários Culturais Se na Era Industrial a classe burguesa era quem ditava os valores e normas da sociedade, na Era do Acesso começa a nascer uma nova elite que já está exercendo vasta influencia cultural e social. O poder dessa nova classe está em seus ativos intangíveis, ou seja, seu conhecimento, criatividade, sensibilidade artística, habilidades como empresários, sua experiência profissional e o talento para o marketing. A nova classe dominante tem sofrido grandes críticas de artistas, intelectuais e acadêmicos, que defendem uma esfera cultural semi independente, e não uma cultura ditada.
A preocupação desses críticos é a expropriação da cultura como um todo visando ganhos comerciais. O comércio mundial de bens culturais de todos os tipos está crescendo enormemente, impulsionado pelo comércio eletrônico. Com isso, há uma tendência de homogeneização da cultura global. Um indicador disso é que 20% das pessoas no mundo todo já falam o idioma inglês, afinal, grande parte dos filmes no mundo todo são nesse idioma, e sem contar que o inglês é a língua oficial do ciberespaço.
Assim como a economia está passando da propriedade para o acesso, a luta geopolítica também muda seu foco. Se na Era Industrial a luta focava a questão do controle colonial sobre recursos naturais e mão-de-obra disponível, na Era do Acesso, o foco da luta é a questão do acesso à cultura local e global e aos canais de comunicação que transmitem cultura na forma de commodities.
10. Capítulo 10
10.1. Uma Fase Pós-Moderna Assim como a sociedade e a economia estão mudando, o ser humano também acompanha essa transição. O novo ser humano vive confortavelmente boa parte de sua vida em mundos virtuais do ciberespaço, habituado com os trabalhos da economia de rede, menos ligado a bens materiais e mais interessado em ter experiências divertidas e emocionantes. Bem diferentes de seus antepassados da Era Industrial.
Qual a grande diferença da Idade Pós-Moderna para a Idade Moderna? O que a torna tão diferente? A economia da Idade Pós-Moderna está baseada no capitalismo cultural, cultura e experiência vivida sendo transformada em commodity, enquanto a idade anterior era fundamentada na transformação de recursos naturais em commodities, na contratação de mão-de-obra, em bens manufaturados e na produção de serviços básicos.
10.2. Modernidade A Idade Moderna foi o período compreendido, aproximadamente, entre o Iluminismo europeu no século XVIII até o final da Segunda Guerra Mundial. Nessa época a fé foi substituída pela ideologia, e todos estavam convencidos de que a mente humana era capaz de processar a grande quantidade de conhecimentos disponíveis tem teorias que poderiam explicar a origem, o desenvolvimento e o funcionamento do mundo natural. Essas idéias com alto teor de confiança, reforçaram um sistema capitalista nascente, baseado na posse privada e na troca de propriedade e de capital no mercado.
Os modernistas introduziram a idéia de progresso. A inventividade e a vontade humanas, e não a intervenção divina, levariam a humanidade a um novo paraíso terrestre, um mundo utópico de abundância material. A ideologia modernista combinou com o conceito de relações de propriedade privada. Já que o mundo natural pode ser explorado, então aquele que pelo trabalho duro transformarem a natureza em artifício e commodities poderá recolher as recompensas. Se no mundo tudo fosse independente e delimitado e fácil de se definir como objetos distintos, então seria igualmente fácil designar tudo como propriedade.
10.3. Pós-Modernismo Em contraposição ao modernismo, o pós-modernismo possui idéias que defendem a reestruturação das relações humanas em torno dos princípios de acesso. O pós-modernismo começou a minar as idéias iluministas com o cientista alemão Werner Heisenberg, que introduziu o conceito de indeterminabilidade. O princípio da indeterminabilidade de Heisenberg diz que a noção de um observador distante registrando os segredos da natureza de forma objetiva é algo impossível. O fato de fazer observações leva o observador a participar diretamente com o objeto de sua investigação, provocando um desvio no resultado.
