sábado, 31 de maio de 2025

Porque é necessária uma AUDITORIA da Dívida Pública? Por que não se audita a dívida?

 




A auditoria da dívida pública é prevista no Artigo 26 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) da Constituição Federal de 1988.

Este artigo estabelece que, no prazo de um ano a partir da promulgação da Constituição, o Congresso Nacional deveria proceder à auditoria de todos os contratos de dívida pública, a fim de apurar irregularidades.

É importante notar que, apesar da previsão constitucional, a efetivação de uma auditoria completa e abrangente da dívida tem sido um tema de constante debate e reivindicação por parte de movimentos sociais e entidades civis, como a Auditoria Cidadã da Dívida.

São quase 40 anos que esperamos que - conforme exigido na Constituição de 1988 - nos provem como e porque devemos tanto. Que nos demonstrem que não houve CORRUPÇÃO na contratação e renegociação desta divida que CONSOME QUASE 50% de NOSSOS IMPOSTOS (que tanta falta fazem para atender os Direitos da MAIORIA da População)


✅Questões Chave para uma Auditoria da Dívida Pública

Uma auditoria da dívida pública é um processo fundamental para garantir a transparência, a legitimidade e a sustentabilidade da gestão fiscal de um país. Para ser completa e eficaz, essa auditoria deve buscar responder a uma série de questões cruciais. Aqui estão as principais:

1. Legalidade e Legitimidade da Dívida

  • A dívida foi contraída em conformidade com a legislação vigente? Isso inclui a Lei de Responsabilidade Fiscal, leis orçamentárias e outras normativas aplicáveis.
  • As operações de crédito foram devidamente autorizadas pelo Legislativo?
  • Houve desvio de finalidade na utilização dos recursos? Ou seja, o dinheiro foi usado para os fins para os quais foi originalmente destinado?
  • Existem indícios de irregularidades ou ilegalidades nas operações de dívida, como corrupção, fraudes ou manipulação de informações?
  • Quais foram as condições dos empréstimos (taxas de juros, prazos, garantias)? Elas eram as mais vantajosas para o Estado no momento da contratação?

2. Transparência e Governança

  • As informações sobre a dívida pública são completas, precisas e de fácil acesso ao público?
  • Qual a qualidade dos sistemas de registro e controle da dívida? Eles são robustos e confiáveis?
  • Há clareza nos fluxos de decisão e nas responsabilidades pela gestão da dívida?
  • As projeções e relatórios sobre a dívida são realistas e baseados em premissas sólidas?

3. Impacto Socioeconômico e Sustentabilidade

  • A dívida pública é sustentável no longo prazo, considerando a capacidade de pagamento do Estado e a saúde fiscal do país?
  • Qual o impacto da dívida no orçamento público, especialmente em relação a gastos sociais e investimentos?
  • Como a dívida afeta a distribuição de renda e a desigualdade social?
  • Existem riscos fiscais não explicitados que possam comprometer a capacidade de pagamento da dívida no futuro?
  • A dívida está sendo usada para financiar projetos que geram valor para a sociedade e promovem o desenvolvimento econômico, ou para cobrir despesas correntes de forma insustentável?

4. Condições e Agentes da Dívida

  • Quem são os principais credores da dívida (instituições financeiras, organismos internacionais, investidores privados, etc.)?
  • Quais os termos e condições contratuais de cada dívida (taxas de juros, prazos, cláusulas de renegociação)?
  • Existem cláusulas contratuais que impõem condicionalidades ou restrições à soberania do país?
  • Houve renegociações ou repactuações da dívida? Se sim, quais foram as condições e os impactos dessas operações?

Ao responder a essas questões, uma auditoria da dívida pública pode fornecer um diagnóstico claro sobre a situação fiscal de um país, identificar possíveis problemas e recomendar medidas para aprimorar a gestão da dívida, garantir a responsabilidade fiscal e proteger o interesse público.


✅Qual o resultado da auditoria da dívida pública do Equador?

O Equador realizou uma auditoria significativa da sua dívida pública entre 2007 e 2008, durante o governo de Rafael Correa. Essa auditoria foi um marco e teve resultados importantes:

Principais Conclusões e Resultados da Auditoria:

Identificação de Ilegalidades e Ilegitimidades: A auditoria revelou uma série de irregularidades, ilegalidades e ilegitimidades em grande parte da dívida externa do país. Foram apontadas cláusulas abusivas, violações de estatutos de instituições financeiras internacionais (como FMI e Banco Mundial), relações assimétricas entre as partes contratantes e até casos de usura e anatocismo (cobrança de juros sobre juros).

  • Calote Seletivo e Renegociação: Com base nos achados da auditoria, o governo equatoriano declarou um calote seletivo de parte de sua dívida externa em 2008, classificando-a como "ilegal e ilegítima". Isso levou a uma renegociação da dívida, resultando em uma redução significativa do seu valor.
  • Economia de Recursos: A renegociação da dívida gerou uma economia substancial de recursos para o Equador. Estima-se que o país economizou bilhões de dólares em pagamentos de juros e amortizações.
  • Aumento dos Investimentos Sociais: Um dos impactos mais notáveis da auditoria e da renegociação da dívida foi a realocação desses recursos para investimentos sociais. O Equador triplicou seus investimentos em áreas como infraestrutura, educação e saúde. Em 2006, para cada dólar investido na área social, o país destinava US$ 1,8 para o pagamento da dívida; em 2011, esse valor foi reduzido para 33 centavos de dólar.
  • Fortalecimento da Soberania: A auditoria e a subsequente ação do governo foram vistas como um ato de soberania, desafiando a dependência de instituições financeiras internacionais e priorizando as necessidades da população.
  • Constituição de 2008: A nova Constituição equatoriana, aprovada em 2008, incorporou os aprendizados da auditoria, estabelecendo prioridades para o orçamento, como destinar 25% do orçamento para saúde, educação e setores sociais.