Distante ou não, todo ser humano é um jogador e um participante, sempre afetando e sendo afetado pelo mundo que tentamos controlar e influenciar. A nova Física diz que a matéria é uma forma de energia, e a energia é pura atividade, colocando abaixo a idéia de substâncias sólidas como estruturas estáticas de relações espaciais. Mesmo muitos seres humanos agindo como se o mundo fosse formado de sujeitos e objetos e de coisas sólidas e estáticas expropriáveis, as ciências físicas estabeleceram uma nova estrutura filosófica para se pensar a realidade.
Onde a ciência moderna procurava verdades definitivas e partículas fundamentais, a nova ciência procura possibilidades inesperadas e padrões emergentes. A cultura do pós-modernismo caminha em um ritmo alucinado, onde o passado não tem tanta importância quanto o presente. O que importa é o “agora”, e o que interessa é ser capaz de sentir e vivenciar o momento. Um mundo cheio de espetáculos, entretenimento e performances altamente desenvolvidos, realizados em palcos elaborados. O “princípio do prazer” impera.
Enquanto a Idade Moderna foi pontuada pela produtividade, a Idade Pós-Moderna é caracterizada pela diversão. Na Era do Acesso, executar ações e acumular propriedade se torna secundário a fazer scripts, contar histórias e representar fantasias.
10.4. Mudando as Formas de Consciência Foi no início da Era Moderna, com o surgimento da burguesia, que ocorreu a última grande mudança na consciência humana. A burguesia gradualmente abandonou a teologia pela ideologia e a salvação celestial pela utopia terrestre. Eles pregavam o evangelho do materialismo e exaltavam as virtudes da propriedade privada.
Os burgueses substituíram a virtude pelo caráter. O termo caráter passou a ser ligado a cidadania, trabalho árduo, , produtividade, determinação, integridade e maturidade. Ter bom caráter era o maior elogio que se podia fazer a um burguês, transmitia a noção de autocontrole e autodomínio. Embora a burguesia do século XIX tenha acumulado muita riqueza, eles defendiam uma vida que se opunha a se deleitar com o consumo pelo próprio bem deles.
Na década de 20, os Estados Unidos estavam abarrotados de bens de consumo e precisavam de um novo grupo social que fosse mais aberto ao consumismo, alguém menos sério, mais brincalhão e menos controlado. Embora a propriedade privada continuasse sendo o foco central, a sua importância mudou, refletindo a mudança da ênfase dos valores de produção para os valores de consumo.
10.5. A Personalidade Metamórfica Ao passo que a economia global muda a ênfase do consumo de bens e serviços para consumir cultura e experiência vivida, a natureza humana também muda. Os seres humanos da Era do Acesso estão vindo ao mundo diferentemente de seus pais. As gerações passadas pensavam em si como pessoas de “bom caráter” ou de “forte personalidade”, porém,a nova geração começa a pensar em si como “atores mais criativos” movendo-se facilmente entre scripts e cenários enquanto representam os diversos dramas que formam o mercado cultural.
No século XIX era comum pensar na vida de uma pessoa como um produto cujo valor aumenta ao passar do tempo. No século XX, as pessoas passaram a se considerar mais como trabalhos em processo. O conceito de “existir” cedeu lugar ao conceito de “tornar-se” no novo mundo dinamizado. Os burgueses da Era Moderna se viam como participantes no desenrolar de um enorme drama histórico cujo resultado seria uma utopia material.
Já em meados do século XX, as pessoas pensavam menos em termos de seu lugar na história e mais em termos de fazer sua própria história pessoal. Nasce assim as bases da personalidade de um novo ser humano, o ser humano pós-moderno.
10.6. Reprogramando a Mente A mudança nas tecnologias de comunicação, desde a imprensa até o computador, foi um fator de grande influência nas mudanças ocorridas na consciência humana. As grandes mudanças na consciência humana sempre acompanharam mudanças nas formas de comunicação. A imprensa substituiu a memória humana com tabelas de conteúdos, paginação, índice e notas de rodapé, livrando a mente humana de ter que lembrar continuamente o passado para fixar-se no presente e no futuro. A imprensa também criou descrições mais precisas do mundo, utilizando novos conceitos como quadros, listas, gráficos e outros recursos visuais. A impressão ajudou a estimular o desenvolvimento do nacionalismo e deu o impulso para a criação de estados-nações. A união de um povo pela mesma língua criou um foco mais amplo para a identidade coletiva.
Atualmente, o computador está revolucionando as comunicações de um modo que o torna uma ferramenta ideal para gerenciar uma economia construída em torno de relações de acesso e do marketing de recursos culturais. A comunicação eletrônica organiza o conhecimento de um modo diferente do qual a impressão o faz. Livros impressos possuem um começo e um fim, enquanto hipertextos possuem apenas um ponto de partida do qual os usuários fazem ligações entre materiais relacionados. O hipertexto anula a idéia tradicional de autoria. Por ser baseado na inclusividade e na conectividade em vez da exclusividade e autonomia, como os livros impressos, não existem limites claros que separem a contribuição de cada pessoa.
Pessoas recortam, recombinam, editam e puxam materiais que foram acessados de inúmeras outras fontes e meios e combinam com o seu material. Do mesmo modo que a impressão ajudou a despertar a noção de autônomo, o computador ajuda a estimular a criação de um novo tipo de consciência relacional. A geração que cresce usando hipertexto e ligada a múltiplas redes, provavelmente será cada vez mais predisposta para um mundo comercial familiarizado com a conectividade e relações de acesso.
10.7. Os Novos Atores de Téspis A mudança a longo prazo do self (termo usado por Freud para indicar o ser humano em sua totalidade: corpo, instintos, os processos conscientes e inconscientes) de um ser autônomo para uma história pessoal relacional e em permanente mudança está apenas no início. A noção mais antiga de um self autônomo se encaixava em um mundo de fronteiras onde os indivíduos eram separados por enormes distâncias e viviam em relativo isolamento. Esse self burguês autônomo, delimitado é a melhor forma de consciência para vivenciar um mundo de vastas extensões e recursos naturais intocados
Já a atual geração é mais ligada ao tempo que ao espaço, geração essa que vive em um mundo completamente diferente, formado por redes, onde a tecnologia encurtou as distâncias e a fronteira entre meu e seu é algo que começa a se tornar obsoleto. No mundo atual, captar e manter a atenção de alguém torna-se fundamental, e relacionamentos de todos os tipos tornam-se o centro de nossa existência. A ultrapassada idéia de autonomia pessoal sai de cena, e em seu lugar surge a nova idéia de relacionamentos múltiplos, desgastando ainda mais a noção de fronteiras distintas separando o meu e o seu.
Assim como seus pais e avós burgueses buscaram continuamente novas aquisições, o novo ser humano pós-moderno busca constantemente novas experiências vividas. Analogamente, assim como as indústrias de manufatura forneceram um vasto número de produtos para comprar, as novas indústrias culturais estão criando um número quase infinito de scripts para se representar as experiências de vida.
Téspis de Ática
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(Redirecionado de Téspis (actor))
Ator grego do começo do século V a.C., trazido de Icárias onde teria nascido, pelo Tirano de Atenas Pisístrato, um amante da arte de imitar. É conhecido como o primeiro atorPB ou actorPE do mundo ocidental[1], e também como o primeiro produtor teatral.
Quase nada se sabe da vida de Téspis, apenas que teria começado a representar em um Coro, chegando a ser líder de um deles (possivelmente por ser chefe de uma aldeia). Viajou pela Grécia, sozinho ou com o seu Coro, numa carroça que mais tarde ficaria conhecida como "carro de Téspis" que lhe servia de transporte e de palco para as suas representações.