A experiência do Equador com a auditoria da dívida pública se tornou um exemplo e uma inspiração para outros países e movimentos sociais que buscam questionar e auditar suas próprias dívidas, visando maior transparência e destinação de recursos para o desenvolvimento social.


❓Por que não se audita a divida publica?

A falta de auditoria da dívida pública é complexa e multifacetada, envolvendo questões políticas, econômicas e de poder. A principal razão é a resistência de governos e instituições financeiras, que temem que uma auditoria revele inconsistências e irregularidades na formação e gestão da dívida, o que poderia comprometer seus interesses. 

Argumentos a favor da auditoria:
  • Transparência e controle: A auditoria garante a transparência na formação e gestão da dívida, permitindo que a população e as instituições de controle fiscal possam verificar a legitimidade e a legalidade dos contratos e obrigações financeiras do Estado. 
  • Identificação de dívidas ilegítimas: A auditoria pode identificar dívidas que não foram contraídas de forma transparente ou que não têm uma contrapartida em investimentos públicos, permitindo que o país se livre de obrigações financeiras prejudiciais. 
  • Reorientação de recursos: Os recursos que seriam destinados ao pagamento da dívida poderiam ser investidos em áreas como saúde, educação e infraestrutura, gerando benefícios sociais e econômicos para a população. 
  • Desmistificação do problema: A auditoria pode ajudar a esclarecer o problema da dívida pública e seus impactos, combatendo a desinformação e a manipulação que a dificultam. 

Argumentos contra a auditoria:
  • Riscos para a confiança dos investidores: A auditoria pode gerar insegurança para os investidores, que podem interpretar a investigação como um sinal de instabilidade financeira e risco de calote. 
  • Impacto nas taxas de juros: A auditoria pode levar a um aumento nas taxas de juros, pois os investidores podem exigir maiores juros para compensar o risco de calote. 
  • Dificuldade em encontrar consenso: A auditoria pode ser controversa, pois diferentes grupos de interesse podem ter opiniões divergentes sobre a necessidade e a forma de realizar a investigação. 
  • Dificuldade em identificar dívidas ilegítimas: Nem sempre é fácil determinar se uma dívida é ilegítima, pois o processo de tomada de decisão sobre a criação de dívidas pode ser complexo e envolver diferentes atores. 

Conclusão:

A auditoria da dívida pública é uma questão crucial para a transparência, o controle e o desenvolvimento socioeconômico de um país. Apesar dos argumentos contra, a necessidade de uma auditoria é cada vez mais evidente, especialmente em países com dívidas elevadas e complexas, como o Brasil. A falta de auditoria pode perpetuar um sistema financeiro que não beneficia a população e que impede o país de alcançar seu potencial de desenvolvimento. 


😕A então presidente Dilma Rousseff vetou, em janeiro de 2016, um artigo do Plano Plurianual (PPA 2016-2019) que previa a realização de uma auditoria da dívida pública com participação da sociedade civil.

As principais justificativas apresentadas pelo governo para o veto foram:
  • Conflito de competência e pacto federativo: A justificativa oficial apontava que a auditoria poderia gerar conflitos com o pacto federativo, uma vez que também atingiria as dívidas de estados e municípios.
  • Transparência existente: O governo argumentava que a gestão da dívida pública já era realizada de maneira transparente pela Secretaria do Tesouro Nacional e pelo Banco Central.

No entanto, a decisão gerou forte reação de entidades como a Auditoria Cidadã da Dívida (ACD), que defendia a auditoria para:

  • Corrigir distorções orçamentárias: A ACD argumentava que mais de 45% do orçamento anual estava comprometido com o pagamento de juros e amortizações da dívida, impedindo investimentos em áreas essenciais como saúde, educação e infraestrutura.
  • Falta de transparência: A ACD questionava a transparência sobre diversos aspectos do endividamento, incluindo a identidade dos beneficiários da dívida, que eram considerados sigilosos pelo governo.
  • Indícios de ilegalidade: A ACD apontava a existência de "indícios de ilicitude" na formação da dívida pública brasileira.

A Constituição Federal prevê a realização de uma auditoria da dívida pública por meio de uma Comissão Mista de deputados e senadores, mas a iniciativa da sociedade civil buscava uma fiscalização mais abrangente e independente. A organização Auditoria Cidadã da Dívida mobilizou-se para tentar derrubar o veto no Congresso Nacional, sem sucesso.


Análise Preliminar nº 6 – Dívida Interna Brasileira (Análise elaborada para prestar assessoria à CPI da Dívida Pública instalada na Câmara dos Deputados 2009/2010) - 26 de março, 2010

https://auditoriacidada.org.br/conteudo/analise-preliminar-no-6-divida-interna-brasileira-analise-elaborada-para-prestar-assessoria-a-cpi-da-divida-publica-instalada-na-camara-dos-deputados-2009-2010/



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