10.8. O Mundo É um Palco A transformação dos seres humanos de trabalhadores produtivos e consumidores informados a atores criativos representa uma grande mudança nas relações sociais humanas. Mas isso não quer dizer que a teatralidade passou despercebida como uma metáfora definidora para a vida no passado. Quando homens e mulheres primitivos pintavam seus rostos, enfeitavam seus corpos com plumas e peles de animais, realizando rituais, danças coreografadas, eles estavam teatralizando a vida. Os jovens que cresceram em frente às telas e dentro de mundos virtuais, sua natureza metamórfica e sua consciência teatral lhes servem bem para os vários papéis desafiadores que representarão nessa nova era eletrônica. O único vestígio de propriedade pessoal que provavelmente se manterá serão os suportes que fornecem contexto para as representações que são realizadas. Para o ser humano ator dessa nova era, comprar o acesso contínuo a scripts, palcos, outros atores e públicos oferecidos pela esfera comercial será fundamental para alimentar suas múltiplas personas.
11. Capítulo 11
11.1. O Conectado e o Desconectado A questão do acesso provavelmente terá a mesma importância no século XXI quanto as questões relativas aos direitos de propriedade em toda a Era Moderna. Isso porque o acesso é um fenômeno potencialmente mais abrangente. O acesso a todos esses avanços tecnológicos hoje exerce um controle sem precedentes no modo como as pessoas se comunicam.
11.2. Os Novos Magnatas Corporativos Empresas dos Estados Unidos são as líderes do mundo e estabeleceram as regras fundamentais para a disputa global no controle das comunicações e dos recursos culturais transformados em commodity. Essas empresas gigantes estão envolvida em uma grande luta para controlar os canais de comunicação e recursos culturais que, juntos, formarão boa parte da esfera comercial no século XXI.
Um marco na transformação para o capitalismo cultural foi a aprovação da Lei de Telecomunicações, em 1996. Essa lei abriu o campo da mídia a novos concorrentes, incluindo grandes empresas telefônicas regionais e as empresas a cabo, o que permitiu que as empresas telefônicas, os estúdios de Hollywood, empresas de televisão, empresas a cabo e empresas de software formassem alianças estratégicas entrando em mega fusões para controlar o mercado de comunicações o máximo que puderem. As empresas de telecomunicações estão focando grande partes de sua atenção para assegurar portais para a internet e para o ciberespaço, afim de controlar os mundos eletrônicos em que centenas de milhões de pessoas passam grande parte de seu tempo. A meta é controlar a voz digital, dados e transmissões de vídeo e produtos em toda região e mercado do mundo.
11.3. O Fim do Estado-Nação A comercialização e a desregulamentação das telecomunicações e dos sistemas de radiodifusão estão destituindo os estados-nações de sua capacidade de supervisionar e controlar as comunicações dentro de seus territórios. As redes privadas de comunicação estão construindo novas comunidades de interesses que, cada vez mais, têm menos vínculos com os espaços geográficos. Fronteiras políticas estão sendo transpostas e mudando o caráter da vida política no planeta.
Os mais liberais dizem que a desregulamentação das telecomunicações, da radiodifusão e de outros serviços de mídia é a melhor forma de reduzir barreiras para ingressar em mercados e estimular inovações. Segundo eles, um grande desafio para o governo é criar incentivos a essa transformação, criar circunstâncias sob as quais os novos concorrentes e novas tecnologias desafiarão os monopólios naturais do passado. Outros dizem que tais medidas apenas incentivariam uma nova forma de colonialismo, empobrecendo ainda mais os países desfavorecidos.
O espectro eletromagnético é toda a gama de freqüências de rádio na atmosfera do planeta, que é usada para transmissões de rádio, TV e outras mídias. Em cada país o espectro é tratado como um “bem comum” controlado e administrado pelo governo em benefício de todos os cidadãos. O governo dos Estados Unidos foi um dos primeiros a assumir a posse do espectro. Atualmente, o Congresso dos Estados Unidos já marcou alguma audiências para propostas de venda, e para os especialistas da área é só uma questão de tempo para que o espectro seja transferido para o patrimônio eletrônico privado.
O fim do Estado-Nação fica cada vez mais evidente nas questões de comércio. Convenções internacionais como o NAFTA e o GATT impediram o governo de exercer o seu direito de impor restrições domésticas a coisas como práticas de trabalho injustas ou violações flagrantes ao ambiente, se estas interferem no livre comércio global. O declínio fica ainda mais evidente quando fala-se em cobrança de impostos. Com uma quantidade cada vez maior de negócios pessoais e comerciais sendo conduzidos no ciberespaço, fica mais difícil avaliar e recolher impostos. Agora que a vida social e econômica está deixando o espaço geográfico, os governos ainda importam? Visto que enquanto a atividade humana era fundada no espaço geográfico, os governos faziam sentido. Logo, a política deixa de ser um princípio organizador da sociedade para tornar-se algo artificial, inadequado à resolução dos problemas práticos do mundo.
11.4. Vivendo Fora dos Portões Eletrônicos Embora a discussão até esse ponto esteja sendo sobre uma nova ordem social e econômica, resultante da progressiva dominação do mundo por parte de vastas redes de interesses compartilhados, temos que lembrar que a maior parte da população do planeta está às margens dessa revolução. Pessoas para as quais a vida é de labuta, composta de esforços para garantir uma existência. Enquanto um quinto da população mundial está deixando a propriedade para trás em busca de experiências culturais e de transformação pessoal, os outros quatro quintos restantes ainda desejam obter propriedade. Os desprivilegiados e sem posses estão se tornando os desconectados na Era do Acesso.
11.5. A Direita e a Esquerda do Acesso As questões de acesso não são recentes na área de comunicações. Questões sobre o acesso foram levantadas quando o telefone foi introduzido pela primeira vez, e mais tarde, quando o rádio e a televisão surgiram. Logo apareceram leis que tratavam do acesso e disseminação desses meios de comunicação. Hoje, a questão tornou-se muito mais significativa. O foco da questão não é mais o acesso aos meios em si, mas o acesso à cultura através dos meios de comunicação. A problemática do acesso, então, se torna uma das considerações mais importantes da nova era que surge.
12. Capítulo 12
12.1. Rumo a uma Ecologia da Cultura e do Capitalismo A Era do Acesso mudou não apenas a economia ou a sociedade, mas também mudou a concepção do que significa ser um ser humano. Até o presente momento, as questões econômicas e jurídicas foram sempre o foco principal da discussão da estruturação de relacionamentos humanos. Agora, definir a natureza sociológica e a importância política das relações de acesso continua sendo uma tarefa incompleta.
12.2. A Nova Teoria dos Direitos A mudança da posse para o acesso está fazendo surgir novas teorias sobre as relações de propriedade. Um número cada vez maior de intelectuais está examinando de uma maneira diferente a natureza e a filosofia das relações de propriedade, afim de reconfigurar seus pressupostos à nova realidade de uma economia de rede e de um mundo conectado. Segundo o professor Crawfor MacPherson, da Universidade de Toronto, a primeira característica da propriedade moderna é o direito de excluir os outros. Com essa idéia a sociedade deixa de lado a propriedade pública (parques, ruas da cidades, terras comuns). Vale lembrar que todos têm o direito legal de não ser excluído do uso ou benefício dessas formas de propriedade pública.
Tanto a propriedade privada quanto a pública, formam um amplo domínio dos direitos de propriedade individuais de todo ser humano na sociedade: a propriedade privada garante a cada pessoa o direito de excluir os outros do uso ou benefício de algo, já a propriedade pública garante a cada pessoa o direito de não ser excluído do uso ou benefício de algo. O direito de não ser excluído torna-se mais importante em um mundo cada vez mais formado de redes sociais e comerciais mediadas eletronicamente. À medida que a maioria das comunicações entre pessoas, assim como a da experiência vivida, ocorre nos mundos virtuais do ciberespaço, as questões de acesso se tornarão fundamentais e o direito de não ser excluído se tornará essencial.
12.3. Dois Tipos de Acesso Nossa vida comum está sendo inevitavelmente sugada pela vida comercial, o que irá gerar profundas conseqüências a longo prazo para o futuro da civilização humana. Estamos nos esquecendo que muitas coisas que agora acessamos com nossas compras eram bens culturais disponíveis gratuitamente., estamos começando a comprar nossas próprias experiências vividas justamente com adornos e acessórios que as acompanham. Há um grande equívoco nessa nova era: a crença de que os relacionamentos dirigidos comercialmente e as redes mediadas eletronicamente podem substituir os relacionamentos e as comunidades tradicionais. Esta é uma idéia errônea pois as duas formas de organizar a atividade humana são oriundas de conjuntos bem diferentes de pressupostos e valores, o que as torna incompatíveis.
Os relacionamentos tradicionais nascem de coisas como parentesco, etnia, geografia e visões espirituais em comum. Já os relacionamentos transformados em commodity são de natureza instrumental, a única coisa que os une é o preço de transação. A diferenciação mais importante a ser feita é entre contratos sociais e os comerciais. Os contratos sociais possuem uma duração mais longa, são embasados por uma noção de dívida aos antepassados, a gerações não-nascidas e à terra e suas criaturas. Em contraposição, os contratos comerciais em geral são de curta duração, não estão ligados por história alguma, mas sim pela execução e resultados. Instituições culturais de uma sociedade como igrejas, associações cívicas, organizações beneficentes, clubes esportivos, entre outros, são a origem da confiança social., e sua existência tornam os mercados possíveis.
Em sociedades em que o terceiro setor é forte os mercados capitalistas prosperam. As organizações do terceiro setor são as instituições responsáveis pela preservação e melhoria de todas as dimensões culturais locais. É no terceiro setor onde as pessoas relaxam e se divertem, buscam companhia, fazem amizades e vivem os prazeres da vida e da natureza, no terceiro setor as pessoas criam e praticam os valores compartilhados pelos quais escolheram viver.
Se o capitalismo continuar sua marcha rumo à absorção de grandes partes do âmbito cultural em sua esfera, há um risco bastante plausível de a cultura atrofiar a ponto de não poder mais produzir capital social suficiente. O capital social é algo vital para as operações comerciais, portanto, ao se abalar dessa forma a produção de capital social o comércio será arrasado. A empatia é um sentimento pelo qual a confiança social é construída. Muitos psicólogos e sociólogos estão preocupados com a geração, que está crescendo em mundos simulados e se habituando com a idéia de comprar acesso a commodities culturais e a experiências vividas. Isso pode gerar uma falta de experiência emocional suficiente para se sentir empatia. Uma geração que não é capaz de sentir algo pelos outros é incapaz de criar confiança social, que é vital para manter a cultura.
12.4. Ressuscitando a Cultura Assim como a produção industrial depende de matéria-prima vinda da natureza, a produção cultural depende dos recursos da esfera cultural, o que não exclui nenhuma das duas de ser extrativa. A diversidade cultural é semelhante a biodiversidade, se toda a diversidade cultural das experiências humanas em todos o mundo for explorada para ganhos a curto prazo na esfera comercial e não puder ser reposta, a economia perderá o grande conjunto de experiências humanas que são matéria-prima da produção cultural.
Assim como a biodiversidade, a diversidade cultural também pode ser usufruída até sua exaustão.
A nova onda da world music é um bom exemplo para ilustrar essa extração. Constantemente a world music combina musica nativa com outras músicas mais contemporâneas, criando a chamada “mixagem”. Em seu disfarce nativo, boa parte dessa música representa um capital cultural. A música nativa muitas vezes expressa o sofrimento, as circunstâncias de um povo, sua ânsia espiritual e suas aspirações políticas. Ao se apossar, empacotar, e transformada em commodity e ser vendida como world music, a mensagem central da música muitas vezes é diluída ou ainda perdida de vez.
A cultura precisa ser restaurada não pura e simplesmente porque produz os recursos brutos para a produção cultural ou ainda porque gera a confiança social e a empatia, sem a qual os mercados não poderiam funcionar. A cultura deve ser restaurada pelo seu próprio benefício e em seus próprios termos pois só ela é a fonte de valores humanos.
12.5. A Nova Missão para a Educação Em muitas escolas já existe a preocupação de como preparar os estudantes para uma economia de rede e para os paradigmas virtuais do ciberespaço, mas isto implica em sacrificar sua participação na cultura mais ampla. Salas de aula em diversos países estão sendo conectadas a internet, equipadas com computadores, afim de preparar os jovens com as habilidades de que eles necessitarão para acessar domínios eletrônicos.
Muitos pais e educadores estão se preocupando com o fato de que as experiências de vida ocorrem cada vez mais na frente de monitores ou dentro de mundos virtuais, assim, isto poderá contribuir para que os jovens não desenvolvam habilidades sociais adequadas para atuar como seres humanos na sociedade. Segundo professores da educação cívica, desenvolver as habilidades que sejam usadas no mercado dentro das escolas é colocar a carroça na frente dos bois, eles defendem que a educação deve cultivar a confiança social e a empatia e promover a intimidade com os outros e também conscientizar os estudantes do papel fundamental que a cultura desempenha na manutenção da vida e da civilização.
12.6. Politizando o Terceiro Setor As instituições culturais acabaram se tornando dependentes das instituições políticas e comerciais para seu próprio sustento. Essa dependência se apresenta de diversas formas, desde a extensão dos contratos e concessões do governo em troca da execução de serviços até a filantropia corporativa, muitas vezes ofertada afim de receber algum benefício como retorno. A cultura, ou o terceiro setor, com algumas exceções é deixada para um segundo plano, onde desempenha no máximo um papel periférico nas decisões que afetam a vida da comunidade.
Isso está prestes a mudar, visto que os governos estão desempenhando um papel menor na administração dos negócios diários das comunidade locais e concomitantemente as empresas estão se tornando menos locais e mais globais em suas atividades, incentivadas pelo ciberespaço, que as permite afrouxar seus vínculos com os espaços geográficos. Movimentos fundamentalistas estão sempre ligados à idéia de espaço geográfico, de defender o território ancestral, a Terra Santa, o que une as pessoas em lutas de vida ou morte. O fundamentalismo é a força que representa a maior reação a um mundo sem fronteiras composto pelas redes globais e pelo fluxo de comunicação. As idéias dos movimentos fundamentalistas colocam-nos em desacordo com a maioria das organizações societárias civis, que também são favoráveis à restauração da cultura local, mas respeitam os direitos das outras culturas de existir. Assegurar o acesso aberto a outras culturas enquanto se preservam os aspectos e qualidades únicos da própria cultura é o que diferencia as organizações societárias civis dos movimentos fundamentalistas.
12.7. A Dialética de um Ethos do Lazer Na transição do capitalismo industrial para o capitalismo cultural, o ethos do trabalho está saindo de cena, cedendo espaço, aos poucos, ao ethos do lazer. Quando as pessoas se divertem, elas criam cultura. O lazer é uma categoria fundamental do comportamento humano, sem o qual a civilização não existiria. Durante a Idade Moderna o trabalho tornou-se prioridade na atividade humana, deixando o lazer como uma atividade marginal, que mal cabia entre o trabalho e o sono. Ao passo que o mercado ganhou espaço em relação a troca social e o capital de mercado passou a ser o foco principal das atividades humanas, a lazer foi banalizado em atividades nas horas de folga.
Na economia atual, o lazer está tornando-se tão importante quanto o trabalho foi para a economia industrial. Por ser comprado, o lazer como conhecemos hoje não é uma experiência social, e sim contratual. A expropriação do lazer pelas forças de mercado ameaça toda a desvalorização do significado do lazer e ainda uma perda da esfera cultural que surge do lazer e é nutrida por ele.
*Aluno de graduação de Direito da UFSC.
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